O Objetivo do Blog

domingo, 25 de maio de 2014

A Gênese das estruturas psíquicas

    Na seqüência evolutiva do desenvolvimento psíquico da criança, alguns momentos se destacam de acordo com a linha estruturalista, pela importância de suas conseqüências. A capacidade de representação, adquirida com a aquisição da linguagem e do pensamento, é um desses momentos principais de sua constituição como sujeito. A criança é marcada desde muito cedo pela linguagem, pelo discurso da mãe.
   Para a psicanálise, um sujeito se constitui no  mundo pelo processo edipiano ou função fálica. O inconsciente do sujeito se forma a partir da cultura, inserida no espaço/tempo, e é introduzido no discurso da mãe, - o "Grande outro" materno. A mãe vai ensinando à criança o que é "ser humano" e, ao mesmo tempo, vai determinando a estrutura psíquica do novo ser. 
   A partir do nascimento a criança está alienada e se relaciona com a mãe, que não é necessariamente, a mãe biológica. Essa mãe vai satisfazendo as necessidades básicas e desejos daquela criança. Por volta dos 2 anos, a criança percebe o pai, e, esse entra na vida daquela criança. O pai entra como o terceiro naquela relação; entra como "pai simbólico", - incia-se as identificações.  Ele entra com a função de interditar a criança junto à mãe e a mãe junto à criança, estabelecendo limites nessa relação, para que ele possa entrar como "pai simbólico", aquele que também deixa "marcas" na criança. 
    A psicanálise postula como "pai simbólico" o que faz a instância mediadora do desejo entre mãe e filho. Mas, esse pai precisa ser autorizado a entrar nessa tríade. Dependendo de como se processa esse desenrolar (mãe x criança x pai) se estabelecerá a estruturação psíquica do sujeito. 
    Neste sentido, a criança vai recebendo do adulto as instruções de como funciona a cultura na qual foi inserido, - os limites, as interdições (o pode e o não pode) e, vai se humanizando. 
     A cultura é o que estrutura, é o que humaniza o sujeito. Antes disso, a criança é apenas "uma coisa" - "Das ding", segundo Lacan. O pai simbólico é o mediador, se autorizado, atuará como estruturador do sujeito. O pai é apresentado à criança pelo discurso da mãe, de tal forma, que a criança possa entender que o desejo da mãe se encontra, ele mesmo, referido a ele, e, ao mesmo tempo, ao pai. Ou seja, o pai é para o filho o que o discurso da mãe faz dele. Logo, o que a mãe diz a respeito do pai entra no imaginário da criança e, ali se estrutura. O que é estruturante para a criança é o que ela possa "fantasmar" - uma figura de um pai imaginário, a partir do qual ela dimensionará o "pai simbólico" (aquele que chega para  organizar, pois, entra como a lei).   A criança identifica-se com o pai imaginário e não com o pai físico (real),e, não precisa ser necessariamente, o pai biológico. 
   A mãe é para a criança quem tudo sabe e, tudo pode, porque a mãe fala com a criança através da nomeação dos afetos. É dessa forma também que a mãe cria o imaginário da criança, as simbolizações, pois, é ela que apresenta o mundo à criança. Quando o pai fala com a criança, ela já está simbolizada, marcada pela mãe, ou seja, "a lei" já foi internalizada por ela.
    É importante que a mãe apresente o pai à criança através do seu discurso, como aquele que também "sabe". Se a mãe é autoritária, centralizadora, controladora, obsessiva, não permitirá que o pai entre na relação. Não haverá um "outro" entre eles, ou o "outro" está destituído de poder, não terá autoridade, e respeito perante o filho(a). Pois, é  a mãe quem autoriza a criança a obedecer a outrem e, ela própria mostra a ele que ela também cede,  quando necessário, obedecendo a outrem, não sendo a única a estabelecer "a lei", os limites. 
  Para a psicanálise, o lado homem é totalmente determinado e circunscrito pela “função fálica”, isto é, “assujeitado” à castração simbólica: "é pela "função fálica" que o homem como um todo toma inscrição. O homem é então tido como limitado -  O limite, a lei da "proibição do incesto", como vimos, é a função do pai -, mostrar ao filho (a) que aquela mulher é dele; que há regras e limites na cultura. Mas, todo esse universo não é completo à constituição do todo, deixando fora a exceção, constitui um todo incompleto. O homem se depara com um limite estabelecido pela cultura e, não pode tudo. O lado feminino é afetivo, não há exceção, não há limite, não há forma de fazer tudo, o que permite escrever a inexistência do "significante mulher", no que tange a constituição de um sujeito, pois o homem tem o "falo" (a lei da interdição).
   A função fálica no homem é circulante. Pode ser exercida por várias pessoas, em momentos diferentes. Assim, o pai ou outro "embaixador" da lei, da ordem, da cultura poderá estabelecer limites em momentos adequados à criança, favorecendo assim o que se chama "castração". Podemos dizer que castrar é o "pode" e o "não pode" bem simbolizado. Essa função pode ser circulante, ou seja, exercida por várias pessoas, em momentos diferentes. Em outras palavras, castrar é impedir a criança de ser o "único" desejo da mãe e, ao mesmo tempo, impedir que a mãe tenha o filho(a) como seu único desejo. 
   No enfoque psicanalítico, a castração é dupla e tem em seu cerne a "proibição do incesto". Castrar é introduzir a lei da cultura na criança. Quando a criança está alienada à mãe, essa sacia todos os desejos da criança indefesa, - a criança deseja essa mãe, e quer tê-la só para ela, - é no seio da mãe quando bebê que experimentou o primeiro prazer. E esse prazer de que Freud trata não tem nada a ver com "sexual", é pura libido. 
A ausência da mãe, angustia a criança até os 3 anos,pois, ainda há essa alienação.  A alienação existe, mas, há de haver a separação. As operações de alienação e separação são articuladas no "estádio do espelho". A  criança se encontra alienada no desejo da mãe, isto é, submetida a um "significante mãe" que a condena a não ser nada sem ela, já que o sujeito do inconsciente fica petrificado no momento em que escolhe o sentido que lhe é dado pelo  "Grande outro", mãe. Ao postular a separação, vai-se encontrar o outro tempo desta lógica -, o momento de fechamento do inconsciente -, incorre na identificação constitutiva; entra a "pulsão invocante", - uma voz que chama o sujeito-criança a ser ele mesmo, sujeito único desalienado. O desejo da mãe sempre convoca o sujeito a ser alienado. Com a separação, vislumbra-se o momento da abertura do inconsciente, onde se dá o corte nos significantes – o sujeito vê a si mesmo aparecer no campo do Outro -, vê que seu desejo é o desejo do Outro.   
  Esta descoberta, imagem antecipada marcará a criança ao processo de diferenciação entre ela e o "Outro mãe". Tal diferenciação advém do processo complexo, que Lacan (1949/1998) nomeou de "Estádio do Espelho".  Este processo está correlacionado com o papel da separação na relação mãe-criança, no sentido de que, ao se apropriar do seu corpo, a criança delimita-o, separando-se do corpo e dos desejos maternos. Desta maneira, atravessa mais um processo constituinte da sua subjetivação.
  Podemos dizer que com o passagem pelo "Estádio do espelho", há uma ascensão do sujeito, representada pela passagem de” infans” para criança, através da aquisição da linguagem, mesmo que de forma rudimentar. Durante o seu processo, o registro simbólico se torna presente através do Outro que, para antecipar a imagem unificada da criança, utiliza-se da linguagem, da fala. É a linguagem que poderá marcar a diferenciação entre o “eu” e o “não-eu” para a representação do corpo próprio, como estruturante para a subjetivação do “eu”. 
    A criança desde cedo é pura pulsão, pura libido. Ela deseja tudo de forma grosseira, rude, bruta. É preciso que seja impedida de satisfazer suas pulsões de forma selvagem.    A cultura, através dos "Grandes Outros" (mãe, pai, parentes, professores, amigos...) diminui a grosseria das pulsões, adaptando-a ao mundo civilizado. A criança se designa ai, através da falta do seu objeto de desejo (mãe), como sujeito desejante e significará, na linguagem, o objeto primordial do seu desejo. Quando a pulsão é impedida de funcionar como ela surge, ela é "recalcada" e pode voltar sob forma de sintomas, fantasias, sonhos, etc. Por exemplo, quando da "castração" -  retirada do seio; a ausência da mãe e, outros objetos de desejo foi  exercida de modo frágil, sem consistência, inadequados ou quando é excessivamente exercido, com uma repressão exagerada, o que se percebe é a constituição de diferentes estruturas psíquicas. 
   Freud considera três estruturas de base da psique: Estrutura Neurótica,  Estrutura Psicótica e, Estrutura Perversa. Usando a metáfora do “princípio de cristal”, Freud indica que ao descompensar-se (quebrar-se), a estrutura da "psique" seguirá as linhas pré­-estabelecidas pelos elementos psíquicos fundamentais que a constitui. Assim, um sujeito de estrutura neurótica não poderá desenvolver senão uma neurose obsessiva;  o sujeito de estrutura psicótica senão uma psicose ou esquizofrenia; a estrutura perversa, uma doença patológica grave, como a psicopatia.   
   Se o sujeito se funda pela função paterna, ou seja, "função fálica", e se o pai é “Pai Simbólico” -, houve identificação; aquele que simbolizou, marcou a criança com seu desejo; tem-se ai a dimensão incontestável do simbólico como a ordem que permanece, no final, determinante na eleição da estrutura psíquica daquele sujeito.
   Neste sentido, nós os neuróticos “tidos como normais”, somos movidos a pulsão e, estamos conectados ao simbólico. Já o autista, não é epistêmico (não analisa, não tem raciocínio lógico, não reflete e, não simboliza). Ele está conectado ao real, sempre no período sensório-motor -, é o período da vida do ser humano compreendido entre o nascimento e os dois anos de idade, segundo Jean Piaget. Por isso, no autista não há princípio seletivo de tempo. Se instala outra coisa no caso do “estádio do espelho”-, expressão criada por Jacques Lacan, 1936, para designar um momento psíquico da evolução humana, situado entre os 6 e aos 18 meses, durante o qual a criança antecipa o domínio sobre  a sua unidade  corporal através de uma identificação com a imagem do   semelhante e da percepção  da sua própria  imagem num espelho.  Esse estádio culmina com o momento em que ela se reconhece como sujeito e, o “eu” aparece quando se refere a si próprio. Antes da imagem especular, do reconhecimento de si, há mimetização, a criança imita as ações do outro. A agressividade na criança neurótica também nasce na passagem do estádio do espelho.
    Para Lacan, a atividade da criança diante do espelho revela não apenas um certo “dinamismo libidinal” como também uma “estrutura ontológica do mundo humano”, é como uma "matriz simbólica” constitutiva do “eu”, e define o “eu”  ideal como uma “forma”, espécie de estrutura a servir como decreto para a vida psíquica posterior do sujeito. Afirma ainda que o fenômeno possui dois tipos de valor: um valor histórico, por marcar um momento decisivo no desenvolvimento mental da criança, e o valor de representante de uma relação libidinal essencial com a imagem corporal.
    A imagem unificada no humano não o retira da comparação com o animal. No lugar da “memize” vai entrar a identificação -, “eu faço como se eu fosse o outro -, diferente de achar que sou o outro.  Se a criança não entrar na identificação, não vai para o estágio simbólico, como é o caso da estrutura autista.
    A criança neurótica se reconhece como sujeito único no estádio do espelho e, ocupa  um lugar ou  outro.  Se a criança entra na fase projetista, ou seja, tem a imagem do outro como referência, para Lacan houve "amalgamento", não desenvolvimento, e, isso entra na estrutura psíquica daquele sujejto.  
   Neste sentido, é no "Outro"  que o sujeito se identifica, se projeta e, se experimenta desde a imagem especular, pois essa imagem tem efeito formador da função do “eu”.    
Contudo, a quebra definitiva da alienação da criança com a mãe ocorre durante os três tempos do Édipo, postulados por Lacan. Durante o primeiro tempo, o predominante é a relação fusional entre a criança e a mãe , - a criança está sujeita ao desejo desta. Com o surgimento da dialética de ser ou não ser o “desejo” da mãe -, é anunciada a entrada no segundo tempo do Édipo, no qual a presença paterna se faz sentir presente, com a intrusão do genitor na relação "mãe x criança".  Este tempo é fundamental para a entrada da dimensão simbólica na vida da criança, através da lei do pai (interdição), também denominado por Lacan de “recalque originário”, a qual eleva o pai à dignidade de pai simbólico. O genitor então se mostra como um suposto “objeto do desejo da mãe”, colocando a criança na dialética de ser ou não ser o único desejo da mãe. O terceiro e último tempo anuncia o declínio do Édipo. Aqui o pai precisa comprovar sua posse e, o seu lugar na tríade e, a sua lei é percebida de maneira simbólica pela criança, não é algo que pode ser imposto, acontece de forma subjetiva.
   O tratamento dado à relação mãe-criança pela psicanálise pode ser enxergado pela forma como as diferentes correntes psicanalíticas abordam a relação criança-objeto. É nessa perspectiva que abordo a relação mãe-criança, da forma como é  analisada  por Lacan e, alguns psicanalistas pós-freudianos, de modo  menos complexo, para esclarecer a teorização acerca da gênese das estruturações psíquicas. 
   É nessa abordagem que podemos entender como a transmissão de valores essenciais; a forma de amar; de acolher; de fazer escolhas; de dizer o que sente, tem muito da forma como cada sujeito foi estruturado na relação mãe-criança e, no desenrolar da tríade "mãe x criança- pai".
   Entender que é por meio dos semelhantes com quem convivemos, primeiramente, a  mãe, que é exercício de amor, afeto e compreensão, depois, o pai e, nossos mestres, que o desejo encontra as vias possíveis para sua circulação, que segue diferentes demandas dirigidas ao sujeito.

Todo ensinamento Freudiano, tal como Lacan esforçou-se para lembrar e elucidar leva-nos a entender a exata medida dessa função principal do simbólico no curso do destino psíquico de cada sujeito.


... Alinhavando os meus estudos e leituras em Freud e Lacan, desde 2007 -, Maria Teixeira. 


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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Limites

     A  palavra “limite” tem sido utilizada com muita frequência, nos  diálogos que envolvem  crianças e jovens.  É empregada  de forma “queixosa”.   É comum ouvirmos  exclamações do tipo:  “- Nossa! essas crianças não têm limites!”. Ou então, com um quê de autoritarismo: “- É preciso impor limites a essas crianças!”. Ou ainda, em tom de crítica: “-Esses pais não colocam limites nessas crianças!”. Enfim, tudo parece estar associado ao “limite”: a obediência, a disciplina, a questão da  moral, o respeito aos outros, ao espaço físico e as regras.  Nesse caso, a palavra “limite”  tem um sentido metafórico.   Mas, afinal, qual o verdadeiro sentido dessa palavra tão utilizada   nos contextos escolares  e  familiares?
    Pode-se dizer que “Limite”,  é um convite para passar para o outro lado.  É exatamente isso. O verdadeiro sentido, a explicação morfológica da palavra,  remete-nos à idéia de fronteira, de linha que separa territórios ou ainda,  um determinado espaço físico.   É como se disséssemos: “Esse é o limite da minha casa”.  Significa dizer que além dela, há algo que não é  mais minha casa.  O espaço não mais me pertence.  Ultrapassá-lo, seria invadir o espaço do outro.   Isso quer dizer que, atingido um determinado limite, há coisas que não posso e, não devo mais fazer. É muito comum quando crianças, ouvirmos dos adultos: “ -Você não tem mais idade para isso, ou ainda: “-Isso é coisa de criançinha!.  É quando a criança percebe que há idade para realizar determinadas coisas.   É quando a criança percebe  que, a sua idade não mais permitirá  fazer uma grande quantidade de coisas  interessantes!.
     Então,  amadurecer,  pode soar como algo que não é tão bom!.  Concluí-se que o lado de lá do limite é negativo.  Que com o passar do  tempo certas  ações  não são  mais permitidas.  
    Penso que para as crianças não deve ser tão fácil entender isso.   É cobrado delas “coisas” que ainda não conhecem.  E muitas vezes o tom não é nada agradável!.    Simplesmente, “ “isso não é mais para você!”.   “O que você  está fazendo?”. Vem, o “Isso pode”. “Isso não pode e, pronto!”.     E essa brusca ruptura ocorre exatamente por volta dos  6 a 7 anos.    A criança precisa abandonar determinados brinquedos, o colo.  Está na hora de ir à Escola. Chorar, nem pensar!.  A  professora que até então,  permitia-se  ser chamada de “tia”, agora é “professora tal”.   Muitas vezes, nesse momento, na escola,  cria-se  uma “barreira” entre a “professora” e o “aluno”.   Na Educação Infantil, ela tinha horários para brincadeiras e, algumas atitudes eram permitidas.    Agora, não tem  mais parque; correr, nem pensar...   E ainda, alguns reforçam: “-  Acabou a “moleza!”.  Agora, você vai estudar de verdade!”.   A maioria das aulas são expositivas .   E  o  brincar?!. Nem pensar!.   A criança é exposta em fileiras, uma carteira  atrás da outra  e, recebe muitas responsabilidades.    Agora, ela será avaliada por “nota”.; Tem a “tal” da  “prova”, dos pontos positivos e negativos.     E,   “o  medo”  se  instala  na criança.   Concluo que a escola para ela deixa de ser um espaço agradável.
    Logo, deixar de ser  “criançinha”,  parece não ser nada bom. Significa perder uma série de regalias,  coisas boas,  como: colo, afagos, brincadeiras.   Em outras palavras, o que a criança mais escuta é “- agora, você precisa mostrar resultados!”.  “Chega de brincadeiras”. “Hora de estudar é hora de estudar...”.   E, essa forma de lidar com o novo, pode contribuir para que permaneçam  infantis.   Afinal,  crescer  pra quê?.
   A passagem do 5o. para a 6o. ano, é uma das  passagens mais difíceis da vida escolar da criança, comparado a entrada na adolescência.
   A escola cobra da família: “seu filho não tem limites!”.  E isso gera uma  grande dúvida  na cabeça dos pais.  “Mas, que limite é esse?.   “Onde errei?”.   A  palavra está sendo empregada dentro de um contexto que já não se sabe o seu significado.  “Não ter limites é ser mal-educado?.  É ser indisciplinado?!. 
   Acredito que seja também dessa forma que a criança sentirá a necessidade ou não de  conhecer o outro lado; de ultrapassar os limites físicos e aceitar os restritivos. Talvez por isso, há tanta resistência às regras, as leis nos espaços compartilhados. 
  Nessa passagem, os adultos ficam investidos de muito poder sobre a criança, e imaginam controlar os seus desejos, aquilo que devem fazer. De certo modo passam a acreditar que podem determinar o futuro de seus filhos e alunos por meio do chamado "controle dos estímulos".  Ocorrem aí decepções dos pais, dos educadores quando percebem que não têm o domínio sobre "o desejo" do outro, mesmo que esse outro seja seu filho(a). 
   A mobilização interna é desejo do próprio sujeito e, somente dessa forma o sujeito estará aberto  ao novo.  E, é  nessa trajetória que ele se desenvolve,  se humaniza,  se reconhece,  se mostra ao outro; mostra suas  inscrições, aptidões, e, escolhas.
  O quadro atual  demonstra  que os pais das gerações anteriores,  agiram por pura incompetência  no  exercício  de  educar.   E,  os pais da geração atual,   devido  a preocupação de ter de estabelecer “limites” sem ser radical, nem permissivo, acaba também, agindo  por pura  incompetência,   e,   têm falhado..  
     Talvez, o caminho seja encontrar a "justa medida" de que trata Aristóteles, filósofo grego. 
    Outra crença que a modernidade alimenta é que a criança não pode ser frustrada senão ficará traumatizada. Então devemos satisfazê-las sempre. Esse engano tem traumatizado pais e professores.
   A psicanálise postula que deve haver certa dose de insatisfação, de frustração para que o sujeito adquira uma boa estrutura psíquica -, para que a troca  de uma coisa por outra ocorra de forma consistente e espontânea.   
   Sabe-se  que  a  criação das  gerações anteriores foram radicais demais;  a  seguinte,  liberal demais.   E, dessa forma,  os pais da  geração atual,  buscam aprender;  conhecer o que há sobre as questões do desenvolvimento infantil; as causas e as consequências  de  uma  educação  falha.  
   Hoje há discussões e um consenso entre escola e família de que deve haver a sujeição desse excesso de liberdade na educação dos pequenos. A família deve apresentar desde cedo os limites restritivos à criança para que ela entenda que no meio social compartilhado nem tudo é possível e, que certos comportamentos não são permitidos.    
  Na maioria das vezes  a dificuldade só aparece na iniciação escolar por volta de 6 ou 7 anos.   Quando a criança começa a mostrar no meio social as suas “inscrições”, ou seja, a forma como ela se estruturou, - o que a família fez dela.      
  É preciso saber que as operações mentais não se constroem do nada, se movimenta dentro do que pode e  do que não  se pode fazer.    A criança se apropria da informação, do espaço que lhe foi dado, e  a inteligência vai se classificando, organizando as informações e, fazendo as acomodações, conforme Piaget.  Neste sentido, a criança  se apropria dos  objetos, das  informações e, os transformam; constrói suas ideias, o  conhecimento se estrutura.
   É certo que são os pais que devem estabelecer os limites restritivos; mostrar os percalços. Esses limites são um dos pilares para uma boa educação, pois fornecem aquele sentimento de segurança física; aquilo que a criança necessita para aprender as grandes lições de  autocontrole  e  de  comportamento  ético.
   Quanto se trata de “Limites”, muitas vezes a dúvida permeia a cabeça dos pais em relação ao que fazer e como lidar com os comportamentos indesejados apresentados pela criança na escola. Não ter limites é o mesmo que ser indisciplinado?
    Disciplina é outra palavra muito utilizada nos contextos escolares e familiares. Empregada também com frequência, em geral de forma queixosa.  Então,  cabe aqui defini-la.  Em sua origem, a palavra disciplina tem a ver com discípulo.  Discípulo é uma pessoa que tem alguém como modelo e, se entrega pelo valor que atribui a essa pessoa.  Esse  é  outro tema bastante difundido  nas discussões que envolvem crianças e jovens, também usado de forma indiscriminada.    Para o especialista em Disciplina, Lino de Macedo (2005), “Disciplina não é questão de boa  ou má conduta".   Disciplina se aprende, é uma competência escolar que as crianças aprendem como qualquer conteúdo. É uma disciplina interdisciplinar, porque dela dependem de todas as outras”.   Lino acredita que “o maior erro da escola é pensar que existe um único tipo de disciplina e que ela só pode ser imposta”.   Para  Macedo,  é possível ensinar disciplina  e, pode-se conquistar o aluno para um projeto de disciplina conseguindo por exemplo, a admiração dele.   E por outro lado,  afirma que “muita disciplina, controle obsessivo,  e  ordem podem prejudicar a criatividade das crianças”. E ainda, que “convencer é diferente de impor”. De fato, as pessoas costumam ouvir  mais  e  respeitar as pessoas a quem admiram.  Então, o caminho  é  encantar, conquistar as crianças, ganhar a admiração delas!
     Quanto à questão da “indisciplina” e do “limite’, sua falta e necessidade,  os adultos também carecem delas!.    Fala-se muito que as crianças de hoje não têm limites.  Mas, os adultos, também não têm.  Em uma sociedade capitalista como a nossa, da competitividade,  não se tem horários regulares para nada, nem mesmo para as refeições.   Logo,  os adultos não têm uma rotina regular para organizar a sua vida e nem mesmo a vida de seus filhos.    É justificável  essa “indisciplina”  por parte dos adultos, pois é entendido os motivos dessa irregularidade.   Mesmo assim, devemos cobrar e, esperar um comportamento regular por parte das crianças.
   É certo de que o adulto precisa estabelecer as regras e os limites e, mostrar  o que quer que a criança. E, isso só ocorre por meio dos bons exemplos.  Afinal, a criança em formação, segue modelos e, estando em formação, precisa da experiência do adulto para se organizar no meio social. 
    Sabe-se que é a própria relação entre as pessoas que promove o crescimento e, é por isso que  considerando a visão interacionista, acredito que “... O ato de educar é também essencialmente relacional e não individual.”; que a troca de experiência,  ideias,  pensamentos enriquecem  a  relação quer seja entre pais x filhos ou professor x aluno.   E que, assim como as crianças, os adultos precisam ser argumentativos o suficiente para conseguir delas uma disciplina voluntária, por exemplo. 
     Vejo que muitas vezes  pais e professores “impõem” o que quer que a criança faça,  sem justificar,  sem convencer de que  aquilo é  melhor, sem responder aos por quês.  Isso sim é traumático  e  torna qualquer relação desgastada.   É certo que algumas crianças atendem e, fazem sem argumentar  e outras,  veem carregadas  de “por quês? Há as que são mais argumentativas e, fazem mais barulho do que outras.   E esse "barulho" simplesmente, incomoda -, não é observado, investigado pelos responsáveis por ela. Perde-se a oportunidade de aproveitar o argumento para tornar a regra consistente para todos. Muitos desgastes e contratempos poderiam ser evitados nas relações escolares e familiares se o diálogo fosse praticado com mais frequência.
 Por isso, os adultos precisam ser tão argumentativos  quanto às crianças para garantir a transmissão de valores, respeito mútuo e, os  limites restritivos tão cobrados nos dias de hoje.    
 (Adaptação de Texto - Livro: Limites: Como lidar com os pequenos?. Maria Teixeira.—1ª. Ed. São Paulo: Edição do Autor, 2014. 
   https://clubedeautores.com.br/book/170717--Limites
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