O Objetivo do Blog

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O subjetivismo do sujeito egocêntrico

     Há uma fase do desenvolvimento infantil que as crianças ainda egocêntricas têm dificuldade de compartilhar brinquedos e outros objetos. Pode parecer, mas não se trata de uma atitude egoísta. Isso ocorre porque elas ainda não sabem coordenar seu ponto de vista com o do outro e estão construindo a idéia de propriedade, ou seja, precisam aprender a diferenciar o que é dela, o que é do outro e o que é de todos. Essa fase é chamada de egocentrismo e, se refere a um pensamento realista centrado no ponto de vista da criança. Ela não conhece outras perspectivas diferentes das suas e acredita que todos ao seu redor percebem, sentem e pensam da mesma maneira, ou seja, o mundo gira em torno dela. Além disso, não vê necessidade de explicar aquilo que diz ou faz, porque acredita que será sempre compreendida.  
     A criança pode ter dificuldade para lidar com frustrações porque percebe nada além do seu próprio desejo e sentimento. Para demonstrar sua insatisfação e ter suas vontades atendidas essas crianças podem  até fazer birras para chamar a atenção dos pais e professores; apresentar-se agressiva, melancólica, se fazer de vítima diante das situações de conflito. Nesse processo é importante os educadores (pais e professores) serem pacientes, mostrar-se firmes nos seus argumentos e, não entrar no drama da criança. O objetivo é envolver a criança na resolução de seu conflito e, não criar clima e confundir ainda mais seus sentimentos. Nesses momentos é esperado a compreensão do adulto para que futuramente ela possa fazer isso com independência. Porém, compreendê-la e ajudá-la a identificar seus sentimentos é diferente de passar a mão na cabeça. É momento de levá-la para um lugar privativo, deixá-la estravazar e depois, conversar com ela com calma.   Ao promover essas intervenções com frequência permitiremos que a criança construa sua identidade, reconheça seu jeito de ser e suas contradições em relação ao outro e aos acontecimentos do dia a dia.  
  Hoje em dia, é muito comum encontrarmos crianças por volta de 7 anos ainda com uma lógica  egocêntrica.   Aquele egocentrismo que é próprio da criança de  2 a 4 anos.  São sujeitos que têm critérios particulares e individuais. No lugar social, na escola, por exemplo, tende a ter problemas, pois,  se depara com critérios e regras que devem ser compartilhadas. É a criança que ainda não aprendeu a dividir, a ser solidária e é pouco sociavel.  
 A criança egocêntrica é aquela que se centra no seu próprio ego: ego + centro, ou seja, centra-se em si mesmo. Os pais pais observadores devem ajudá-las a elaborar suas idéias e conceito das coisas, das pessoas e do mundo para que não permaneçam nesse lugar negativo e de dificil acesso.
  O egocêntrico considera que tudo "gira ao seu redor"; que  é o centro do universo.  A pessoa que se desenvolve e cresce com uma estrutura egocêntrica está sempre preocupada com sua causa exclusiva ou principalmente com os seus próprios interesses e bem-estar, geralmente, tem pouca consideração e apreço pelo outro.  O egocêntrico é conhecido como uma pessoa egoísta e, atrai a atenção das pessoas de forma negativa. É por isso que não existe nada nem ninguém além da pessoa egocêntrica, Os egocêntricos estão enamorados deles mesmos e de  símbolos de status, ou seja, objetos que fazem os outros olhar, admirar, invejar, sonhar, comparar ou se inspirar. O egocêntrico desfila suas possíveis qualidades, exibe-as, consome visivelmente sua prepotência e  se deslumbra com as futilidades da vida.
   O sujeito egocêntrico adora ser elogiado, mas, é incapz de elogiar. Gosta de chamar a atenção para si compulsivamente, gaba-se de seus feitos, de suas conquistas mesmo quando realizados em equipe, ou seja, lhe dá destaque incessantemente.  Dizer que um sujeito é egocêntrico, é o mesmo que dizer que é egoísta, prepotente e, muitas vezes debochado.  Ele não se importa com os demais. Existem dois tipos de egocentrismo, - um é aquele que se acha o centro de tudo, que é o autor de todos os feitos e ninguém tem importância a não ser ele próprio. O outro perfil é voltado à realidade, é o centro do universo, todos têm importância para ele como se fosse ele próprio, porque toda dor ou alegria que sente é egocêntrica; sente-se confuso mediante ao fato de ser o único ser em todo espaço ilimitado a ser o centro e, conhecedor de tudo,  centralizado em si, por achar-se uma sumidade ou um ser soberano. 
     Na hora de educar, todo cuidado é pouco com os elogios.  Somos movidos a elogios, e com a criança isso não é diferente mas, os exageros na educação da criança pode contribuir para a formação de um sujeito com o egocêntrico exagerado. Rotulá-los como “príncipes” e “princesas” é envaidecer demais o seu ego. 
    Elogiar o próprio filho, celebrar seus talentos, ficar feliz com seus feitos e acertos, se orgulhar de suas qualidades é uma das delícias de ser pai e mãe. Impossível não se envaidecer ao ver sua criança  crescendo, se impondo, decidindo e realizando seus feitos, construindo coisas, adquirindo independência. No entanto, muitos pais têm perdido a medida dessa alegria. 
     Realizar todas as vontades de uma criança  em fornmação é deixa-la livre demais para decider o que ainda não compete a ela. Deixar a criança fazer tudo o que quer e quando quer na ilusão de que está respeitando a sua liberdade, não está sendo invasivo(a), pode ser no mínimo um descuido. É diferente de mostrar que acredita nela, nas suas escolhas, mas, ir fazendo os ajustes nos momentos certos. Isso fortalecerá sua auto-estima, independência, fará dele um sujeito corajoso e confiante em si mesmo. O contrário pode ser um engano que poderá afetar inclusive o caráter de um ser em formação. Os elogios sem critérios criam adultos frágeis e egocêntricos. É formar um ser cheio de si  e vaidoso demais com ele próprio e, apesar de se ver como ser único e impecável, é na verdade um pessoa frágil, porque não foi preparada para enfrentar as dificuldades e as frustrações, logo, são sujeitos com dificuldade de relacionamento e, evitadas por muitos. Uma grande quantidade de filhos criados nessas condições passa agora pela adolescência e os resultados começam a ser vistos com mais clareza nos meios sociais, na sociedade como um todo.
Na maioria das vezes, essa caraterística pode ser percebida muito precocemente, na entrada para a escola e se não for pontuado, corrigido,  ou trabalhado nem na escola, nem na família isso se propaga no seu meio social e será sentido por todos.   
  Devemos considerar a subjetividade de cada sujeito, porém, o responsável pela formação de uma criança não pode ser omisso e deixar uma criança crescer com um subjetivismo exagerado. Um sujeito com o subjetivismo exagerado é logo notado pelo uso exagerado de verbos na primeira pessoa.  A opinião dele é sempre parcelada; baseia-se nas sensações do que captam e, na perspectiva de aparecer diante do grupo. Outra característica comum a ele, é a de que tudo sabe, mais fala do que ouve. Atitudes de superioridade, individualidade, centralidade, orgulho por si podem são observadas, porém se contradiz com muita freqüência na sua onipotência ingênua. Outra característica,  quando pequenos normalmente fazem birras, e escândalos chamando a atenção de todos em lugares públicos. A postura equivocada na educação dos pais de não intervir e deixar o filho(a) se desenvolver com essa caracteróstica entra em crise com os valores éticos, sociais, ausência do bom senso e o respeito pela verdade e pelo outro que são tão exigidos no meio social.
   A  nossa cultura está marcada pela supremacia do individualismo evidenciado em um grande número de pessoas, mas podemos melhorar esse quadro. O individualismo do sujeito egocêntrico se manifesta na arbitrariedade que é uma atitude de poder, de julgamento, de superioridade, de centralidade e, de dominação do outro ou de um grupo. Essa arbitrariedade na formação da estrutura dos pequenos significa desobediência, rebeldia, falta de respeito,  falta de limites, e, isso será praticado na vida adulta. Será aquele sujeito individualista, que desvaloriza o bem comum, a justiça social, desafia a lei, sem compaixão, não sabe diferenciar o que é legal e imoral.  Essa característica pode levá-lo a ser um sujeito  ambicioso, ganancioso, que visará apenas o lucro e o seu próprio bem. Medirá o valor das pessoas pelo o que ela tem. Para esses sujeitos, o valor material vai sempre prevalecer ao valor moral.  É aquela postura onde o “ter mais” vence o “ser mais”  e, cresce a indiferença por aqueles que têm menos e o preconceito é instalado.  Pode tornar-se insensível, cego, escravo de cálculos, do dinheiro e, viverá  perdido nas suas ambições e suas pretenções.  
   Os excessos de elogios, liberdade demais, a falta de hierarquia podem ser prejudiciais para a formação humana. Há muitas espécies de liberdade. O homem é livre por ter o poder de escolha. mas, podemos dizer que algumas pessoas têm o mundo de menos, outras têm o mundo de mais.  Há aquela liberdade indesejável,  aquela que permite diminuir a liberdade do outro, em favor do próprio desejo -, o  achar que tudo pode e, que não há ninguém mais importante  do que eu mesmo.
     A questão da liberdade, sempre me remete ao modo de vida dos animais. Os animais, por exemplo, podem dispensar o governo, a educação obrigatória, o código de trânsito, as regras sociais, pois, para eles não há complicações, agem  por intuição e, tudo se resolve com um bom cuidado, sem discussões, pois, não tem escolha. Está ali o animal e o seu dono que pensa, que decide tudo por ele. O animal é sempre um bebê. Os animais gozam de um alto grau de liberdade; contudo, acredito que poucos homens civilizados prefeririam viver como eles vivem a viver no seio de uma comunidade mais organizada que pensa, reflete, pode fazer a diferença e pode melhorar o mundo que o cerca. A criança precisa entender desde cedo que na vida organizada, o respeito a liberdade é requisito indispensável para a obtenção de muitos de seus desejos.  Ainda, que a liberdade não constitua o total das coisas que socialmente desejamos, ela é necessária para a obtenção da maioria delas. 
      Ao educar um novo ser, ao prepará-lo para a vida em sociedade não podemos correr o risco de exagerar na importância da liberdade; devemos saber a necessidade de sua ponderação, ou ainda, educar de forma democrática, sem exageros, em que a liberdade amadureça no confronto com outras liberdades, na defesa de seus próprios direitos e respeito aos direitos dos outros. 

                                                                                                      Maria Teixeira, 
                                                                     Psicopedagoga e especialista em linguagem 
                                                                      m.teixeira@uol.com.br 
Fonte: Livro: Maria, Teixeira. Limites: Como lidar com os pequenos?
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