O Objetivo do Blog

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A Psicopedagogia e a sua prática

      Cabe aqui informar que diferentemente do que muitos pensam a Psicopedagogia não é uma área nova. Os primeiros centros voltados para atendimentos psicopedagógicos propriamente ditos surgem na França em 1946.  A psicopedagogia recebe as influências desses primeiros movimentos franceses que estavam já marcados por uma diversidade na compreensão dos sintomas e dos tratamentos. Esses conhecimentos são levados à Argentina e, no Brasil em 1954, organiza-se o primeiro curso de orientação psicopedagógica, patrocinado pelo Centro de Pesquisas e Orientação  Educacional, da Secretaria de Educação de Porto Alegre.
   Quanto a sua atuação há variedades de práticas, conceitos, pesquisas e condutas de trabalho.  No entanto, há um consenso quanto ao fato de que a psicopedagogia deve-se ocupar-se em estudar a aprendizagem humana e, todas as manifestações no processo de aprendizagem da criança. A  psicopedagoga(o) não é professora particular, nem mesmo uma alfabetizadora. Muitas vezes, a intervenção ocorre por meio de parcerias com profissionais da Psicologia, Fonoaudiologia, Psicanálise e da Pedagogia (professor).
      A psicopedagoga deve ocupar-se em entender como funciona  a aprendizagem para a criança e,  intervir quando algo atrapalha o seu processo de aprendizagem, seja na família, seja na escola. E temos duas ferramentas fundamentais que são fundamentais: a "escuta" e a "observação.
    É por meio do trabalho cooperativo, - família, escola, criança, que espera-se adquirir um conhecimento total da criança, do seu meio, do seu desejo, e é o que se torna possível a compreensão de cada caso para início das intervenções e/ou encaminhamentos, quando necessários.
Ao iniciar um diagnóstico, deve-se desconsiderar os "rótulos" ou diagnósticos irresponsáveis (sem comprovação científica), que muitas vezes chegam com a criança, como: hiperatividade, déficit de atenção, dislexia, disfunção cerebral leve, etc. As especulações ainda ocorrem porque a escola percebe o "problema", não sabe lidar e, encaminha a criança para profissionais da área médica ou outras instituições (Psicólogos, neuropsiquiatrias, etc).  A consequência desse tipo de prática é geralmente desastrosa, e serve para a perpetuação de rótulos ou marcas que podem inviabilizar a aprendizagem da criança por desistência dos envolvidos –  a criança, a família, escola.  Muitas vezes, a primeira intervenção é tirá-la(a) desse lugar de desacreditado.
 Sobre os chamados "problemas de aprendizagem', compartilho uma compreensão a partir da psicanálise de que a criança apresenta "sintomas" e não "um problema". O “sintoma” toma forma no sujeito, afetando a dinâmica de articulação entre os níveis de sua inteligência, do seu desejo, do seu organismo e do seu corpo como um todo. Por isso, não há uma técnica de atendimento e tudo acontece na verdade de cada caso.
Atuo sempre com o entendimento do verdadeiro papel da(o) psicopedagoga(o),-  atuar com a certeza de que cada caso que a nós é confiado tem  a sua verdade e, uma conduta específica de atendimento.

                                                                                               Maria Teixeira
                                  Psicopedagoga e especialista em linguagem pela PUC/SP
                               m.teixeira@uol.com.br

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O subjetivismo do sujeito egocêntrico

     Há uma fase do desenvolvimento infantil que as crianças ainda egocêntricas têm dificuldade de compartilhar brinquedos e outros objetos. Pode parecer, mas não se trata de uma atitude egoísta. Isso ocorre porque elas ainda não sabem coordenar seu ponto de vista com o do outro e estão construindo a idéia de propriedade, ou seja, precisam aprender a diferenciar o que é dela, o que é do outro e o que é de todos. Essa fase é chamada de egocentrismo e, se refere a um pensamento realista centrado no ponto de vista da criança. Ela não conhece outras perspectivas diferentes das suas e acredita que todos ao seu redor percebem, sentem e pensam da mesma maneira, ou seja, o mundo gira em torno dela. Além disso, não vê necessidade de explicar aquilo que diz ou faz, porque acredita que será sempre compreendida.  
     A criança pode ter dificuldade para lidar com frustrações porque percebe nada além do seu próprio desejo e sentimento. Para demonstrar sua insatisfação e ter suas vontades atendidas essas crianças podem  até fazer birras para chamar a atenção dos pais e professores; apresentar-se agressiva, melancólica, se fazer de vítima diante das situações de conflito. Nesse processo é importante os educadores (pais e professores) serem pacientes, mostrar-se firmes nos seus argumentos e, não entrar no drama da criança. O objetivo é envolver a criança na resolução de seu conflito e, não criar clima e confundir ainda mais seus sentimentos. Nesses momentos é esperado a compreensão do adulto para que futuramente ela possa fazer isso com independência. Porém, compreendê-la e ajudá-la a identificar seus sentimentos é diferente de passar a mão na cabeça. É momento de levá-la para um lugar privativo, deixá-la estravazar e depois, conversar com ela com calma.   Ao promover essas intervenções com frequência permitiremos que a criança construa sua identidade, reconheça seu jeito de ser e suas contradições em relação ao outro e aos acontecimentos do dia a dia.  
  Hoje em dia, é muito comum encontrarmos crianças por volta de 7 anos ainda com uma lógica  egocêntrica.   Aquele egocentrismo que é próprio da criança de  2 a 4 anos.  São sujeitos que têm critérios particulares e individuais. No lugar social, na escola, por exemplo, tende a ter problemas, pois,  se depara com critérios e regras que devem ser compartilhadas. É a criança que ainda não aprendeu a dividir, a ser solidária e é pouco sociavel.  
 A criança egocêntrica é aquela que se centra no seu próprio ego: ego + centro, ou seja, centra-se em si mesmo. Os pais pais observadores devem ajudá-las a elaborar suas idéias e conceito das coisas, das pessoas e do mundo para que não permaneçam nesse lugar negativo e de dificil acesso.
  O egocêntrico considera que tudo "gira ao seu redor"; que  é o centro do universo.  A pessoa que se desenvolve e cresce com uma estrutura egocêntrica está sempre preocupada com sua causa exclusiva ou principalmente com os seus próprios interesses e bem-estar, geralmente, tem pouca consideração e apreço pelo outro.  O egocêntrico é conhecido como uma pessoa egoísta e, atrai a atenção das pessoas de forma negativa. É por isso que não existe nada nem ninguém além da pessoa egocêntrica, Os egocêntricos estão enamorados deles mesmos e de  símbolos de status, ou seja, objetos que fazem os outros olhar, admirar, invejar, sonhar, comparar ou se inspirar. O egocêntrico desfila suas possíveis qualidades, exibe-as, consome visivelmente sua prepotência e  se deslumbra com as futilidades da vida.
   O sujeito egocêntrico adora ser elogiado, mas, é incapz de elogiar. Gosta de chamar a atenção para si compulsivamente, gaba-se de seus feitos, de suas conquistas mesmo quando realizados em equipe, ou seja, lhe dá destaque incessantemente.  Dizer que um sujeito é egocêntrico, é o mesmo que dizer que é egoísta, prepotente e, muitas vezes debochado.  Ele não se importa com os demais. Existem dois tipos de egocentrismo, - um é aquele que se acha o centro de tudo, que é o autor de todos os feitos e ninguém tem importância a não ser ele próprio. O outro perfil é voltado à realidade, é o centro do universo, todos têm importância para ele como se fosse ele próprio, porque toda dor ou alegria que sente é egocêntrica; sente-se confuso mediante ao fato de ser o único ser em todo espaço ilimitado a ser o centro e, conhecedor de tudo,  centralizado em si, por achar-se uma sumidade ou um ser soberano. 
     Na hora de educar, todo cuidado é pouco com os elogios.  Somos movidos a elogios, e com a criança isso não é diferente mas, os exageros na educação da criança pode contribuir para a formação de um sujeito com o egocêntrico exagerado. Rotulá-los como “príncipes” e “princesas” é envaidecer demais o seu ego. 
    Elogiar o próprio filho, celebrar seus talentos, ficar feliz com seus feitos e acertos, se orgulhar de suas qualidades é uma das delícias de ser pai e mãe. Impossível não se envaidecer ao ver sua criança  crescendo, se impondo, decidindo e realizando seus feitos, construindo coisas, adquirindo independência. No entanto, muitos pais têm perdido a medida dessa alegria. 
     Realizar todas as vontades de uma criança  em fornmação é deixa-la livre demais para decider o que ainda não compete a ela. Deixar a criança fazer tudo o que quer e quando quer na ilusão de que está respeitando a sua liberdade, não está sendo invasivo(a), pode ser no mínimo um descuido. É diferente de mostrar que acredita nela, nas suas escolhas, mas, ir fazendo os ajustes nos momentos certos. Isso fortalecerá sua auto-estima, independência, fará dele um sujeito corajoso e confiante em si mesmo. O contrário pode ser um engano que poderá afetar inclusive o caráter de um ser em formação. Os elogios sem critérios criam adultos frágeis e egocêntricos. É formar um ser cheio de si  e vaidoso demais com ele próprio e, apesar de se ver como ser único e impecável, é na verdade um pessoa frágil, porque não foi preparada para enfrentar as dificuldades e as frustrações, logo, são sujeitos com dificuldade de relacionamento e, evitadas por muitos. Uma grande quantidade de filhos criados nessas condições passa agora pela adolescência e os resultados começam a ser vistos com mais clareza nos meios sociais, na sociedade como um todo.
Na maioria das vezes, essa caraterística pode ser percebida muito precocemente, na entrada para a escola e se não for pontuado, corrigido,  ou trabalhado nem na escola, nem na família isso se propaga no seu meio social e será sentido por todos.   
  Devemos considerar a subjetividade de cada sujeito, porém, o responsável pela formação de uma criança não pode ser omisso e deixar uma criança crescer com um subjetivismo exagerado. Um sujeito com o subjetivismo exagerado é logo notado pelo uso exagerado de verbos na primeira pessoa.  A opinião dele é sempre parcelada; baseia-se nas sensações do que captam e, na perspectiva de aparecer diante do grupo. Outra característica comum a ele, é a de que tudo sabe, mais fala do que ouve. Atitudes de superioridade, individualidade, centralidade, orgulho por si podem são observadas, porém se contradiz com muita freqüência na sua onipotência ingênua. Outra característica,  quando pequenos normalmente fazem birras, e escândalos chamando a atenção de todos em lugares públicos. A postura equivocada na educação dos pais de não intervir e deixar o filho(a) se desenvolver com essa caracteróstica entra em crise com os valores éticos, sociais, ausência do bom senso e o respeito pela verdade e pelo outro que são tão exigidos no meio social.
   A  nossa cultura está marcada pela supremacia do individualismo evidenciado em um grande número de pessoas, mas podemos melhorar esse quadro. O individualismo do sujeito egocêntrico se manifesta na arbitrariedade que é uma atitude de poder, de julgamento, de superioridade, de centralidade e, de dominação do outro ou de um grupo. Essa arbitrariedade na formação da estrutura dos pequenos significa desobediência, rebeldia, falta de respeito,  falta de limites, e, isso será praticado na vida adulta. Será aquele sujeito individualista, que desvaloriza o bem comum, a justiça social, desafia a lei, sem compaixão, não sabe diferenciar o que é legal e imoral.  Essa característica pode levá-lo a ser um sujeito  ambicioso, ganancioso, que visará apenas o lucro e o seu próprio bem. Medirá o valor das pessoas pelo o que ela tem. Para esses sujeitos, o valor material vai sempre prevalecer ao valor moral.  É aquela postura onde o “ter mais” vence o “ser mais”  e, cresce a indiferença por aqueles que têm menos e o preconceito é instalado.  Pode tornar-se insensível, cego, escravo de cálculos, do dinheiro e, viverá  perdido nas suas ambições e suas pretenções.  
   Os excessos de elogios, liberdade demais, a falta de hierarquia podem ser prejudiciais para a formação humana. Há muitas espécies de liberdade. O homem é livre por ter o poder de escolha. mas, podemos dizer que algumas pessoas têm o mundo de menos, outras têm o mundo de mais.  Há aquela liberdade indesejável,  aquela que permite diminuir a liberdade do outro, em favor do próprio desejo -, o  achar que tudo pode e, que não há ninguém mais importante  do que eu mesmo.
     A questão da liberdade, sempre me remete ao modo de vida dos animais. Os animais, por exemplo, podem dispensar o governo, a educação obrigatória, o código de trânsito, as regras sociais, pois, para eles não há complicações, agem  por intuição e, tudo se resolve com um bom cuidado, sem discussões, pois, não tem escolha. Está ali o animal e o seu dono que pensa, que decide tudo por ele. O animal é sempre um bebê. Os animais gozam de um alto grau de liberdade; contudo, acredito que poucos homens civilizados prefeririam viver como eles vivem a viver no seio de uma comunidade mais organizada que pensa, reflete, pode fazer a diferença e pode melhorar o mundo que o cerca. A criança precisa entender desde cedo que na vida organizada, o respeito a liberdade é requisito indispensável para a obtenção de muitos de seus desejos.  Ainda, que a liberdade não constitua o total das coisas que socialmente desejamos, ela é necessária para a obtenção da maioria delas. 
      Ao educar um novo ser, ao prepará-lo para a vida em sociedade não podemos correr o risco de exagerar na importância da liberdade; devemos saber a necessidade de sua ponderação, ou ainda, educar de forma democrática, sem exageros, em que a liberdade amadureça no confronto com outras liberdades, na defesa de seus próprios direitos e respeito aos direitos dos outros. 

                                                                                                      Maria Teixeira, 
                                                                     Psicopedagoga e especialista em linguagem 
                                                                      m.teixeira@uol.com.br 
Fonte: Livro: Maria, Teixeira. Limites: Como lidar com os pequenos?
Para adquirí-lo: segue o link
https://www.clubedeautores.com.br/book/170717--Limites#.VvZ9dtIrLIU


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Analfabetismo Funcional - Uma triste realidade de nosso país...

   A UNESCO define analfabeto funcional como toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, assim como lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém, é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocarem idéias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas.

   No Brasil, o índice de analfabetismo funcional é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram o Ensino Fundamental I (5º.Ano). O conceito, porém, varia de acordo com o país. Na Polônia e no Canadá, por exemplo, é considerado analfabeto funcional a pessoa que possui menos de 8 anos de escolaridade e, nesses países, há reprovação.

    Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de 1/3 dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso e às novas tecnologias que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a adaptar-se às mudanças sociais e culturais.

     O Brasil tem 33 milhões de analfabetos funcionais (cerca de 18% da população), ou seja, pessoas com menos de quatro anos de estudo, e 16 milhões de pessoas com mais de 15 anos que ainda não foram alfabetizadas. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    O analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados e em desenvolvimento. No Brasil, 75% das pessoas entre 15 e 64 anos não conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Esse número inclui os 68% considerados analfabetos funcionais e, os 7% considerados analfabetos absolutos, sem qualquer habilidade de leitura ou escrita. Apenas 1 entre 4 brasileiros consegue ler, escrever e utilizar essas habilidades para continuar aprendendo.

    Diante do quadro, a lei do sistema de “Progressão continuada” ampliação do tempo escolar foi sancionada em 2006. As escolas de Ensino Fundamental brasileiro não devem reprovem mais seus alunos.  A crença era de que o docente poderia mudar a configuração das escolas públicas do Brasil e que ele seria capaz de despertar o interesse dos alunos se o seu tempo fosse respeitado. Parece que acreditaram que tinham achado a solução para a qualidade da educação brasileira.
     A Lei Sancionada em 6 de fevereiro de 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei nº 11.274 – que tornou obrigatória a ampliação do ensino fundamental – ainda gera dúvidas entre dirigentes no que diz respeito à adaptação dos sistemas e ao que se espera de cada série. As orientações do CNE pretendem mostrar que ampliar essa etapa da educação básica não significa apenas oferecer mais um ano de atividades aos alunos.  A mais importante recomendação sobre a lei, segundo o presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, César Callegari, diz respeito à repetência escolar. Callegari, encarregado de elaborar o documento, garantia que o prejuízo causado por uma reprovação “aos seis anos de idade”, no primeiro ano de alfabetização, como ocorria naquele contexto, poderia ser irreversível. E, visava diminuir a estatística de 80 mil crianças com seis anos de idade reprovadas em 2009.

    Então, o artigo artigo 26 das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental afirma que, “...nos três primeiros anos do ensino fundamental, deve ser “assegurado” a todas as crianças “o princípio da continuidade da aprendizagem” nesse período”. Isso significa que as escolas municipais e estaduais responsáveis pelo ensino fundamental não devem reprovar os alunos do 1º e do 2º anos dessa etapa. Mesmo que o sistema seja seriado, as escolas devem encarar essa fase como um "bloco pedagógico". A avaliação do aproveitamento do aluno passou a ser acompanhada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB.

   Os alunos da rede pública realizam anualmente a “Prova Brasil/ANRESC” promovida pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, que determina o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB. É um indicador de qualidade educacional que sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática.

   ANRESC são exames padronizados aplicados aos estudantes ao final das etapas de ensino fundamental. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolares, e média de desempenho na Avaliação da Prova ANRESC. Lei Distrital N° 5.128, de 04 de julho de 2013, que dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação do IDEB nos estabelecimentos públicos e particulares de ensino do Distrito Federal.
    A preocupação do Brasil era baixar o índice de analfabetismo. Sem dúvida nenhuma algo precisava ser feito. Então, o objetivo era alfabetizar mais crianças com melhor qualidade de ensino. Essa era a questão: qualidade e não quantidade.

     Parece que a idéia foi mal entendida -, “progressão continuada” e “aprovação automática” são conceitos diferentes.  Progressão continuada é uma maneira de organizar o tempo escolar, que foi imediatamente confundido com “aprovação contínua” ou “aprovação automática”.  A “aprovação automática” quer dizer sem avaliação, sem orientação, sem cobrança, sem algum apoio. Sendo assim, sem nenhum critério, o aluno é empurrado adiante, correndo ele os riscos de não estar preparado para nada e podendo, mais tarde, atribuir à escola - com razão - o abandono a que foi submetido, sem ter nenhum tipo de orientação.

    Progressão continuada, ao contrário, é um alargamento do conceito de período escolar, pois prevê, em vez de anos, ciclos. A proposta de dividir o tempo escolar fugindo do calendário anual tem por objetivo aprofundar a concepção sobre o ensino e a aprendizagem. Sabe-se, comprovadamente, que as crianças têm diferentes habilidades e, por isso, diversas maneiras e ritmos para aprender. Mas todos podem chegar lá. E chegam. Às vezes, alguns meses ou um semestre a mais são suficientes para constatar mudanças no aluno. Em um curto período de tempo, ele pode amadurecer, superar um problema familiar ou adquirir mais segurança com a ajuda de um professor ou de uma psicopedagoga (o) - fatores que repercutem profundamente na sua capacidade de aprender.  
   É certo que reprovar a criança uma, duas ou três vezes e mandá-la ficar com colegas menores causa problemas de adaptação e provoca desinteresse por ela ser obrigada a ver e estudar tudo de novo. Constatou-se que o resultado da reprovação anual na rede pública uma, duas ou três vezes, era como expulsar milhares de jovens da escola, colocando-os no abandono e na marginalidade. 

    O direito á escola precisa ser assegurado, mas a criança precisa também ter o direito de aprendizagem assegurado, pois, serem aprovados automaticamente, sem que tenham aprendido é muita irresponsabilidade do Estado como tutor da educação. Mas, as diretrizes apontam também que, “os diretores e os professores terão de criar projetos para que os alunos em dificuldade recuperem o conteúdo ao longo do ano”. Mas, o que vemos são crianças sendo aprovadas na passagem do 5º. para o 6º. Ano sem saber ler e escrever.
   Infelizmente, hoje vemos que o Brasil optou pela quantidade a qualquer custo e, mostrar que vai tudo bem. E o resultado disso é a enorme quantidade de analfabetos funcionais com diploma. A proposta é de alfabetizar com qualidade, respeitando o tempo do aluno. Apenas aumentar para 9 anos o Ensino Fundamental não garante a qualidade do ensino. Também não é ampliando o horário escolar que teremos o problema resolvido. Se os alunos não forem incentivados à leitura, a atividades que trabalhem com inteligência, pensamento lógico e capacidade de relacionar temas diferentes, estaremos praticando apenas uma “aprovação automática”, sem orientação, sem cobrança, sem algum apoio, o aluno é passado de ano sem preparação nenhuma.

   A escola não pode continuar reproduzindo a sociedade como ela está para as próximas gerações. Ela deve ser um meio de efetivação do sentido de uma concepção de sociedade bem ajustada. Talvez, o caminho seja tentar corrigir os desvios, torná-la melhor, mais acolhedora e, mais próxima do modelo de perfeição social harmônica idealizada por todos que buscam uma melhoria na Educação.   A escola de hoje exige mais do que uma boa formação do professor. Há necessidade de professores reflexivos, capazes de despertar nos alunos a capacidade de reflexão; repensar atitudes; intermediar as discussões construtivas; saber liderar com o grupo em situação de conflito, atuando como líder e, sem autoridade obsessiva. 

   É claro que os estudantes precisam ter o direito de aprendizagem assegurado, mas, serem aprovados automaticamente, sem que tenham aprendido é muita irresponsabilidade do Estado como tutor da educação. Mas as diretrizes apontam também que os diretores e os professores terão de criar projetos para que os alunos em dificuldade recuperem o conteúdo ao longo do ano e, parece que não há empenho neste sentido.

    Parece que o único conceito que a escola pública entendeu foi de “aprovação automática”. Os alunos estão sendo aprovados analfabetos, ou seja, fazendo a passagem do 5º. para o 6º. Ano e, em sua maioria, analfabetos absolutos, pois, o aluno não lê, não escreve, não efetua cálculos básicos; não interpreta uma leitura e, não escreve nem mesmo frases simples por não conseguir extrair o sentido da palavra.
    Buscando entender o fundamento da lei de “progressão continuada”, descobri que o MEC teve como base para essa diretriz, leis do Japão, França onde a taxa de repetência é nula. No caso do Japão, os índices de analfabetismo são inferiores a 1% e um terço dos alunos que terminam o segundo grau ingressa no ensino superior público. Parece que nesses países a idéia foi bem entendida; trata-se de países desenvolvidos e, o Brasil, na qualidade de pais em desenvolvimento não pode ter como espelho países como França e Japão.

    Parece-me claro que, mais uma vez, nossos governantes encontraram uma forma de maquiar a imagem de uma educação brasileira de qualidade. O IDH (índice de desenvolvimento humano) demonstra que o índice de analfabetismo no Brasil é pequeno se comparado há outros períodos. Mas, temos de fato, muitos analfabetos absolutos, - aqueles que conseguem escrever seu próprio nome mesmo que seja decorado e, alguns, “copistas”, ou seja, copiam tudo, mas, não sabem o que escreveram.  

    Não podemos esquecer dos professores. A maior parte dos professores da rede pública segue apenas o Sistema de “avaliação automática”, ou, o pacote didático pronto.  Isso se equipara ao “Ensino tradicional” -, o professor ensina, logo, o aluno aprende, se não aprender, há um problema com ele. Deve-se considerar que as aprendizagens não acontecem de forma homogenia e, há de se respeitar o tempo do aluno, conforme previsto na lei de ampliação do ensino fundamental, que prevê uma educação continuada.

   Deve haver melhoria nos cursos de formação dos docentes, capacitação continuada e, avaliação permanente. Hoje cobra-se muito uma melhor  remuneração dos professores -, é a questão dos “direitos”, mas, percebo que estão se esquecendo dos “deveres de um bom professor”. Enquanto o professor da rede pública seguir apenas o sistema, sem a preocupação de adaptá-lo à realidade atual de nossas crianças, sem reivindicar melhores condições para o ensino, continuaremos assistindo essa atrocidade e, eles lutando apenas por uma melhor remuneração.  

     Como educadora defendo que o professor deve ser avaliado pelo aluno, só ele pode atestar se o ensino está se efetivando, se se sente respeitado e acolhido. Muitos professores seguem apenas o sistema e o “pacote didático pronto”; não há preocupação com a formação integral dos aluno (afetiva, intelectual e social) que é o que lhes garante os “Parâmetros brasileiro de Educação”. Muitos, estão preocupados apenas, em ganhar mais e, assim, buscam acumular a maior quantidade de hora/aula para engordar a sua aposentadoria. 
   O sistema atual, principalmente, da Escola pública privilegia a quantidade de informação, misturando e fragmentando as propostas, com conteúdos com pouco significado para as crianças e jovens. A Escola não é um espaço agradável. O sistema de avaliação serve apenas para medir a assimilação destes conteúdos pelo aluno. Os conteúdos, parecem que não são significativos para a formação integral do aluno. O sistema de avaliação continua avaliando apenas o aluno. As atividades deveriam deixar de lado o sistema repetitivo para dar lugar á criatividade, pesquisa e produção de conhecimentos. É mais trabalhoso, mas, ensinar exige competência, mobilização, não apenas formação. Somente o investimento na qualidade do ensino básico (Ensino Fundamental) pode reverter esse quadro educacional brasileiro tão triste!

     Mas, o Sistema Nacional de  Educação atual é claro -, “a aquisição do conhecimento deve ser  uma atividade dirigida, e não tem um fim em si mesmo, mas deve estar voltada para a experiência e prática”. Ainda, “as crianças devem ser estimuladas a experimentar e pensar por si mesmas, desenvolver a criatividade e o construir o seu processo de aprendizagem”.

    Conforme previsto na lei, “a escola é responsável pela intensidade do ensino e aprendizagem, pode auxiliar não apenas na formação cognitiva e intelectual, mas, na formação moral na criança e, no seu desejo de aprender”. A aprendizagem pode ser significativa se o desejo de aprender e o prazer de ensinar estiverem na mesma sintonia.  A verdadeira proposta de “Educação continuada” é compreendida como um processo permanente de desenvolvimento do aluno e do professor.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda a avaliação por ciclos também nas escolas privadas, com foco na “progressão continuada”, principalmente nos anos iniciais da alfabetização, porém, de acordo com informações do Ministério da Educação (MEC), cada instituição tem autonomia para criar seu projeto pedagógico e decidir como avaliar o desempenho dos alunos. As informações sobre pontuação média para aprovação, bem como freqüência de aplicação das atividades de avaliação devem constar no Projeto Político Pedagógico da Escola, a ser discutido com toda a comunidade escolar.

   Os sistemas de progressão continuada podem ser formas eficazes e justas de estabelecer os prazos de reprovação para mudança de fase escolar (5º Ano – 9º. Ano). Mas, esse tipo de sistema deve vir acompanhado de um mecanismo que permita a correção dos rumos antes do fim do ano e envolva os professores em planos de orientação dos alunos que apresentarem dificuldades no seu processo de aprendizagem e, essa é a função de um psicopedagogo (a).  
   As manifestações na linguagem devem ser diagnosticadas por profissionais da área de linguagem – pedagogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e, não pela área médica, psicólogos, psiquiatras. As descobertas dos profissionais da área médica são geralmente, “desajustamento”, “distúrbio emocional”, “hiperatividade”, “dislexia”, “apatia”, “disfunção cerebral mínima”, “agressividade”, “deficiência mental leve” e tantos outros rótulos que não trata e, produz na criança comportamentos egocêntricos, onipotente, indisciplina e, a permanência no lugar de quem “não sabe” e “não pode aprender” e, pode ser responsável também pelo alto nível de evasão escolar. O engano no diagnóstico pode ser um atestado de “incompetência”. O mais danoso é que há uma grande demanda de crianças em tratamento medicamentoso quando as manifestações são apenas da ordem da linguagem. Outra conseqüência desse tipo de prática é a perpetuação de preconceitos e marcas que podem inviabilizar a aprendizagem, por desistência dos envolvidos – criança, família, escola e sociedade. Na verdade, as dificuldades, geralmente, não são dos alunos, mas da escola, devido ao seu currículo engessado, repetição de exercícios, rigor obsessivo na disciplina, ênfase apenas na quantidade e, desrespeito a forma de aprender do aluno e, ao tempo da criança.  
   A única certeza que tenho é que a idéia de “Progressão continuada” foi mal interpretada pelas escolas da rede pública e, a prática ultrapassada tem mantido muitas crianças fora da escola. A falta de entendimento da lei gerou “o fim da repetência” e, o benefício foi apenas para tirar o Brasil dos índices negativos na educação. Não temos mais o título mundial de maior taxa de reprovação. E, ainda acredito que os dados reais de analfabetos funcionais e, analfabetos absolutos são mais alarmantes do que os dados apresentados nas pesquisas.

Referência: INAF – Indicador de Analfabetismo Funcional

                  MEC – Mistério da Educação

                  CNE – Conselho Nacional de Educação

                   

 www.psicopedagogamariateixeira.com.br

terça-feira, 8 de julho de 2014

Educar é humanizar

      Educar é humanizar - ensinar valores, preparar para os desafios, os medos; é acolher, respeitar, enxergar além do que se vê.

    Sabe-se que desde cedo, o olhar, o discurso do “outro”  tem muita importância e, é o que determina a estruturação psíquica do sujeito.

    Aquele com quem a criança se identificará será responsável pelo o que ela será - seus valores, gostos, aptidões e, sobretudo, desejos.

     Muitas vezes na escola o  "desejo" esbarra em valores que é a família que tem de passar. Os pais precisam ajudar o filho(a) a descobrir o melhor caminho, mostrar as opções; orientá-lo, respeitá-lo, para que tenha sobretudo, caráter. A Educação escolar deve privilegiar a transmissão de conhecimentos científicos, pragmáticos; determinar os princípios morais e éticos, aquele que molda o caráter e forma o cidadão.

     Há hoje uma grande preocupação moral com as alterações comportamentais. Essas preocupações morais atuais é fruto das grandes mudanças sociais ocorridas ao longo da história humana.  Mudanças essas que promoveram um  entendimento de condutas diferentes  por parte  dos  sujeitos.

    Parace que os valores morais, o vínculo afetivo com a família se perderam... Em que momento isso se perdeu? No momento em que os pais ficaram se preocupando demais com a questão de não ser autoritário, não dar limites. Teve medo de frustar,  e cedeu a todas as vontades de seus filhos -, afinal, poderiam traumatizá-los. Ou, agiu assim por culpa. Culpa de não poder estar o tempo todo acompanhando o(a) seu filho(a).o.  Talvez, não sabiam que o que importa é a qualidade do tempo e, não a quantidade. Mãe demais...e, pai demais, também é prejudicial.

     Para o bem das novas gerações, os pais precisam simplesmente, ser pais - pontuando os erros, aconselhando, cuidando, respeitando,  e fazendo o que quer que o filho faça, pois suas ações dizem mais do que as palavras, - é a questão da formação humana mesmo, - o cognitivo,  afetivo, moral e  o intelectual será desenvolvido na escola .

     As mudanças sociais devem ser acompanhadas de mudanças individuais.  Portanto, há necessidade emergente de se repensar as estratégias familiares e escolares, visando uma conduta mais adequada, e regular por parte dos humanos ou, estaremos caminhando para o cáos...

         As minhas reflexões são tratadas na perspectiva psicanalítica por acreditar no inconsciente, e entender que há  marcas subjetivas em cada sujeito que nos encaminham a avaliar  a sua formação psíquica no momento de uma intervenção psicopedagógica.

     
                                                                                         Um abraço,                                                                                                                      Maria Teixeira, psicpedagoga e esepecialista em linguagem

m.teixeira@uol.com.br

domingo, 6 de julho de 2014

O bom professor e sua prática

   A finalidade do texto é definir o conceito do “Bom Professor”, bem como suas origens e métodos. Há muito tempo tem-se procurado essa definição, utilizando diversos métodos de ensino na tentativa de solucionar o problema da falha na transmissão do conhecimento, que na verdade, não se resolveria sem essas investidas.  Há uma hipótese confirmada de que o professor em sala de aula, é o principal agente da localização, instrução e transmissão do conhecimento, seja qual for o currículo a ser seguido. E, que fatores como regionalismo, cultura, experiência de vida, formação didática dentre outros menos relevantes têm implicação na forma como ele atua em sala de aula. Neste sentido, são esses  fatores que garantem se a sua atuação será ou não satisfatória chegando ao ponto do aluno(a) atingir o seu aproveitamento pleno sem que haja perda de qualidade do ensino e, efetivação da aprendizagem.

  Estudos comprovam ainda que até mesmo o ambiente de onde se originou a pessoa do professor, tem influência direta em seu comportamento e tolerância em sala de aula, bem como, o interesse não-financeiro do docente. Entende-se como não-financeiro, o interesse em transmitir o conhecimento ao aluno, ainda que o retorno financeiro não seja pertinente à função ou, até mesmo, insuficiente de acordo com sua formação. Esse ponto deve ser observado com muito cuidado, para que o docente não acabe por ser condenado sem que todos os fatores sejam incisivamente analisados.

   Assim como Rubem Alves, penso que "não sei se o bom professor é aquele que tem uma coleção de diplomas..." As vezes penso que ele vai se formando nas suas vivências, e que esse modelo de como deve atuar com as pessoas, vem de sua formação primária, na família. É certo de que precisa de uma formação, de um "capital cultural" para transmitir aos seus alunos muito mais do que uma disciplina ou outra. O bom professor nasce da necessidade, interesse, ou até mesmo vocação, sendo que essa última, atualmente quase está em desuso.

  Ao analisar os docentes em seus diversos níveis, percebo que em determinados momentos, a individualidade do profissional chega ao nível de perda total do coletivismo, até mesmo entre eles próprios, professores -, a sala dos professores é o melhor exemplo disso. Essa falta de troca pode levá-los a falharem em suas didáticas, não por vontade própria, mas, pela sua própria história de vida, pela forma que leva a vida.  Parece que essa postura fica latente dentro de si e repercute no seu ensinar, na sua relação com os alunos. 
  As pesquisas também comprovam que essa falta de interação ocorre principalmente em pessoas que têm um histórico de dificuldades ou naqueles que não adquiriram certos valores morais que o tornem membro importante de um todo. Dessa forma, se tornam profissionais automatizados, comandados, que seguem apenas o sistema e pacotes prontos e, no final tem o salário como recompensa pela árdua tarefa. Dessa forma, o docente se vê “obrigado” a levar o conhecimento dentro de um ritmo imposto ou até mesmo pouco didático, pelo simples fato de que, se estiver atuando da forma como lhe foi previamente definido, terá seu ganho garantido. O discurso desse professor é sempre o mesmo  -, reclamam de seus alunos, das regras, dos colegas... Só pensam em seus direitos. São profissionais que visam apenas o ganho financeiro mais que o de ampliar os fatores relacionais e afetivos implicados no processo de aprendizagem de cada aluno, sujeito único, que muitas vezes está ali buscando a felicidade que não tem em casa; vem buscar a esperança de poder sonhar. 
   Quero chamar a atenção desse profissional para  o aspecto humano, principal influência da formação pessoal,  bem como, o principal pré-requisito para quem quer ser um profissional da educação, principalmente, um professor. 
  Há comprovações de que o docente recebeu influências de seus professores, e,  o seu interesse em contribuir com o conhecimento de seu aluno, pode levá-lo também a querer se espelhar nele e ser tal como ele é. Neste sentido, a postura do professor em sala de aula pode selar de vez o destino desse aluno, até mesmo, a continuidade aos estudos ou não.  Esse aspecto pode ser determinante até mesmo para a formação pessoal do futuro “bom professor”.
  O bom professor desperta o interesse nos alunos, utilizando a participação e incitando-os para que o façam da mesma forma entre eles mesmos;  faz com que o conhecimento seja assimilado de forma mais clara e efetiva, tornando-o apto a realizar essa mesma tarefa com habilidade, eficácia e alegria.

   Acredito que o professor de formação, que carregue com ele bagagem "capital cultural" é capaz de fazer qualquer aluno aprender e ainda é capaz de potencializar seus alunos, pois, consegue mobilizá-los; transformá-los e, ainda mais, plantar nele o desejo de conhecer mais e mais. O bom professor é a principal atração da sala de aula e, determina o envolvimento do grupo, o prazer em adquirir novos conhecimentos.
    A aptidão para ensinar não depende apenas de bons métodos, didáticas ou diplomas disso ou daquilo. Há inúmeros fatores que fazem do professor um profissional de qualidade -, o bom professor explica, demonstra, inspira e encanta o seu aluno.
    Não há receita específica para se tornar um bom professor, no entanto, os aspectos e pontos de vista explanados podem esclarecer detalhes importantes que não podem ser desconsiderados. A escola deve definir e buscar uma forma mais eficiente de atuação do docente não apenas em sala de aula, mas, que na sala de aula ele seja agente do conhecimento e da alegria. Acredito que essa postura, pode fazer a diferença e, evitar, a evasão escolar de um grande número de crianças já na passagem do 5o. para o 6o. ano (isso é também estatístico) por não acharem a escola um espaço agradável. 

    Finalmente, o currículo pedagógico, deve obedecer o regionalismo, a cultura, formação didática e, experiência de vida tanto dos alunos quanto dos docentes para que o ensino e a aprendizagem se torne eficaz e não flua para a dispersão do conhecimento, ao invés de acumulá-lo. A proposta não é inalcançável, mas, está e sempre esteve frente aos órgãos responsáveis pela Educação (Direito de Todos), que talvez por comodidade em sobreposição à prática, ficou recessiva em meio a currículos, métodos, e práticas ultrapassadas e engessadas que não possuem utilidade prática no contexto geral do aluno de hoje.
  O professor precisa resgatar o respeito, a confiança de seus alunos, pais, pois, assim como já alertou Rubem Alves, "se o professor não acordar, a profissão de professor vai se tornar "descartável" , vai se extinguir assim como a dos caixeiros viajantes".  

                                                               Maria Teixeira
                                                               m.teixeira@uol.com.br




domingo, 25 de maio de 2014

A Gênese das estruturas psíquicas

    Na seqüência evolutiva do desenvolvimento psíquico da criança, alguns momentos se destacam de acordo com a linha estruturalista, pela importância de suas conseqüências. A capacidade de representação, adquirida com a aquisição da linguagem e do pensamento, é um desses momentos principais de sua constituição como sujeito. A criança é marcada desde muito cedo pela linguagem, pelo discurso da mãe.
   Para a psicanálise, um sujeito se constitui no  mundo pelo processo edipiano ou função fálica. O inconsciente do sujeito se forma a partir da cultura, inserida no espaço/tempo, e é introduzido no discurso da mãe, - o "Grande outro" materno. A mãe vai ensinando à criança o que é "ser humano" e, ao mesmo tempo, vai determinando a estrutura psíquica do novo ser. 
   A partir do nascimento a criança está alienada e se relaciona com a mãe, que não é necessariamente, a mãe biológica. Essa mãe vai satisfazendo as necessidades básicas e desejos daquela criança. Por volta dos 2 anos, a criança percebe o pai, e, esse entra na vida daquela criança. O pai entra como o terceiro naquela relação; entra como "pai simbólico", - incia-se as identificações.  Ele entra com a função de interditar a criança junto à mãe e a mãe junto à criança, estabelecendo limites nessa relação, para que ele possa entrar como "pai simbólico", aquele que também deixa "marcas" na criança. 
    A psicanálise postula como "pai simbólico" o que faz a instância mediadora do desejo entre mãe e filho. Mas, esse pai precisa ser autorizado a entrar nessa tríade. Dependendo de como se processa esse desenrolar (mãe x criança x pai) se estabelecerá a estruturação psíquica do sujeito. 
    Neste sentido, a criança vai recebendo do adulto as instruções de como funciona a cultura na qual foi inserido, - os limites, as interdições (o pode e o não pode) e, vai se humanizando. 
     A cultura é o que estrutura, é o que humaniza o sujeito. Antes disso, a criança é apenas "uma coisa" - "Das ding", segundo Lacan. O pai simbólico é o mediador, se autorizado, atuará como estruturador do sujeito. O pai é apresentado à criança pelo discurso da mãe, de tal forma, que a criança possa entender que o desejo da mãe se encontra, ele mesmo, referido a ele, e, ao mesmo tempo, ao pai. Ou seja, o pai é para o filho o que o discurso da mãe faz dele. Logo, o que a mãe diz a respeito do pai entra no imaginário da criança e, ali se estrutura. O que é estruturante para a criança é o que ela possa "fantasmar" - uma figura de um pai imaginário, a partir do qual ela dimensionará o "pai simbólico" (aquele que chega para  organizar, pois, entra como a lei).   A criança identifica-se com o pai imaginário e não com o pai físico (real),e, não precisa ser necessariamente, o pai biológico. 
   A mãe é para a criança quem tudo sabe e, tudo pode, porque a mãe fala com a criança através da nomeação dos afetos. É dessa forma também que a mãe cria o imaginário da criança, as simbolizações, pois, é ela que apresenta o mundo à criança. Quando o pai fala com a criança, ela já está simbolizada, marcada pela mãe, ou seja, "a lei" já foi internalizada por ela.
    É importante que a mãe apresente o pai à criança através do seu discurso, como aquele que também "sabe". Se a mãe é autoritária, centralizadora, controladora, obsessiva, não permitirá que o pai entre na relação. Não haverá um "outro" entre eles, ou o "outro" está destituído de poder, não terá autoridade, e respeito perante o filho(a). Pois, é  a mãe quem autoriza a criança a obedecer a outrem e, ela própria mostra a ele que ela também cede,  quando necessário, obedecendo a outrem, não sendo a única a estabelecer "a lei", os limites. 
  Para a psicanálise, o lado homem é totalmente determinado e circunscrito pela “função fálica”, isto é, “assujeitado” à castração simbólica: "é pela "função fálica" que o homem como um todo toma inscrição. O homem é então tido como limitado -  O limite, a lei da "proibição do incesto", como vimos, é a função do pai -, mostrar ao filho (a) que aquela mulher é dele; que há regras e limites na cultura. Mas, todo esse universo não é completo à constituição do todo, deixando fora a exceção, constitui um todo incompleto. O homem se depara com um limite estabelecido pela cultura e, não pode tudo. O lado feminino é afetivo, não há exceção, não há limite, não há forma de fazer tudo, o que permite escrever a inexistência do "significante mulher", no que tange a constituição de um sujeito, pois o homem tem o "falo" (a lei da interdição).
   A função fálica no homem é circulante. Pode ser exercida por várias pessoas, em momentos diferentes. Assim, o pai ou outro "embaixador" da lei, da ordem, da cultura poderá estabelecer limites em momentos adequados à criança, favorecendo assim o que se chama "castração". Podemos dizer que castrar é o "pode" e o "não pode" bem simbolizado. Essa função pode ser circulante, ou seja, exercida por várias pessoas, em momentos diferentes. Em outras palavras, castrar é impedir a criança de ser o "único" desejo da mãe e, ao mesmo tempo, impedir que a mãe tenha o filho(a) como seu único desejo. 
   No enfoque psicanalítico, a castração é dupla e tem em seu cerne a "proibição do incesto". Castrar é introduzir a lei da cultura na criança. Quando a criança está alienada à mãe, essa sacia todos os desejos da criança indefesa, - a criança deseja essa mãe, e quer tê-la só para ela, - é no seio da mãe quando bebê que experimentou o primeiro prazer. E esse prazer de que Freud trata não tem nada a ver com "sexual", é pura libido. 
A ausência da mãe, angustia a criança até os 3 anos,pois, ainda há essa alienação.  A alienação existe, mas, há de haver a separação. As operações de alienação e separação são articuladas no "estádio do espelho". A  criança se encontra alienada no desejo da mãe, isto é, submetida a um "significante mãe" que a condena a não ser nada sem ela, já que o sujeito do inconsciente fica petrificado no momento em que escolhe o sentido que lhe é dado pelo  "Grande outro", mãe. Ao postular a separação, vai-se encontrar o outro tempo desta lógica -, o momento de fechamento do inconsciente -, incorre na identificação constitutiva; entra a "pulsão invocante", - uma voz que chama o sujeito-criança a ser ele mesmo, sujeito único desalienado. O desejo da mãe sempre convoca o sujeito a ser alienado. Com a separação, vislumbra-se o momento da abertura do inconsciente, onde se dá o corte nos significantes – o sujeito vê a si mesmo aparecer no campo do Outro -, vê que seu desejo é o desejo do Outro.   
  Esta descoberta, imagem antecipada marcará a criança ao processo de diferenciação entre ela e o "Outro mãe". Tal diferenciação advém do processo complexo, que Lacan (1949/1998) nomeou de "Estádio do Espelho".  Este processo está correlacionado com o papel da separação na relação mãe-criança, no sentido de que, ao se apropriar do seu corpo, a criança delimita-o, separando-se do corpo e dos desejos maternos. Desta maneira, atravessa mais um processo constituinte da sua subjetivação.
  Podemos dizer que com o passagem pelo "Estádio do espelho", há uma ascensão do sujeito, representada pela passagem de” infans” para criança, através da aquisição da linguagem, mesmo que de forma rudimentar. Durante o seu processo, o registro simbólico se torna presente através do Outro que, para antecipar a imagem unificada da criança, utiliza-se da linguagem, da fala. É a linguagem que poderá marcar a diferenciação entre o “eu” e o “não-eu” para a representação do corpo próprio, como estruturante para a subjetivação do “eu”. 
    A criança desde cedo é pura pulsão, pura libido. Ela deseja tudo de forma grosseira, rude, bruta. É preciso que seja impedida de satisfazer suas pulsões de forma selvagem.    A cultura, através dos "Grandes Outros" (mãe, pai, parentes, professores, amigos...) diminui a grosseria das pulsões, adaptando-a ao mundo civilizado. A criança se designa ai, através da falta do seu objeto de desejo (mãe), como sujeito desejante e significará, na linguagem, o objeto primordial do seu desejo. Quando a pulsão é impedida de funcionar como ela surge, ela é "recalcada" e pode voltar sob forma de sintomas, fantasias, sonhos, etc. Por exemplo, quando da "castração" -  retirada do seio; a ausência da mãe e, outros objetos de desejo foi  exercida de modo frágil, sem consistência, inadequados ou quando é excessivamente exercido, com uma repressão exagerada, o que se percebe é a constituição de diferentes estruturas psíquicas. 
   Freud considera três estruturas de base da psique: Estrutura Neurótica,  Estrutura Psicótica e, Estrutura Perversa. Usando a metáfora do “princípio de cristal”, Freud indica que ao descompensar-se (quebrar-se), a estrutura da "psique" seguirá as linhas pré­-estabelecidas pelos elementos psíquicos fundamentais que a constitui. Assim, um sujeito de estrutura neurótica não poderá desenvolver senão uma neurose obsessiva;  o sujeito de estrutura psicótica senão uma psicose ou esquizofrenia; a estrutura perversa, uma doença patológica grave, como a psicopatia.   
   Se o sujeito se funda pela função paterna, ou seja, "função fálica", e se o pai é “Pai Simbólico” -, houve identificação; aquele que simbolizou, marcou a criança com seu desejo; tem-se ai a dimensão incontestável do simbólico como a ordem que permanece, no final, determinante na eleição da estrutura psíquica daquele sujeito.
   Neste sentido, nós os neuróticos “tidos como normais”, somos movidos a pulsão e, estamos conectados ao simbólico. Já o autista, não é epistêmico (não analisa, não tem raciocínio lógico, não reflete e, não simboliza). Ele está conectado ao real, sempre no período sensório-motor -, é o período da vida do ser humano compreendido entre o nascimento e os dois anos de idade, segundo Jean Piaget. Por isso, no autista não há princípio seletivo de tempo. Se instala outra coisa no caso do “estádio do espelho”-, expressão criada por Jacques Lacan, 1936, para designar um momento psíquico da evolução humana, situado entre os 6 e aos 18 meses, durante o qual a criança antecipa o domínio sobre  a sua unidade  corporal através de uma identificação com a imagem do   semelhante e da percepção  da sua própria  imagem num espelho.  Esse estádio culmina com o momento em que ela se reconhece como sujeito e, o “eu” aparece quando se refere a si próprio. Antes da imagem especular, do reconhecimento de si, há mimetização, a criança imita as ações do outro. A agressividade na criança neurótica também nasce na passagem do estádio do espelho.
    Para Lacan, a atividade da criança diante do espelho revela não apenas um certo “dinamismo libidinal” como também uma “estrutura ontológica do mundo humano”, é como uma "matriz simbólica” constitutiva do “eu”, e define o “eu”  ideal como uma “forma”, espécie de estrutura a servir como decreto para a vida psíquica posterior do sujeito. Afirma ainda que o fenômeno possui dois tipos de valor: um valor histórico, por marcar um momento decisivo no desenvolvimento mental da criança, e o valor de representante de uma relação libidinal essencial com a imagem corporal.
    A imagem unificada no humano não o retira da comparação com o animal. No lugar da “memize” vai entrar a identificação -, “eu faço como se eu fosse o outro -, diferente de achar que sou o outro.  Se a criança não entrar na identificação, não vai para o estágio simbólico, como é o caso da estrutura autista.
    A criança neurótica se reconhece como sujeito único no estádio do espelho e, ocupa  um lugar ou  outro.  Se a criança entra na fase projetista, ou seja, tem a imagem do outro como referência, para Lacan houve "amalgamento", não desenvolvimento, e, isso entra na estrutura psíquica daquele sujejto.  
   Neste sentido, é no "Outro"  que o sujeito se identifica, se projeta e, se experimenta desde a imagem especular, pois essa imagem tem efeito formador da função do “eu”.    
Contudo, a quebra definitiva da alienação da criança com a mãe ocorre durante os três tempos do Édipo, postulados por Lacan. Durante o primeiro tempo, o predominante é a relação fusional entre a criança e a mãe , - a criança está sujeita ao desejo desta. Com o surgimento da dialética de ser ou não ser o “desejo” da mãe -, é anunciada a entrada no segundo tempo do Édipo, no qual a presença paterna se faz sentir presente, com a intrusão do genitor na relação "mãe x criança".  Este tempo é fundamental para a entrada da dimensão simbólica na vida da criança, através da lei do pai (interdição), também denominado por Lacan de “recalque originário”, a qual eleva o pai à dignidade de pai simbólico. O genitor então se mostra como um suposto “objeto do desejo da mãe”, colocando a criança na dialética de ser ou não ser o único desejo da mãe. O terceiro e último tempo anuncia o declínio do Édipo. Aqui o pai precisa comprovar sua posse e, o seu lugar na tríade e, a sua lei é percebida de maneira simbólica pela criança, não é algo que pode ser imposto, acontece de forma subjetiva.
   O tratamento dado à relação mãe-criança pela psicanálise pode ser enxergado pela forma como as diferentes correntes psicanalíticas abordam a relação criança-objeto. É nessa perspectiva que abordo a relação mãe-criança, da forma como é  analisada  por Lacan e, alguns psicanalistas pós-freudianos, de modo  menos complexo, para esclarecer a teorização acerca da gênese das estruturações psíquicas. 
   É nessa abordagem que podemos entender como a transmissão de valores essenciais; a forma de amar; de acolher; de fazer escolhas; de dizer o que sente, tem muito da forma como cada sujeito foi estruturado na relação mãe-criança e, no desenrolar da tríade "mãe x criança- pai".
   Entender que é por meio dos semelhantes com quem convivemos, primeiramente, a  mãe, que é exercício de amor, afeto e compreensão, depois, o pai e, nossos mestres, que o desejo encontra as vias possíveis para sua circulação, que segue diferentes demandas dirigidas ao sujeito.

Todo ensinamento Freudiano, tal como Lacan esforçou-se para lembrar e elucidar leva-nos a entender a exata medida dessa função principal do simbólico no curso do destino psíquico de cada sujeito.


... Alinhavando os meus estudos e leituras em Freud e Lacan, desde 2007 -, Maria Teixeira. 


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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Limites

     A  palavra “limite” tem sido utilizada com muita frequência, nos  diálogos que envolvem  crianças e jovens.  É empregada  de forma “queixosa”.   É comum ouvirmos  exclamações do tipo:  “- Nossa! essas crianças não têm limites!”. Ou então, com um quê de autoritarismo: “- É preciso impor limites a essas crianças!”. Ou ainda, em tom de crítica: “-Esses pais não colocam limites nessas crianças!”. Enfim, tudo parece estar associado ao “limite”: a obediência, a disciplina, a questão da  moral, o respeito aos outros, ao espaço físico e as regras.  Nesse caso, a palavra “limite”  tem um sentido metafórico.   Mas, afinal, qual o verdadeiro sentido dessa palavra tão utilizada   nos contextos escolares  e  familiares?
    Pode-se dizer que “Limite”,  é um convite para passar para o outro lado.  É exatamente isso. O verdadeiro sentido, a explicação morfológica da palavra,  remete-nos à idéia de fronteira, de linha que separa territórios ou ainda,  um determinado espaço físico.   É como se disséssemos: “Esse é o limite da minha casa”.  Significa dizer que além dela, há algo que não é  mais minha casa.  O espaço não mais me pertence.  Ultrapassá-lo, seria invadir o espaço do outro.   Isso quer dizer que, atingido um determinado limite, há coisas que não posso e, não devo mais fazer. É muito comum quando crianças, ouvirmos dos adultos: “ -Você não tem mais idade para isso, ou ainda: “-Isso é coisa de criançinha!.  É quando a criança percebe que há idade para realizar determinadas coisas.   É quando a criança percebe  que, a sua idade não mais permitirá  fazer uma grande quantidade de coisas  interessantes!.
     Então,  amadurecer,  pode soar como algo que não é tão bom!.  Concluí-se que o lado de lá do limite é negativo.  Que com o passar do  tempo certas  ações  não são  mais permitidas.  
    Penso que para as crianças não deve ser tão fácil entender isso.   É cobrado delas “coisas” que ainda não conhecem.  E muitas vezes o tom não é nada agradável!.    Simplesmente, “ “isso não é mais para você!”.   “O que você  está fazendo?”. Vem, o “Isso pode”. “Isso não pode e, pronto!”.     E essa brusca ruptura ocorre exatamente por volta dos  6 a 7 anos.    A criança precisa abandonar determinados brinquedos, o colo.  Está na hora de ir à Escola. Chorar, nem pensar!.  A  professora que até então,  permitia-se  ser chamada de “tia”, agora é “professora tal”.   Muitas vezes, nesse momento, na escola,  cria-se  uma “barreira” entre a “professora” e o “aluno”.   Na Educação Infantil, ela tinha horários para brincadeiras e, algumas atitudes eram permitidas.    Agora, não tem  mais parque; correr, nem pensar...   E ainda, alguns reforçam: “-  Acabou a “moleza!”.  Agora, você vai estudar de verdade!”.   A maioria das aulas são expositivas .   E  o  brincar?!. Nem pensar!.   A criança é exposta em fileiras, uma carteira  atrás da outra  e, recebe muitas responsabilidades.    Agora, ela será avaliada por “nota”.; Tem a “tal” da  “prova”, dos pontos positivos e negativos.     E,   “o  medo”  se  instala  na criança.   Concluo que a escola para ela deixa de ser um espaço agradável.
    Logo, deixar de ser  “criançinha”,  parece não ser nada bom. Significa perder uma série de regalias,  coisas boas,  como: colo, afagos, brincadeiras.   Em outras palavras, o que a criança mais escuta é “- agora, você precisa mostrar resultados!”.  “Chega de brincadeiras”. “Hora de estudar é hora de estudar...”.   E, essa forma de lidar com o novo, pode contribuir para que permaneçam  infantis.   Afinal,  crescer  pra quê?.
   A passagem do 5o. para a 6o. ano, é uma das  passagens mais difíceis da vida escolar da criança, comparado a entrada na adolescência.
   A escola cobra da família: “seu filho não tem limites!”.  E isso gera uma  grande dúvida  na cabeça dos pais.  “Mas, que limite é esse?.   “Onde errei?”.   A  palavra está sendo empregada dentro de um contexto que já não se sabe o seu significado.  “Não ter limites é ser mal-educado?.  É ser indisciplinado?!. 
   Acredito que seja também dessa forma que a criança sentirá a necessidade ou não de  conhecer o outro lado; de ultrapassar os limites físicos e aceitar os restritivos. Talvez por isso, há tanta resistência às regras, as leis nos espaços compartilhados. 
  Nessa passagem, os adultos ficam investidos de muito poder sobre a criança, e imaginam controlar os seus desejos, aquilo que devem fazer. De certo modo passam a acreditar que podem determinar o futuro de seus filhos e alunos por meio do chamado "controle dos estímulos".  Ocorrem aí decepções dos pais, dos educadores quando percebem que não têm o domínio sobre "o desejo" do outro, mesmo que esse outro seja seu filho(a). 
   A mobilização interna é desejo do próprio sujeito e, somente dessa forma o sujeito estará aberto  ao novo.  E, é  nessa trajetória que ele se desenvolve,  se humaniza,  se reconhece,  se mostra ao outro; mostra suas  inscrições, aptidões, e, escolhas.
  O quadro atual  demonstra  que os pais das gerações anteriores,  agiram por pura incompetência  no  exercício  de  educar.   E,  os pais da geração atual,   devido  a preocupação de ter de estabelecer “limites” sem ser radical, nem permissivo, acaba também, agindo  por pura  incompetência,   e,   têm falhado..  
     Talvez, o caminho seja encontrar a "justa medida" de que trata Aristóteles, filósofo grego. 
    Outra crença que a modernidade alimenta é que a criança não pode ser frustrada senão ficará traumatizada. Então devemos satisfazê-las sempre. Esse engano tem traumatizado pais e professores.
   A psicanálise postula que deve haver certa dose de insatisfação, de frustração para que o sujeito adquira uma boa estrutura psíquica -, para que a troca  de uma coisa por outra ocorra de forma consistente e espontânea.   
   Sabe-se  que  a  criação das  gerações anteriores foram radicais demais;  a  seguinte,  liberal demais.   E, dessa forma,  os pais da  geração atual,  buscam aprender;  conhecer o que há sobre as questões do desenvolvimento infantil; as causas e as consequências  de  uma  educação  falha.  
   Hoje há discussões e um consenso entre escola e família de que deve haver a sujeição desse excesso de liberdade na educação dos pequenos. A família deve apresentar desde cedo os limites restritivos à criança para que ela entenda que no meio social compartilhado nem tudo é possível e, que certos comportamentos não são permitidos.    
  Na maioria das vezes  a dificuldade só aparece na iniciação escolar por volta de 6 ou 7 anos.   Quando a criança começa a mostrar no meio social as suas “inscrições”, ou seja, a forma como ela se estruturou, - o que a família fez dela.      
  É preciso saber que as operações mentais não se constroem do nada, se movimenta dentro do que pode e  do que não  se pode fazer.    A criança se apropria da informação, do espaço que lhe foi dado, e  a inteligência vai se classificando, organizando as informações e, fazendo as acomodações, conforme Piaget.  Neste sentido, a criança  se apropria dos  objetos, das  informações e, os transformam; constrói suas ideias, o  conhecimento se estrutura.
   É certo que são os pais que devem estabelecer os limites restritivos; mostrar os percalços. Esses limites são um dos pilares para uma boa educação, pois fornecem aquele sentimento de segurança física; aquilo que a criança necessita para aprender as grandes lições de  autocontrole  e  de  comportamento  ético.
   Quanto se trata de “Limites”, muitas vezes a dúvida permeia a cabeça dos pais em relação ao que fazer e como lidar com os comportamentos indesejados apresentados pela criança na escola. Não ter limites é o mesmo que ser indisciplinado?
    Disciplina é outra palavra muito utilizada nos contextos escolares e familiares. Empregada também com frequência, em geral de forma queixosa.  Então,  cabe aqui defini-la.  Em sua origem, a palavra disciplina tem a ver com discípulo.  Discípulo é uma pessoa que tem alguém como modelo e, se entrega pelo valor que atribui a essa pessoa.  Esse  é  outro tema bastante difundido  nas discussões que envolvem crianças e jovens, também usado de forma indiscriminada.    Para o especialista em Disciplina, Lino de Macedo (2005), “Disciplina não é questão de boa  ou má conduta".   Disciplina se aprende, é uma competência escolar que as crianças aprendem como qualquer conteúdo. É uma disciplina interdisciplinar, porque dela dependem de todas as outras”.   Lino acredita que “o maior erro da escola é pensar que existe um único tipo de disciplina e que ela só pode ser imposta”.   Para  Macedo,  é possível ensinar disciplina  e, pode-se conquistar o aluno para um projeto de disciplina conseguindo por exemplo, a admiração dele.   E por outro lado,  afirma que “muita disciplina, controle obsessivo,  e  ordem podem prejudicar a criatividade das crianças”. E ainda, que “convencer é diferente de impor”. De fato, as pessoas costumam ouvir  mais  e  respeitar as pessoas a quem admiram.  Então, o caminho  é  encantar, conquistar as crianças, ganhar a admiração delas!
     Quanto à questão da “indisciplina” e do “limite’, sua falta e necessidade,  os adultos também carecem delas!.    Fala-se muito que as crianças de hoje não têm limites.  Mas, os adultos, também não têm.  Em uma sociedade capitalista como a nossa, da competitividade,  não se tem horários regulares para nada, nem mesmo para as refeições.   Logo,  os adultos não têm uma rotina regular para organizar a sua vida e nem mesmo a vida de seus filhos.    É justificável  essa “indisciplina”  por parte dos adultos, pois é entendido os motivos dessa irregularidade.   Mesmo assim, devemos cobrar e, esperar um comportamento regular por parte das crianças.
   É certo de que o adulto precisa estabelecer as regras e os limites e, mostrar  o que quer que a criança. E, isso só ocorre por meio dos bons exemplos.  Afinal, a criança em formação, segue modelos e, estando em formação, precisa da experiência do adulto para se organizar no meio social. 
    Sabe-se que é a própria relação entre as pessoas que promove o crescimento e, é por isso que  considerando a visão interacionista, acredito que “... O ato de educar é também essencialmente relacional e não individual.”; que a troca de experiência,  ideias,  pensamentos enriquecem  a  relação quer seja entre pais x filhos ou professor x aluno.   E que, assim como as crianças, os adultos precisam ser argumentativos o suficiente para conseguir delas uma disciplina voluntária, por exemplo. 
     Vejo que muitas vezes  pais e professores “impõem” o que quer que a criança faça,  sem justificar,  sem convencer de que  aquilo é  melhor, sem responder aos por quês.  Isso sim é traumático  e  torna qualquer relação desgastada.   É certo que algumas crianças atendem e, fazem sem argumentar  e outras,  veem carregadas  de “por quês? Há as que são mais argumentativas e, fazem mais barulho do que outras.   E esse "barulho" simplesmente, incomoda -, não é observado, investigado pelos responsáveis por ela. Perde-se a oportunidade de aproveitar o argumento para tornar a regra consistente para todos. Muitos desgastes e contratempos poderiam ser evitados nas relações escolares e familiares se o diálogo fosse praticado com mais frequência.
 Por isso, os adultos precisam ser tão argumentativos  quanto às crianças para garantir a transmissão de valores, respeito mútuo e, os  limites restritivos tão cobrados nos dias de hoje.    
 (Adaptação de Texto - Livro: Limites: Como lidar com os pequenos?. Maria Teixeira.—1ª. Ed. São Paulo: Edição do Autor, 2014. 
   https://clubedeautores.com.br/book/170717--Limites
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