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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Educação e Subjetividade

     As aprendizagens, desde a leitura e a escrita, estão inscritas como trocas simbólicas que vão fazendo sentido para o sujeito no momento de suas criações, produções. Para isto um NÃO firme e consistente precisa ser introduzido desde muito cedo, um não firme e carinhoso que mostre as diferenças, as alternativas de troca para a criança, as alternativas de construção no plano simbólico daquilo que ela perde no particular do imaginário infantil e ganha no social.
  O acesso à cultura só é possível com uma certa dose de insatisfação, de trabalho por onde a cultura entra enquanto substituição, enquanto troca simbólica.  A criança deve trocar uma "coisa" por outra para ter acesso a cultura. A cultura enquanto um "Outro lugar" que não o infantil (lugar privativo). A Escola é o lugar das trocas simbólicas -, para algumas crianças, trocar, substituir implica em mais sofrimento interior do que para outras, e, diante do sofrimento -, ela deseja ficar no seu lugar privativo, pois lá, muitas coisas que não são permitidas no social, lhes são permitidas.  
   Quero dizer que é aquele NÃO, o estabelecimento dos limites restritivos (regras e normas sociais) que introduz as relações simbólicas na criança. Faz parte da formação integral do sujeito. É o que promove a possibilidade de ele ter acesso sem intercorrências ao cognitivo (a forma de apreender as novas informações); ao afetivo (a forma como ele se relacionará com os outros) e, o desenvolvimento de uma moral introjetada (disciplina interior), que tem muito do sujeito, do seu caráter. E, isso, é a família que tem de passar.
    A Educação moderna, ao se construir como liberalismo, dissimulou a repreensão, disfarçando os controles e a disciplina, e legitimou um tipo de “não pode" diferente, dentro desse "não”, há sempre uma possibilidade de sim. Parece que o respeito as vontades dos filhos, a sua liberdade de pensamento, o medo de frustrar, entre outras coisas, criou um mesmo modelo de desempenho padronizado para todos. Logo, a individualidade se instalou nessa nova geração e, as trocas simbólicas sempre implicam em sofrimento. 
     A legitimação da criança como sujeito da lei simbólica, da linguagem, se efetiva na educação escolar através da construção da leitura e escrita formalizadas a  partir da lei da cultura. Pois a educação escolar transmite a lei simbólica e sustenta seu lugar social ao ensinar a leitura e escrita socialmente compartilhadas nos primeiros anos escolares, para que outras aprendizagens entrem de forma natural. Mas, para a criança essa travessia implica em idas e vindas, implica em conflitos do sujeito diante da lei, posições específicas diante da lei, das regras necessárias para que a cultura entre. Isso produz diferentes formas de subjetividade. Pois a lei implica em trocas simbólicas, e as trocas simbólicas implicam em perder algo, implicam em substituições, em ausência de algo para que este algo possa ser simbolizado... Enfim, é necessário uma dose de insatisfação... Condições difíceis, uma vez que a imagem, o prazer imediato, a satisfação plena, a não-frustração, o ganhar sempre....dominam as formações sociais e contaminam os princípios pedagógicos da sociedade contemporânea.

   No momento da alfabetização, Ler e Escrever são concebidos de forma rigorosa, pois, antes disso, a criança deve ter experimentado outras trocas no seu lugar particular, na família -, as trocas, as substituições, o respeito e aceitação às regras, pois, as operações estruturadas na linguagem não se “desenvolvem” naturalmente; são construções árduas e difíceis, pertinentes à vida do homem nas trocas simbólicas da vida em sociedade, portanto envolvidas na maioria das vezes, em uma dose de mal estar. 
    Na escola, cabe ao professor alfabetizador, além de alfabetizar, apresentar a lei simbólica presente na leitura e na escrita  pra que a criança esteja aberta às novas aprendizagens. 
     Quando as trocas e substituições ainda não ocorreram, a psicopedagogia entra como um terceiro na relação mãe x pai x criança para acompanhar as dificuldades do sujeito de acesso a sua cultura operando trocas simbólicas na sua travessia pelo ato educativo em seu acesso à lei simbólica, ao código simbólico transmitido na escola. Para tanto, a intervenção psicopedagógica deve sustentar-se no ato educativo e sustentá-lo como ato que socializa e subjetiviza as trocas simbólicas para a criança para que o acesso a cultura entre e, as novas aprendizagens se efetivem.  



  Maria Teixeira

www.psicopedagogamariateixeira.com.br

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