O Objetivo do Blog

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Etnocentrismo, estereótipos, estigmas, preconceito e discriminação

  Todo mundo já foi rotulado de alguma coisa na vida, não é? Isso é comum, mas não se pode permitir que um estereótipo defina quem você é, a sua essência. Todos têm muitas qualidades e defeitos, que são únicos e, por isso, torna-os tão especiais.

  O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal” os comportamentos, as opções e as formas de ver o mundo dos outros, desqualificando-os, tratando-os com indiferença, desrespeitando-os, e até negando seus direitos e sua humanidade. O etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo, que consiste na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes, negativo) a algumas características de uma pessoa ou de um grupo, reduzindo-os a essas características, tolhendo o seu direito de ser, agir e pensar, e muitas vezes, até definindo os lugares que podem frequentar e ocupar na sociedade.
     O etnocentrismo é uma generalização de julgamentos subjetivos feitos em relação a uma determinada pessoa ou grupo, impondo-lhe o lugar de inferior e de incapaz, no caso dos estereótipos negativos. No cotidiano, temos expressões que reforçam os estereótipos: “tudo farinha do mesmo saco”; “tal pai, tal filho”; “só podia ser mulher”; “nordestino é preguiçoso”; “serviço de preto”; “Que baianada”, “Coisa de bicha”, etc.
  A categoria do preconceito associada ao comportamento sexual chama-se homofobia. É uma manifestação mais ativa e severa desse preconceito. Pode ser definido como desprezo, medo, repulsa ou ódio generalizado aos que não são heterossexuais.  
  Incentivar o abandono dos rótulos é valorizar todas as qualidades extraordinárias que existem em cada um independente da cor, do sexo, da condição social ou, opção religiosa e sexual.  É respeitar os outros com as suas diferenças para que sejamos iguais em direitos. Somos todos diferentes. Assim, quando alguém usar qualquer estereótipo para classificar ou comparar uma pessoa com isso ou aquilo ela seja feliz o suficiente para não se achar vítima de preconceito; não se sentir rotulado; não aceitar o rótulo de diferente; não se sentir diminuído para não criar e alimentar nela uma mentalidade de vítima do destino.
     A mentalidade de vítima é um modelo auto-destrutivo que contribui para um estilo de pensamento negativo. A mentalidade de vítima faz com que a pessoa se sinta diferente; assuma, muitas vezes, que não pode e/ou não consegue fazer as mudanças na sua vida devido a sua condição ou comportamento; que não consiga o que deseja por causa da sua condição social, opção sexual, gênero, cor, etc. Colocar-se no lugar de vítima é aceitar o rótulo de diferente, e, culpar os outros da sua infelicidade. Isso ocorre muitas vezes, por que a opção, condição ou comportamento não está bem resolvido na própria pessoa por razões que não se podem definir sem uma boa análise. A pessoa assume a condição de vitima, de inferior na medida em que se coloca fora das coisas e culpa os outros pelas consequências. É como apelido, se a pessoa demonstra irritação, ele pega, ou ela aceita sem se incomodar; finge que nem ligou, ou se irrita, se ofende, assume o apelido ou o estereótipo, e muitas vezes se  afasta do grupo.
     Sofrer com algum estereótipo, na verdade é não se aceitar como é, e se ver de fato como diferente; é lamentar que a vida é injusta, que as pessoas são injustas, que vive sofrendo injúrias e preconceitos por ser de fato diferente. É permitir que ele se instale em você por carência ou desejo de chamar a atenção dos outros por questões emocional mal resolvidas.  A questão é simples, - se aceitar como é; não se envergonhar da condição social, cor ou comportamento sexual, se não quiser ser rotulado. As pessoas tendem a olhar como natural o que acontece de forma natural, sem muitos exageros e alarmes.  A pessoa que se coloca no lugar de vítima tem justificativas para não ser bem sucedido, -  a sorte nunca lhe bate à porta, prejudicando-o nas várias áreas da sua vida.  Mas, há aquelas que são bem sucedidas e lindas por dentro e por fora e mesmo assim se ofendem com os tais estereótipos e ainda se veem como vítimas de preconceito, do destino, e, saem gritando aos ventos as injustiças e injurias sofrida, simplesmente porque se veem como diferentes, não são bem resolvidas emocionalmente, e não se aceitam como são.  

                                                                        Maria Teixeira
                                         Psicopedagoga e especialista em linguagem 
                                         m.teixeira@uol.com.br

Livros da autora - www.clubedeautores.com.br
 . Limites - Como lidar com os pequenos?
. Habilidades de Relacionamento Interpessoal 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

A psicopedagogia na Inclusão escolar

       A inclusão escolar da criança com necessidades especiais ainda é uma barreira a ser vencida na escola. Inúmeros são os desafios e especulações a respeito da inclusão escolar de crianças com deficiências, por existirem complexas barreiras na organização educacional em nosso país e, por seguirem procedimentos equivocados e ineficientes.   
      Podemos entender como inclusão o acesso, ingresso e permanência de crianças com necessidades especiais em escolas regulares independente de serem públicas ou privadas. Além disso, têm incluído nessa condição crianças que não respondem às aprendizagens ou aos conteúdos programáticos. Dificuldade de aprendizagem  requer avaliação especializada, geralmente há necessidade do diagnóstico de uma psicopedagoga e fonoaudióloga para buscarem intervenções adequadas. Porém, na maioria das vezes essa criança recebe uma educação diferenciada por parte da família e da escola, o que pode  desencadear problemas emocionais em diversos níveis por permanecerem por longo período no lugar de quem "não pode". A condição de desacreditado pode gerar sérios comprometimentos cognitivos e emocionais desencadeando limitações motoras e dificuldade de socialização.
   Parece que não há ainda um lugar na escola regular nem para a criança com necessidades especiais, nem mesmo para a que se apresenta com dificuldades no seu processo de aprendizagem.  Nesse caso, a escola pode pensar na inclusão do psicopedagogo no seu time para intermediar as questões que fogem do pedagógico. Nesse caso, o papel da psicopedagoga na escola seria facilitar o processo de inclusão do aluno com necessidades especiais e, acompanhar aqueles cujas questões são apenas da ordem da linguagem. A dificuldade está em querer colocar todas as crianças no mesmo “pacote”. Esse procedimento é ineficaz na medida em que engessa o trabalho da escola e encharca o sistema de saúde com crianças sendo tratadas como “especiais” quando muitas vezes a questão é somente da ordem da linguagem.  
        O atendimento psicopedagógico entra como suporte transitório e circunstancial, por meio de interações com jogos, mobilização com atividades corporais, gráficas e, lúdicas são ferramentas que podem ajudar a vencer os desafios de forma lenta e gradual. Isso porque o trabalho de sensibilização e criatividade estimula à autoestima, o autoconhecimento, a superação de desafios, em busca do saber próprio tanto da criança que se apresenta com boa cognição como aquelas que necessitam de mais estímulos para desenvolver determinadas habilidades. Esse deve ser um processo lento, individual e gradativo. E é dessa forma que a criança vai entrar no grupo, - de forma lenta e gradual. Aos poucos ela sentirá parte do grupo e o grupo a acolherá como parte dele. Uma criança que se destaca  seja por apresentar necessidades especiais ou dificuldades de aprendizagem não pode cair simplesmente de “paraquedas”  dentro de  uma sala de aula.  Há necessidade de uma intervenção psicopedagógica e, na maioria das vezes,  também fonoaudiológica. 
        A intervenção psicopedagógica deve ser voltada às possibilidades do sujeito tornar-se conhecedor de si e de suas possibilidades e, ao mesmo tempo para a psicopedagoga conhecer a relação que este estabelece com o conhecimento, com o “outro”, bem como, a forma que articula o seu corpo, organismo, desejo  e, sua inteligência, buscando assim, a confiança em si e  espaço para as novas aprendizagens.  As estratégias psicopedagógicas podem ser organizadas previamente a partir da necessidade real de cada criança, tais como: adaptações motoras, atividades adequadas à modalidade de aprendizagem correspondente, vivências sensório-motoras, construções referentes ao campo conceitual e, orientações à família e a escola. Esta mediação viabiliza a interação e vínculo entre a psicopedagoga e a criança,  a professora e a criança, a criança e a família  e,  visará  reorganizar e refazer o saber da criança rumo à sua autonomia, socialização e realização pessoal dentro de suas reais necessidades.
         Maria Teixeira, pedagoga, psicopedagoga e especialista em linguagem
email:  m.teixeira@uol.com.br                                                                           www.psicopedagogamariateixeira.com.br
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quarta-feira, 16 de março de 2016

A criança e a timidez


     Timidez é um sentimento de inferioridade. A criança não nasceu tímida ou extrovertida. Ela aprendeu a ser assim. Trata-se de mais um comportamento pré-fabricado, dentre tantos que existem para rotular os sujeitos, lhes dar identidade. A timidez também se torna um identificador de sujeitos, é a mesma coisa que outros rótulos, tais como, medroso ou corajoso, culto, popular, extrovertido, etc.
Um indivíduo corajoso apenas repete os gestos superficiais que caracterizam aquilo que chamamos de coragem. Assim, coragem ou demonstração de bravura são simples roteiros que se seguidos à risca tornam qualquer um medroso ou corajoso, ou bondoso, não significando, entretanto, que internamente, dentro de si, aquele indivíduo seja qualquer uma dessas coisas.
 É como um ator a representar seu papel teatral daquele dia. Representando ou fingindo, ele é capaz de se tornar corajoso, ou extrovertido, ou covarde. Ele pode se tornar qualquer personagem sem, no entanto, ser nenhum deles de fato.
Para entender a timidez precisamos entender como se sente alguém tímido, que fatores externos e depois internos o levaram a interpretar na vida real esse papel tão ingrato. Mais importante, no entanto, é compreendermos porque existe este tipo de comportamento, esse modelo de personalidade que faz parte de um sujeito, que às vezes o domina, que o controla e dirige a sua vida, aparentemente, inerente à sua vontade.
A timidez pode se instalar no sujeito a partir de comparações com outra pessoa que é extrovertida ou, em algum momento de exposição excessiva por outra pessoa. Não é uma boa caractarística, pois, um tímido é alguém que sempre está em desvantagem, seja em relação a um, seja em relação a muitos. Ele se compara não porque o deseje, mas porque já foi comparado antes, e logo se sente inferior. Esse é um sentimento de inferioridade, de incapacidade. Geralmente, a sua auto-estima é baixa e, se sente "afetado" negativamente em público.
Podemos criar o tímido quando elogiamos qualidades no outro em relação a ele. Esse é diminuído perante aos colegas, ou aos seus irmãos, deixando claro que determinados comportamentos ou qualidades este não possui. Por exemplo, um certo padrão de beleza que todos desejam ter, que passa a valer como ingresso de aceitação social, como um salvo conduto para merecer a atenção de um grupo, como um ingresso para fazer parte desse grupo, cria ou acentua a sensação de insegurança, própria do tímido.
Por isso, o  trabalho em grupo é tão importante, sendo essencial, no entanto, que educadores e pais  criem na turma a ideia de igualdade e, para que logo isso seja identificado e trabalho na criança. Isso se consegue na delegação adequada das tarefas, onde, ninguém deverá receber méritos diferenciados, ou ser elogiado por alguma particularidade. Deve-se elogiar sim, não um autor, mas a qualidade do trabalho do grupo, destacando-se as qualidades de cada um, sem classificar como menos ou mais, mas como igualmente importantes quando postas em conjunto, como resultado final.
 Ao educador (pais e professores) resta o respeito à criança, só assim poderão ajudá-la a sair desse lugar de desvantangem.
Compreender a timidez é atuar na formação da psique da criança ou jovem, libertando-o desse lugar de inferiorizado. A sensação de insegurança é quase uma regra entre os mais novos, assim como não podemos menosprezar o medo que tenham, por exemplo, de falar em público. Se obrigado, sem estar preparado pode-se aumentar sua frustração e sensação de "pequenez", que por si mesmo já é grande. O tímido não precisa, portanto, de alguém para lhe lembrar daquilo que todos já sabem sobre ele.
O primeiro ponto a ser trabalhando é restaurar a segurança ou confiança perdida de uma criança ou jovem, primeiro começa pela compreensão dos pais e professores, de que aquele sentimento merece atenção e consideração. E apenas assim, ao ganhar o respeito do outro que se mostra solidário ela(e) se mostrará disposto (a)  a sair desse lugar desconfortável.
Compreender e trabalhar essa diferença individual na criança ou jovem é o primeiro passo para quem quer de fato ajudá-lo(a). Mas, para isso,  o outro precisará permitir, e este só lhe dará acesso, se confiar em suas intenções. Isso se comprova pelo comportamento, palavras e ações, e nunca com discursos por mais floridos que possam parecer. O tímido é mais observador que os demais, está sempre atento, afinal, escuta mais do que fala. O silêncio é um meio de se proteger dos ataques ou comentários que sempre acham que virão.  Aquele medo de não saber o que dizer. E finalmente, não se cura a timidez bem como, outros comportamentos diferentes com as comparações, isso apenas tende a agravar o quadro. Comparar um tímido a alguém de comportamento não retraído é o mesmo que fazê-lo sentir-se culpado pelo fato de ser daquele jeito, quando na verdade ele o aprendeu a ser e se vê em um lugar como se tivesse preso. Fizeram dele um tímido, sem direito à escolha.
O comportamento diferente, assim como, os nossos desejos e manias, medos e vaidades, sejam desagradáveis ou não, aprendemos sem o nosso consentimento, se depois os rejeitamos ou aprovamos isso é outra história.  Perceber, e aceitar ajuda já é um grande passo.
Timidez é um comportamento que deve ser trabalhado na infância quando a psique do sujeito está em formação, pois, um sujeito tímido desenvolve uma estrutura fragilizada, é um sujeito que sempre se sente em desvantagem em relação ao outro ou a um grupo, é alguém que se sente sempre inferior, incapaz, com baixa auto-estima, logo muitas vezes infeliz.
                                                            Maria Teixeira
                                       Psicopedagoga e especialista em Linguagem
m.teixeira@uol.com.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O primeiro dia de escola do meu filho...

   É chegada a hora da primeira separação. Sei como mãe e profissional da educação que sou a importância desse momento para a vida de uma criança e a angustia da mãe ao ter de se separar do seu pequeno, principalmente, quando essa criança é só um bebê.  
A angústia se dá porque a mãe sabe que é no primeiro dia de escola que realmente, começa-se o corte do cordão umbilical que a liga ao filho(a).  Quer dizer, se inicia de forma muito sutil, um processo extremamente importante e necessário na vida de qualquer mãe, pai e filho(a): o processo de desmame ou, o processo de dar ao filho(a) a liberdade para que ele(a) comece a andar com as próprias pernas, se apoiando em outra pessoa que não seja a mãe, o pai.
Parece meio exagerado falar disso, principalmente, quando a criança ainda pequenina está indo apenas para um berçário. Mas, é nesse momento, que simplesmente, inicia-se o processo de adaptação da criança à escola, pois, é a entrada para um lugar social, como é o caso da escola. A passagem do particular para o social pode causar algum desconforto.  Inicia-se, de fato, um caminho sem volta, a mãe sofre porque ela sabe disso. É o caminho por meio do qual o pequeno irá pouco a pouco, se distanciando da mãe para se tornar quem ele realmente é...pode-se dizer que é o “Estádio do Espelho”, segundo a psicanálise, Lacan, - momento em que a criança vê o seu corpo separado do da mãe e vai descobrindo aos poucos que ele e a mãe não são a mesma pessoa, que têm corpos separados e, que há outros lugares além do seu privativo.  
Esse momento causa dor a qualquer mãe, porém, apesar de toda dor que essa mudança vai causar, a mãe vai dar ao filho(a) as primeiras lições de liberdade e autonomia. E a partir de agora, cada conquista de liberdade que ele(a) obter, vai lhe proporcionar segurança para buscar o que ele(a) deseja. É o “vai filho, você pode!”. É tornar-se desnecessária...
Como esse é um momento de adaptação, a presença da mãe se faz importante para dizer ao filho(a) que poderá contar sempre com ela, que vai, mas, que volta... Essa é uma forma de dizer que ele(a) está autorizado a crescer, que aquilo é importante para que ele(a)  se desenvolva e para se tornar uma criança independente com maiores chances de se tornar um adulto seguro e feliz. Isso é criar independência na criança, tornando-se aos poucos desnecessária dentro de um conceito de independência com amor e responsabilidade. É nessas pequenas coisas que uma mãe, um pai constrói uma nova pessoa, dando-lhe liberdade de crescer, de ser ele próprio.
Apesar do coração de mãe apertado, a mãe precisa ter a certeza de que escolheu um lugar gostoso e seguro para deixar o seu/sua filho(a).  E ter a consciência de que esse é o início da construção do seu crescimento como pessoa, no qual ele(a) terá boas chances de se desenvolver e adquirir, pouco a pouco, a liberdade e a autonomia necessária para crescer seguro(a) e feliz.
 As dificuldades virão nesse momento de adaptação, nem tudo será perfeito; inicia-se um processo de mudança da dinâmica da família. Os hábitos, regras precisam estar em consonância com a rotina da escola para que a adaptação ocorra de forma mais suave para todos os envolvidos no processo.
Mãe, lembre-se que é preciso que esteja segura, calma e tranquila nessa transição, pois, dessa forma, a adaptação do seu filho(a) será muito, muito mais fácil.  Meio caminho andado é que o seu coração de mãe esteja em paz, assim, o coração dele(a) baterá no mesmo ritmo que o seu. Dessa forma, o resto da caminhada para o crescimento dele(a) com liberdade e responsabilidade vai seguir em equilíbrio e harmonia.
                                                                            Um abraço,

                                                                                                              Maria Teixeira

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Dislexia, dificuldades de aprendizagem ou outra forma de aprender?

       Aprender a ler e escrever implica em saber operar os símbolos, imagens e ideias.  Envolve a compreensão da natureza do sistema de representação gráfica e a descoberta das leis que regulam a leitura e a escrita.   Para isso, de acordo com Ferreiro (1985): “a criança precisa se apropriar dos objetos culturais, para depois conseguir reinventar o sistema de representação da linguagem escrita e conseguir trabalhar com os conteúdos procedimentais”, talvez por isso, algumas crianças na fase de alfabetização apresentam dificuldades para compreender os sistemas de escrita existentes que representam a sua cultura.  
Assim como a invenção da escrita foi um dos momentos mais importantes da História da Humanidade – por meio de registros os saberes puderam ser transmitidos de geração para geração –, a alfabetização, ou aprendizagem da leitura e escrita, é o momento mais importante da formação escolar de uma criança.  É a base para o seu percurso intelectual e subjetivo. 
Há um momento em que a figura se torna um símbolo escrito, um caractere, uma unidade abstrata e convencional. É quando a criança se apropria dos símbolos para representar o que antes era apenas uma imagem e, escreve o que o outro pode ler. E, é por meio da leitura que se efetiva a comunicação desejada de uma escrita.    
Essa passagem ocorre pela linguagem -, uma mensagem é  transmitida e, só depois a escrita é pensada. Por isso, todos os tipos de escrita têm sua base na leitura.   
Criou-se um código, uma lei, para facilitar a comunicação e o convívio com o outro. Na fase silábica, quando a criança começa a usar um símbolo para cada som, apenas opera conscientemente o conhecimento da organização fonológica de sua língua, por exemplo, escreve gato = AO, bola = OA. A criança vai descobrindo as suas contradições aos poucos e, isso não ocorre de forma regular. Aprender a escrever não é como aprender a andar.
A criança descobre as suas contradições quando começa a obter significação. Não há uma idade regular para que esse processo se efetive. Obter significação compreende uma relação com o pensamento abstrato: deduzir, interferir, generalizar, conotar, associar, categorizar etc. E, acontece imediatamente quando o processo da leitura está sendo adquirido.   “A significação é anterior à linguagem falada e está permanentemente implícita no processo da recepção e da expressão da linguagem escrita”  (Gibson e Levin, 1975). 
Para Emília Ferreiro, a criança aprende elaborando uma série de hipóteses sobre a construção da escrita, através não apenas de vivências externas, mas também internas, baseando-se em critérios segundo sua própria lógica. Há uma série de modos de representação alfabética da linguagem e diferentes níveis de aprendizagem.   
A criança irá construir capacidades para operar com símbolos, imagens e ideias, para depois conseguir trabalhar com os conteúdos procedimentais. O conteúdo deve ser visto pela escola como um meio de favorecer a aprendizagem da criança não como um fim em si mesmo.
Ler e escrever são operações que implicam e estão implicadas no funcionamento psíquico do sujeito. Ler e escrever é subjetivar-se; implica numa relação com o outro e numa posição diante do outro que quer lhe ensinar algo. É trabalho de um sujeito convocado a simbolizar, a partir das leis convencionais de leitura e escrita, de acordo com os traços que constituem seu inconsciente.
A Leitura e escrita é um trabalho de troca, substituição (sublimação ou simbolização).   É algo complexo, por isso, há muitos estudos sobre a questão de como se dá o processo de aprendizagem.     
No final do século XIX o médico neuro-psiquiatra americano Samuel T. Orton se interessou por entender como se dava às aprendizagens e, o porquê de algumas crianças apresentarem dificuldades no momento da alfabetização. Nessas buscas, promoveu o conceito “dislexia do desenvolvimento” que foi amplamente divulgado, lançando assim, a ideia de que as dificuldades de aprendizagens ou basicamente de leitura (trocas assimétricas) poderia ser uma disfunção cerebral. Apesar de não ter até hoje comprovação científica, muitos se interessaram pelo título e, há supostos tratamentos medicamentosos que se dizem ser eficazes para casos diagnosticados como “distúrbios neurológicos relacionados à aprendizagem escolar”. Inclusive há centros de estudos, associações voltados à essa descoberta do século. 
A partir daí surgiram outros rótulos como “Déficit de atenção”, “hiperatividade” e, muitos profissionais da área neurológica oferecem terapias e formas de tratamento eficazes para os tais “Transtornos” ou “distúrbios” relacionados às contradições no momento da alfabetização.   
As questões cognitivas ou, formas diferentes de aprender passam a ser tema de estudos das neuropsiquiatrias desde então, pois, isso os intriga. O que não acontece de forma regular, dentro da idade, é visto como “distúrbios de aprendizagem” ou “transtornos de aprendizagem”. Logo, as crianças que não respondem ao sistema ou ao que foi convencionado têm um problema.  Ainda, os mais agitados, mais dispersos, ou os que fazem mais barulho são os “hiperativos”.
Essas crianças passam a ter tratamento especial, individualizado. São excluídas do grupo. Ainda hoje, em algumas escolas do Ensino Público há as tais salas especiais e, muitas crianças são tratadas por neurologistas, psiquiatras nas unidades do CAPS        (Centro de Atenção Psicossocial).
Esses rótulos infundados discrimina a criança, separam-nas  do grupo e, pode desencadear alguns transtornos reais à criança e a família. O rótulo não ajuda, dificulta o ensino e o processo de aprendizagem da criança.
Quando a criança é rotulada e permanece por um longo período no lugar de quem “não sabe”,  ela é excluída; é olhada como diferente; permanece num lugar de incapaz. A escola, a família e a própria criança assume que “não pode”. Essa criança vai ser tratada ou atendida dentro das suas possibilidades e, ficará impedida de evoluir no seu processo de aprendizagem e, as consequências são desastrosas para a sua vida.  
Parece que nomearam as “contradições” -, comuns há algumas crianças em fase de alfabetização. Talvez, isso ocorreu no momento em que a escola não soube nomear as manifestações apresentadas por algumas crianças e, delegou isso à área médica como psicólogos, neurologistas.
Muitas questões cognitivas que são da ordem da linguagem ainda são tratadas pela área médica como “disfunção neurológica”, e os casos mais críticos, do ponto de vista médico, seguem com encaminhamentos irresponsáveis para psiquiatras.
A questão não é buscar incessantemente o fora do normal.      As especulações acerca dos problemas cognitivos sempre existiram, mas, hipóteses infundadas podem afetar de fato o processo de aprendizagem da criança e, trazer implicações no seu comportamento emocional, desenvolvimento cognitivo, subjetivo e, sérias complicações no seu aprendizado.
A aquisição da linguagem não pode ser entendida de forma isolada do desenvolvimento infantil e individual de cada criança, pois as aprendizagens não ocorrem de forma regular para todas as crianças.   A entrada na escola marca uma série de mudanças na pequena criança, no que se refere ao surgimento do simbolismo e a maneira de relacionar-se com o mundo. A criança precisa já ter desenvolvido a capacidade de simbolizar, de significar, isso indica uma nova maneira de apropriar-se da realidade. Se ainda não adquiriu, isso não quer dizer que ela tenha um problema.
O ato de ensinar é um trabalho de observação, e exige um  olhar observador, atento, comprometido e,  respeito à verdade de cada caso.   
A comunicação, de um modo geral, é um processo evolutivo. O papel da linguagem no desenvolvimento cognitivo tem sido discutido por diferentes aportes teóricos. Nas  linhas cognitivistas a linguagem é entendida como parte da cognição, uma forma de representação, porque permite ao sujeito evocar verbalmente objetos e acontecimentos ausentes. Nesse sentido, é a criança que constrói a sua linguagem no seu tempo. Um dos fatores indispensáveis para o surgimento da representação é a criança conseguir representar objetos ausentes. Ela não precisa, por exemplo, ver uma mesa para escrever “mesa”. Esta proposta valoriza o aspecto motor, uma vez que pressupõe o surgimento do simbolismo após a passagem pelos estágios do período Sensório-Motor Piaget (1970).
Piaget defende que o aparecimento do simbolismo depende da evolução da inteligência sensório-motora pré-verbal. A linguagem nasce da interiorização dos esquemas sensório-motores produzidos pela experimentação ativa da criança com seu meio. Há uma elaboração contínua de novas estruturas adquiridas pela criança, que servem para interação e compreensão do meio, para que ela aprenda o que querem que ela aprenda. A linguagem será construída mediante essa interação entre criança, o seu meio privativo e o social, como é o caso da escola.  A criança vai se mostrando como um reflexo das capacidades cognitivas adquiridas até então e, vai construindo os seus esquemas de linguagem.
As crianças em fase de alfabetização sempre foram o foco dos encaminhamentos para diagnósticos e intervenções, o que denota que o "problema" está sempre focalizado na criança e não, no sistema da escola, na didática da professora, na dinâmica da família.

Nesse sentido, algumas afirmações que dizem respeito a um percentual elevado de crianças disléxicas, com “déficit de atenção” ou hiperativas tornam-se duvidoso, uma vez que qualquer mudança nos critérios utilizados por esses profissionais da área médica poderia mudar radicalmente esta percentagem. Pois, embora esses termos ou rótulos venham sendo amplamente divulgados, no entanto,  nem sempre é explicativo e útil para o desenvolvimento da criança e para os profissionais da educação, pois, é preciso atuar com a certeza de que cada sujeito é único, tem a sua forma própria de aprender e, há o sujeito epistêmico e o desejante.
      Os rótulos e os termos “dislexico (sem léxico, ou sem palavra)”, “déficit de atenção” e “hiperatividade” vem sendo usados de forma indiscriminada, ou seja, se a criança não acompanha o processo, logo, tem um problema, uma disfunção ou um transtorno. Se a criança é muito ativa, ansiosa por desbravar os espaços, as atenções, faz mais barulho, logo, é hiperativa.
Diante destes diferentes pressupostos, não subestimo que seja difícil para os profissionais que lidam com crianças em fase de alfabetização, compreender qual a natureza das dificuldades e qual deve ser a intervenção mais adequada, mas, basta  entender que  cada caso é um caso e tudo depende da verdade de cada caso. Assumir que não dá conta e procurar ajuda é um ato de responsabilidade.
Muitas crianças que apresentam dificuldades no seu processo de aprendizagem, não são portadoras de nenhuma “patologia”, na maioria das vezes, há o desconhecimento de "coisas" que ela ainda não aprendeu. Faltam-lhes conhecimentos básicos necessários para aquela aprendizagem. Há algo fundamental que ela ainda não aprendeu. Ela só precisa fazer algumas descobertas que ainda não fez.
As primeiras dificuldades surgem na escola, pois, é ali que a criança vai utilizar o que aprendeu até então e, o reconhecimento das características precocemente e, os encaminhamentos a profissionais competentes no assunto são garantias de que poderá evoluir no seu processo de aprendizagem.    
As nomeadas “dificuldades de aprendizagem” aparecem por volta dos 8 ou 9 anos de idade, quando a criança começa enfrentar temas acadêmicos mais complexos, as notas ficam baixas e há um desempenho escolar insatisfatório.  Algumas características podem ser observadas logo no início da alfabetização, outras, no decorrer do processo, como: leitura lenta, segmentada, sem modulação, sem ritmo e sem domínio da compreensão/interpretação do texto lido; trocas de algumas letras; sérios erros ortográficos; concentração; retenção da informação; memória; dificuldades no manuseio de dicionários e mapas; dificuldades de copiar do quadro ou de livros; nomeação de objetos; tempo para realização das tarefas; noção de tempo cronológico, espaço físico; tendência de uma escrita descuidada, desordenada e às vezes incompreensível; não utilização de sinais de pontuação/acentuação gramaticais, inversões, omissões de letras, reiterações e substituições de letras, palavras ou sílabas na leitura e na escrita.
Algumas características apresentadas pela criança são comuns numa primeira etapa da aprendizagem e, podem ser identificadas logo no início -, podem ser erros considerados normais no processo de ensino-aprendizagem ou questões cognitivas. É preciso saber distinguir as contradições iniciais e comuns das dificuldades mais complexas,  constantes, contínuas que envolve outras atenções e olhares mais atentos.  
A Escola, principalmente a pública, precisa lançar um olhar mais criterioso diante da frequência na ocorrência dos casos dos diagnósticos de Dislexia, Déficit de atenção em vários graus de severidade. Há necessidade desse esclarecimento e de mais informações por parte dos profissionais da área de linguagem como pedagogo, psicopedagogo ou fonoaudiólogos.  
No Ensino Privado, já é comum o encaminhamento nos casos mais complexos para um diagnóstico psicopedagógico ou uma avalição do nível sensorial, físico e emocional da criança antes de qualquer outro encaminhamento. Na maioria dos casos, trata-se de uma questão rotineira do processo de alfabetização ou uma característica própria da criança que exige uma atenção mais individualizada, um olhar mais atento.   
As questões da Educação devem ter tratadas na Educação -,  avaliadas por profissionais especializados em linguagem para obter um diagnóstico seguro e responsável. As hipóteses infundadas podem gerar outras questões que afetam de fato o processo de ensino e a evolução no processo de aprendizagem da criança.
 As termologias “Dislexia”, “Déficit de Atenção” e hiperatividade” têm produzido uma sonoridade de patologia e, produzido um desconforto para a criança e para a família e, desencadeado de fato um “problema” para a criança, família e escola, com outras manifestações comportamentais que afetam o processo de aprendizagem e o desenvolvimento emocional da criança. 
Algumas crianças fazem mais barulho do que outras...Outras são mais lentas....Outras não estão prontas para aprender o que querem que ela aprenda naquele momento. Outras, estão em um sistema educativo que não é adequado ao seu perfil, etc.
Os profissionais da educação têm uma responsabilidade gigantesca na formação das crianças; precisam ser criteriosos; ter um olhar atento às dificuldades apresentadas; devem agir com responsabilidade e, tratar as questões que são da área da Educação na Escola, com profissionais da área de linguagem.
A orientação e o atendimento orientado, e, pautado em uma ética sem rigor obsessivo previne a exposição desnecessária da criança, os desconfortos na família e na escola e a permanência da criança por longo período no lugar de quem “não sabe” e “não pode aprender”.  Entre outros fatores, considere a história de vida daquele aluno, buscando levantar hipóteses sobre as possíveis causas de  não responder aos conteúdos programáticos da série em que está inserido.
Os pedagogos ou professores alfabetizadores precisam atuar com a certeza de que se a criança não pode aprender da maneira que ensinam então, devem ensinar da maneira que elas aprendem. Há sempre uma forma diferente de ensinar e aprender.
Maria Teixeira,
Psicopedagoga,  especialista em Linguagem com leituras em Freud e Lacan

 m.teixeira@uol.com.br

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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A criança que falta com a verdade

Essa é uma questão que inquieta pais e educadores: Por que a criança mente?
    A criança pode mentir por vaidade, por querer chamar a atenção e, para se sobressair entre os demais.
  Há crianças que gostam de chamar a atenção sobre si, estar em evidência, fazer-se o centro de gravitação do mundo. Não o podendo pela força dos fatos, recorrem à inventiva. Não se contentam com a mediocridade da vida: enfeitam-na. Essas, não ouvem uma vantagem alheia, que não tenham outra maior a apresentar. E, aquelas que mentem com consciência e que só contam vantagens onde pensam não poderem ser desmascaradas ou longe daquelas pessoas que realmente as conhecem. Alguns exemplos: O pequeno que se gaba de ter mais do que tem, outro que prometia chegar qualquer dia à escola de helicóptero que o pai ia comprar...ou que já tinha...  Além das chamadas à realidade, a esses vaidosos os pais devem advertir do resultado negativo das suas invencionices, que mais os desacreditam que engrandecem. Pois, esses, podem cair no ridículo - ocupar um lugar negativo dentro do grupo -  Todos já olham para ele(a) com desconfiança...esperando a mentira... Os pais, ao chamá-los à realidade devem tomar cuidado para não reforçar o malfeito, pois, ao invés de ajudá-lo poderá colocá-lo ainda mais nesse lugar de destaque “negativo”. Não demonstre que desconfia dele (a) o tempo todo; dê créditos de confiança e elogie nos momentos oportunos. Use exemplos de terceiros..."Sabe, a minha amiga estava reclamando que seu filho anda mentindo, inventando coisas...falei pra ela que quando você era pequeno...mais bobinho, eu te pegava com algumas mentiras, mas, que vai chegar um tempo que o filho dela vai perceber que está passando por bobo, pois, todos sabem que são invenções, daí ele para"...por aí....
  Deve-se estimulá-los a procurar reais situações de prestígios, por meios lícitos: no esporte, na arte, na música etc. Chame-o a realidade de que a bondade ganha amigos, a destreza nos esportes desperta admirações, etc.
   Como se trata de verdadeiras mentiras, deve-se pontuar o aspecto moral sem mostrar descrédito: recomendar o exame de consciência a respeito, e orientá-lo a acusar-se desses deslizes, ou confessar que o fez e dizer o porque o fez. Mas proporcionar esses meios, de acordo com o desenvolvimento da criança, com o momento e, principalmente, individualmente.  Esses vaidosos são “duros na queda”, e as vezes não confessa o que é certo que foi ele que fez nem mesmo sob o risco de tortura!. A recomendação do exame de consciência; a orientação de acusar-se sobre seus deslizes ou confessar para aquele(a) que o(a) ama na base da confiança aumentará o vínculo dessa relação e, poderá elaborar essa situação de forma bem significativa.
    Ao falar de suas mentiras, use expressões do tipo: “lembra quando você negou aquilo que foi você que fez naquela época que você mentia... -, trate como coisa do passado, pois agora você já sabe que não precisa inventar para chamar a atenção, nem mentir por pura vaidade. Esses vaidosos agem assim por pura carência ou ingenuidade mesmo! Se não trabalhado na infância, pode tornar-se um adulto onipotente com atitudes de menino "onipotente ingênuo". Quem nunca conheceu um??!!
   Às vezes, as crianças mentem por puro altruísmo para defender um amigo, um irmão.  Há situações raríssimas entre pequeninos (que mentem antes para desculpar-se). Esse tipo de mentira encontra-se entre escolares, e mais entre adolescentes, aquela  mentira generosa ou altruística, dita em defesa de colegas e amigos, para evitar-lhes desgostos e tirá-los de apuros. Às vezes, ela apenas nega a culpa de um amigo; outras, mas raras, toma-a sobre si. Apenas para fazer parte do grupo, para não perder o amigo que admira ou o irmão com quem pode contar, o seu cúmplice.    Se a criança confessar que mentiu em favor de alguém, e, pensa ter praticado um ato grandioso, desengane-a. Mostre-lhe que grandiosa é a fidelidade à verdade, que isso não é solidariedade, que a solidariedade é a melhor base para a formação de um bom caráter, porém, não pode estar baseada na mentira.      Porém, a criança em formação necessita da experiência do adulto, ou da identificação positiva de quem quer ensinar-lhe algo. O adulto não deve omitir  nada à criança; não faltar com a verdade; não a expô-la  ao ridículo; não a humilhar nunca.
   O adulto deve dar o bom exemplo -, ser humilde; não se mostrar superior sob nenhum aspecto aos outros; não querer se dar bem sempre ou ser superior ou melhor do que o outro -, as vezes, muitos agem assim puro capricho e vaidade excessiva!. A criança em formação, tudo ouve e tudo vê, apreende, e assim, estrutura o seu caráter.  Já vou avisando...O caráter não é inato.
  Quando o adulto dá crédito às facetas da mentira da criança por vaidade ou altruísmo, vem a mentira por maldade. E esse tipo de mentira já é “fraqueza de caráter”, e pode requerer ajuda e orientação de especialistas em assuntos comportamentais.  
  Na mentira por maldade, há o desejo de vingança que se manifesta com clareza, embora seus motivos sejam, às vezes, obscuros. Outras vezes são claros, e, basta termos olhos para vê-los. Ocorre muitas vezes quando a criança se sente rejeitada e, percebeu quanto à mentira irrita os pais; mente-lhes para aborrecê-los, vingando-se dos sofrimentos que lhe impõem, protestando contra o tratamento que deles recebe quando a obriga fazer o que não quer. Tanto é assim que mente sem lógica, afirmando agora o que antes negava, negando fatos notórios, percebendo a indignação que provoca, ela sente "prazer" nisso.     Os pais ou quem convive com a criança, pode não perceber, mas outros da família, amigos, facilmente lhe dirão por que o seu filho mente, pratica maldades -, por que alguém da família mente por vaidade, para vingar-se das rejeições, das exposições que sofre, da perseguições (seja em casa ou na escola), dos castigos morais e físicos, das exigências que lhe fazem e dos frequentes ou injustos castigos que esses lhe impõem.
  Os Pais e  educadores devem exigir da criança apenas aquilo que ela pode dar! Caso contrário, ela encontrará rapidamente um meio de aborrecê-los. A sua atitude indesejada pode ser uma forma de protesto, muitas vezes, inconsciente.
  A vingança toma, em certos casos, tonalidade curiosa: a criança mente apenas a determinada pessoa, grupo, ou sobre determinado assunto. A explicação, quanto aos assuntos, não é tão fácil de descobrir. Muitas vezes, a descoberta somente ocorrerá após uma análise profunda e observação de um bom psicanalista. 
  Quando a criança acusa injustamente alguém, pode fazê-lo também por vingança ou simplesmente por fraqueza de caráter, para se defender, mesmo à custa do outro.  Nesses casos, um olhar atento faz-se necessário, pois a regularidade pode estruturá-lo num sujeito com “desvio de caráter” e, consequentemente, desequilíbrio emocional ou psíquico, exigindo cuidados e tratamento.   
    Os pais conhecem e sabem quando a criança é uma pessoa que mente, seja por vaidade, altruísmo ou maldade. Quando ela acusar, por exemplo, os professores, adultos de terem cometido alguma maldade com ela, os pais devem ser muito cautelosos em dar-lhes crédito. Pois, a facilidade com que é acreditada estimula essas mentiras de vingança e, poderá desencadear um desvio de caráter, formação de uma estrutura perversa. Na maioria dos casos, a acusação é fantasiosa e podem acarretar injustiças, punições indevidas.   A fraqueza de caráter demanda tratamento cuidadoso, uma boa análise, de larga base e duração. Pede-se nesses casos, mais paciência que rigor, muito mais assistência que castigos.  Nos casos mais rebeldes, a criança é indicada à especialistas para diagnósticos e os pais, para orientação. 
   Há aquela mentira da “Doença imaginária” que normalmente, aos 7 anos a criança começa a declinar a indiscriminação entre o real e o imaginário. A criança tem dor de barriga sempre antes de ir à Escola, fazer uma prova ou algo que não gosta. Deve-se observar para não dar crédito às invenções. Se ela persistir, sem respeito à idade; se a fantasia persistir na vida escolar, deve ser investigado as condições dessa criança na escola ou se é uma fuga. Deve-se procurar  não dar crédito se for algo constante. Caso  a situação permaneça, e, a família não consiga lidar com a questão, deve procurar orientação de um especialista.
   Quando além da mentira, percebe-se que a memória começa a ficar falha e ela confunde vários acontecimentos e suas circunstâncias, e a criança não é capaz de repetir de modo idêntico a mesma narrativa; ou quando, mais crescida, não oferece a devida resistência às sugestões, não se trata, infelizmente, de casos normais. Não é uma simples mentira. Requer o olhar  atento e orientação da família sem muita repreeensão, porém, se persistir e, não conseguirem exitos, devem pedir ajuda a um especialista.
     Se a criança diz coisas abertamente inverídicas com desembaraço, e não percebe que fala inverdades, revela uma “onipotência ingênua” que se não tratada pode acarretar-lhe problemas nas relações interpessoais e, esse perfil  pode se arrastar para a vida adulta. A criança deve ser observada e acompanhada.  A pessoa que se estrutura com  uma estrutura onipotente,  já não sabe diferenciar a realidade da mentira; mente descaradamente e acredita na sua mentira. Essa não percebe que os outros sabem que falta com a verdade o tempo todo. É pega na mentira e em situações que prova que foi ela que praticou determinada ação,  ou que é uma invenção, mas nega veementemente. Assume como verdade absoluta.
  Há os casos de surtos de mentira, mais ou menos agressiva, aparentemente sem motivo, será provável  já um caso de doença "transtorno psíquico" que se manifesta.  Certas mentiras que revelam dissociações esquizofrênicas nunca aparecem sem outros sintomas de igual natureza. Nesse caso, o melhor é não protelar o exame neurológico, psicológico e, acompanhamento regular. Não são casos para o tratamento do educador comum ou controle familiar. Quando os sintomas são mais graves, assim para os males do corpo como para os da mente, deve-se procurar um  especialista.  E quanto mais cedo, melhor.     De modo geral, o principal meio para os pais corrigirem  a criança que falta à verdade é ir às causas e, não desviar o olhar.  Em quaisquer circunstâncias, o principal cuidado é indagar e investigar as causas. Por que mente?  Conhecida a causa, se não é apenas a idade da fantasia (entre 4 a 6 anos), cuidar de removê-la, de tirá-la desse lugar negativo. E como frequentemente a mentira está mais nos pais do que na criança: um simples clássico, “fala que não estou”, - é uma mentira.  As mentiras por vaidade, apenas para mostrar a amiga que conhece o lugar que ela ainda conhece; que quer mostrar que é melhor;  que tudo sabe e, conhece... A criança cresce, é observadora e, sabe que o que foi falado não é a verdade.   
    A mudança de postura da criança supõe quase sempre a modificação do sistema de educação do próprio ambiente doméstico com manifestações observadas no ambiente social.  A criança precisa ser educada para ser honesta e leal  – para fazer amar a verdade. A educação da sinceridade é infundir amor à verdade, horror à mentira e à deslealdade.  
      É preciso dar à criança a coragem de se manifestar (prudente e discretamente) as suas convicções, e de assumir a responsabilidade de seus atos -, mobilizando-a sempre para o bem.    A presença e um olhar observador dos pais é fundamental; a escola vai pontuando para a família o que foi observado no meio social. A  escola precisa  conseguir encantar, mobilizar o interior da criança em formação para termos a esperança de realizar a verdadeira educação e formação humana na criança.
    Mas, a questão é - Como conseguir uma mudança de postura? Um dos meios mais indicados é dizer que confia na criança. Observar e saber diferenciar o tipo da mentira, se são mentiras ou fabulação própria da idade. Nunca expor a criança; os problemas se resolvem sempre no lugar privado.
    A mentira revela quase sempre um erro de conduta; quem procede bem não precisa mentir.  Conforme, já mencionei, a criança mente por sentir-se insegura e,  recorre à mentira, na esperança de firmar-se.
    A atitude do professor, dos pais, influirá decisivamente sobre a criança que mente, que fantasia.  Usar de rigor obsessivo, castigos físicos a levará a  novas e mais apuradas mentiras, a fim de escapar aos castigos e, poderá tornar-se um adulto não tão confiável. Se aquele que educa falar da mentira como algo que ela praticava que não faz mais é abrir caminho para a verdade e abrir espaço para a confiança.
   Mesmo apanhando-a em mentira, devemos dizer-lhe que confiamos nela, dando-lhe um crédito de confiança a princípio, mas crescentes à medida que ela corresponder. A vigia deve ser discreta, para que a espionagem não a irrite (se perceber que é vigiada, a confiança não está presente);  pedindo-lhe contas das tarefas escolares, de boas notas, mas de modo amplo e generoso, que não denuncie suspeita; renovando-lhe a confiança, mesmo que ela às vezes recaia na mentira (por força do hábito ou da natural fraqueza). Diga-lhe, olhe, acho que você esqueceu de fazer esse exercício e, ainda: você sabe fazer? Se não, tente juntos; não fique relembrando-a  das mentiras para não reforçar o lugar negativo -, isso não a ajudará. 
    Ainda quando um relato não o satisfaça, mesmo que esteja querendo saber mais... Nesse primeiro momento, admita que ele(a) fala a verdade, até que você encontre uma forma de esclarecer. Então, volte mais tarde ao assunto, com tranqüilidade e firmeza -, sem rigor obsessivo. “Eu não entendi direito... o que aconteceu mesmo? etc”.
   A experiência tem me ensinado que nas famílias em que as crianças convivem intimamente com os pais, em que estes "perdem tempo" com sua educação e se interessam pela vida de seus filhos, informando-se normalmente das suas atividades diárias, sentando junto, tirando dúvidas com paciência e amor, a mentira é inexistente ou muito rara.
      Quando ao contrário a isso, a relação dos pais e filhos já é uma pura mentira! Pergunte-se: no dia a dia, qual é o meu tempo com o meu filho(a)?  Eu lhe dou ouvidos?  Eu olho nos olhos dele(a) quando me pergunta algo? Ou eu respondo as vezes, concordo, sem nem mesmo ouvir direito o que falou? Lembrando que a quantidade de tempo não importa e sim a qualidade desse tempo.
    Se os estímulos para uma boa ação são: prêmios, elogios, cumprimentos - impulsionam aos próprios adultos, quanto mais às crianças. A mentira lhe traz freqüentes vantagens na ordem prática: escapam a castigos, conseguem objetos que desejam, dinheiro para guloseimas, caprichos etc. A criança precisa estar decidida a falar a verdade, é preciso agir sem sentir  que está sendo fraudada. O educador (pais e professores) deve compensá-las com vantagens reais, tantas e mais do que as conseguidas pela mentira ou para suprir uma falta, concertar um erro. Assim, elas verão que vale a pena falar a verdade e, agir de forma correta.
       A  autocrítica por parte de quem educa já é por si só um ato formador. Os pais e professores são formadores de consciência; são os responsáveis pela formação humana na criança. E, deve-se  interessá-lo profundamente e freqüentemente esse trabalho fundamental de interrogar-se sempre em face de si mesmo.
                                   Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem                                           https://plus.google.com/+MariaTeixeirapsicopedagogaSPaulo/posts
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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Ensinar o valor do dinheiro às crianças

   Ensinar o valor do dinheiro às crianças é muito importante, mas, antes de conhecer o valor do dinheiro a criança precisa conhecer os valores éticos e, entender que se valorizar demais o dinheiro; se coloca-lo sempre na frente das coisas, nunca terá o suficiente -, ele sempre faltará e será em alguns momentos o motivo de sua infelicidade.
Percebo que o primeiro valor que a maioria das crianças conhecem hoje é o do “dinheiro”. A primeira frase que aprendem é “quanto custa?”.
A maioria das crianças estão crescendo obcecadas pelo “melhor” -, o melhor tênis, o melhor celular, o melhor isso, o melhor aquilo... Não sei quando isso começou, mas acho preocupante. Sabe o que acontece quando a criança cresce só querendo o melhor? Dando muito valor às coisas material? Vivem inquietas, inconformadas, numa insatisfação permanente, num desassossego que muitas vezes levam-na a uma obsessão desenfreada e isso pode levá-la à consequências desastrosas.
As crianças crescem observando como os pais lidam com as finanças, mas nem tudo se aprende olhando. É preciso indicar caminhos, limites, ir dando exemplos.
Numa sociedade capitalista os pais precisam introduzir a educação financeira desde muito cedo nos ensinamentos dos filhos, pois, saber lidar com dinheiro será uma das habilidades mais relevantes para sua vida. Porém, para ensinar o filho a administrar o dinheiro, primeiro os pais precisam saber lidar e ter uma relação muito boa com ele. O dinheiro não pode ser o mais importante e nem estar à frente de tudo.
Por outro lado, como a Educação financeira não está no currículo da escola, ensinar a administrar o dinheiro também é tarefa dos pais que, para isso, devem saber como cuidar das suas próprias contas. Fazer planilhas de gastos mensais, não acumular dívidas e poupar dinheiro para situações de emergência são bons exemplos financeiros. 
É possível ensinar o valor do dinheiro nas pequenas coisas. Embora as crianças observem os pais, elas não aprendem tudo apenas dessa forma. É preciso dizer a ela que o dinheiro tem limite, de onde ele vem, que não pode gastar tudo de uma vez, e ir introduzindo os conceitos aos poucos. A primeira lição – talvez a mais dura – é não dar tudo que a criança pede. Ao leva-la ao supermercado ou shopping, é preciso saber dizer que aquilo não é  necessário e pode ficar para depois. Dizer o "hoje não" é estabelecer limites. 
A criança deve participar do esforço da economia familiar. Uma boa forma de fazer com que ela participe é deixá-la acompanhar a lista de compra do supermercado, por exemplo, e explicar que não será possível comprar além do que está na relação. Assim, ela vai entender que somente aquilo que está ali deve ser comprado e não tudo o que está sendo oferecido, que há um planejamento com base no que é necessário e disponível no orçamento da família naquele dia ou mês. 
A criança precisa saber que as coisas não são de graça, que é preciso planejar cada compra e, dessa forma, entender o valor do dinheiro. Que o dinheiro não aparece no cartão do nada. Precisa estar na conta lá do banco. Já ouvi a mãe dizer no supermecado e lojas que não tem dinheiro para aquilo e a criança emendar "compre com o cartão!". Isso mostra que ela ainda não entendeu essa forma de pagamento. É o momento de explicar.   
O mesmo pode ser aplicado quando a criança pedir um brinquedo, um celular novo, há oportunidades em que os pais podem atender ao pedido imediatamente e em outras, não podem e não devem. E há também casos em que o artigo pode ser comprado futuramente. Ao explicar isso, ela vai entender mais uma vez que o dinheiro não está sempre disponível -, que poder, querer e o dever comprar tem suas razões e consequências. Os pais precisam aprender a fazer isso sem sofrer, pois, as frustrações fazem parte do crescimento da criança, principalmente quando queremos mostrar o valor do dinheiro. 
O processo de aprendizado do valor do dinheiro deve começar assim que a criança comece a identificar os números, quantidades, quando já souber contar. Ela já pode ser envolvida no planejamento do orçamento familiar de forma que entenda quando e como os desejos de consumo podem se concretizar.
Outra situação diz respeito ao valor do dinheiro na escola. Na escola, por vezes, seu filho pode ter contato com colegas que exibem itens caros que ganharam em casa ou mesmo dinheiro que levam à escola para compra de lanches. É natural, nesse cenário, que seu filho também queira possuir o artigo ou o dinheiro. As crianças costumam fazer associações e, se há diálogo na família, fará algum comentário em casa. É o momento de a família demonstrar que nem todos têm as mesmas possibilidades; as condições da família podem ser melhores ou piores que a do amiguinho e, que às vezes, aquela família não tem controle financeiro. Aproveite para falar dos exageros e dos exibicionismos. E, talvez seja o momento de proporcionar ao filho a experiência de ele mesmo comprar o seu lanche em um dia da semana, não precisa ser logo no dia seguinte para não ensiná-la de forma errada a ser competitiva e exibicionista. 
Quanto aos itens de valor que as outras crianças exibem, a criança vai ter tempo para entender por que o tênis de um é diferente do outro, por que a criança leva celular caro para a escola, se vestem diferentes, por exemplo. A questão do valor das coisas, marcas, é a família que passa para a criança. Ela aprende esse valores errôneos na família. Tudo vai depender da dinâmica familiar de cada um, dos valores que a família presa.
Quanto à questão da mesada que os pais sempre me consultam, - a mesada em certa idade é uma boa opção. A criança precisa ter seu próprio dinheiro quando já souber lidar com ele. A mesada é uma forma de ensinar o valor do dinheiro. Não importa o valor, mas estipule um valor que deva durar todo o mês ou 1 semana. No início, o dinheiro provavelmente vai durar menos. Cabe aos pais ensinar a criança a planejar e controlar para durar mais tempo. A mesada é uma forma de dar à criança em formação, a liberdade de gastar dentro de determinados limites e, pode-se exigir dela a responsabilidade de administrar seus desejos e recursos e, principalmente, saber como é a relação dela com o dinheiro. A liberdade de lidar com o seu próprio dinheiro sempre será oportunidade de educar e, ajustar o comportamento da criança.
                                               Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem.

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