O Objetivo do Blog

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Ensinar o valor do dinheiro às crianças

   Ensinar o valor do dinheiro às crianças é muito importante, mas, antes de conhecer o valor do dinheiro a criança precisa conhecer os valores éticos e, entender que se valorizar demais o dinheiro; se coloca-lo sempre na frente das coisas, nunca terá o suficiente -, ele sempre faltará e será em alguns momentos o motivo de sua infelicidade.
Percebo que o primeiro valor que a maioria das crianças conhecem hoje é o do “dinheiro”. A primeira frase que aprendem é “quanto custa?”.
A maioria das crianças estão crescendo obcecadas pelo “melhor” -, o melhor tênis, o melhor celular, o melhor isso, o melhor aquilo... Não sei quando isso começou, mas acho preocupante. Sabe o que acontece quando a criança cresce só querendo o melhor? Dando muito valor às coisas material? Vivem inquietas, inconformadas, numa insatisfação permanente, num desassossego que muitas vezes levam-na a uma obsessão desenfreada e isso pode levá-la à consequências desastrosas.
As crianças crescem observando como os pais lidam com as finanças, mas nem tudo se aprende olhando. É preciso indicar caminhos, limites, ir dando exemplos.
Numa sociedade capitalista os pais precisam introduzir a educação financeira desde muito cedo nos ensinamentos dos filhos, pois, saber lidar com dinheiro será uma das habilidades mais relevantes para sua vida. Porém, para ensinar o filho a administrar o dinheiro, primeiro os pais precisam saber lidar e ter uma relação muito boa com ele. O dinheiro não pode ser o mais importante e nem estar à frente de tudo.
Por outro lado, como a Educação financeira não está no currículo da escola, ensinar a administrar o dinheiro também é tarefa dos pais que, para isso, devem saber como cuidar das suas próprias contas. Fazer planilhas de gastos mensais, não acumular dívidas e poupar dinheiro para situações de emergência são bons exemplos financeiros. 
É possível ensinar o valor do dinheiro nas pequenas coisas. Embora as crianças observem os pais, elas não aprendem tudo apenas dessa forma. É preciso dizer a ela que o dinheiro tem limite, de onde ele vem, que não pode gastar tudo de uma vez, e ir introduzindo os conceitos aos poucos. A primeira lição – talvez a mais dura – é não dar tudo que a criança pede. Ao leva-la ao supermercado ou shopping, é preciso saber dizer que aquilo não é  necessário e pode ficar para depois. Dizer o "hoje não" é estabelecer limites. 
A criança deve participar do esforço da economia familiar. Uma boa forma de fazer com que ela participe é deixá-la acompanhar a lista de compra do supermercado, por exemplo, e explicar que não será possível comprar além do que está na relação. Assim, ela vai entender que somente aquilo que está ali deve ser comprado e não tudo o que está sendo oferecido, que há um planejamento com base no que é necessário e disponível no orçamento da família naquele dia ou mês. 
A criança precisa saber que as coisas não são de graça, que é preciso planejar cada compra e, dessa forma, entender o valor do dinheiro. Que o dinheiro não aparece no cartão do nada. Precisa estar na conta lá do banco. Já ouvi a mãe dizer no supermecado e lojas que não tem dinheiro para aquilo e a criança emendar "compre com o cartão!". Isso mostra que ela ainda não entendeu essa forma de pagamento. É o momento de explicar.   
O mesmo pode ser aplicado quando a criança pedir um brinquedo, um celular novo, há oportunidades em que os pais podem atender ao pedido imediatamente e em outras, não podem e não devem. E há também casos em que o artigo pode ser comprado futuramente. Ao explicar isso, ela vai entender mais uma vez que o dinheiro não está sempre disponível -, que poder, querer e o dever comprar tem suas razões e consequências. Os pais precisam aprender a fazer isso sem sofrer, pois, as frustrações fazem parte do crescimento da criança, principalmente quando queremos mostrar o valor do dinheiro. 
O processo de aprendizado do valor do dinheiro deve começar assim que a criança comece a identificar os números, quantidades, quando já souber contar. Ela já pode ser envolvida no planejamento do orçamento familiar de forma que entenda quando e como os desejos de consumo podem se concretizar.
Outra situação diz respeito ao valor do dinheiro na escola. Na escola, por vezes, seu filho pode ter contato com colegas que exibem itens caros que ganharam em casa ou mesmo dinheiro que levam à escola para compra de lanches. É natural, nesse cenário, que seu filho também queira possuir o artigo ou o dinheiro. As crianças costumam fazer associações e, se há diálogo na família, fará algum comentário em casa. É o momento de a família demonstrar que nem todos têm as mesmas possibilidades; as condições da família podem ser melhores ou piores que a do amiguinho e, que às vezes, aquela família não tem controle financeiro. Aproveite para falar dos exageros e dos exibicionismos. E, talvez seja o momento de proporcionar ao filho a experiência de ele mesmo comprar o seu lanche em um dia da semana, não precisa ser logo no dia seguinte para não ensiná-la de forma errada a ser competitiva e exibicionista. 
Quanto aos itens de valor que as outras crianças exibem, a criança vai ter tempo para entender por que o tênis de um é diferente do outro, por que a criança leva celular caro para a escola, se vestem diferentes, por exemplo. A questão do valor das coisas, marcas, é a família que passa para a criança. Ela aprende esse valores errôneos na família. Tudo vai depender da dinâmica familiar de cada um, dos valores que a família presa.
Quanto à questão da mesada que os pais sempre me consultam, - a mesada em certa idade é uma boa opção. A criança precisa ter seu próprio dinheiro quando já souber lidar com ele. A mesada é uma forma de ensinar o valor do dinheiro. Não importa o valor, mas estipule um valor que deva durar todo o mês ou 1 semana. No início, o dinheiro provavelmente vai durar menos. Cabe aos pais ensinar a criança a planejar e controlar para durar mais tempo. A mesada é uma forma de dar à criança em formação, a liberdade de gastar dentro de determinados limites e, pode-se exigir dela a responsabilidade de administrar seus desejos e recursos e, principalmente, saber como é a relação dela com o dinheiro. A liberdade de lidar com o seu próprio dinheiro sempre será oportunidade de educar e, ajustar o comportamento da criança.
                                               Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem.

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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Como lidar com a birra da criança

     Algumas crianças com idade acima dos 2 anos e meio até uns  5 anos usam as birras como uma ameaça, ou uma ferramenta para conseguirem o que querem, pois, em algum momento perceberam que isso é eficaz. Quando as crianças resolvem fazer birra, começam a espernear, se jogam no chão, emburram e fazem malcriações, a vontade da maioria dos pais é de sair correndo. Alguns se desesperam e, a vontade é de chorar também ou se esconder. É certo que as crianças menores podem usar a birra para dizer o que as palavras ainda não podem dizer. Mas, existem algumas ideias que podem acalmar as crianças e evitar que os pais percam o controle da situação. As birras são terríveis, irritantes, mas é uma saída, uma descoberta das crianças e, faz parte da realidade da infância de muitas crianças , simplesmente, porque elas já descobriram que dessa forma os pais cedem aos seus caprichos.  Podemos pensar em algumas estratégias simples que acabam com as birras e criam a cooperação na criança. Claro, a criança tem de ser educada para saber que birra não é a solução dos problemas, mas, até que ela entenda, algumas estratégias podem ser seguidas e aplicadas no momento da birra, e, podem ajudar muito.

1. Deixe a criança extravasar a sua raiva

      Algumas vezes a criança só precisa extravasar sua raiva e frustação que ainda não aprendeu a controlar. Em casa, deixe-o (a) por alguns minutos só. Depois, se aproxime e pergunte: - Já passou? Agora, podemos conversar?  e, aproveite a oportunidade para  ensiná-la como se consegue as coisas e, procure traduzir as suas ações. Se ocorrer em público, não espere ela/ele chamar a atenção de todos à volta;  leve-o(a) para um lugar reservado para que tenha um pouco de privacidade, deixe-a extravasar ali;  se afaste; não fique pegando ou tentando controla-la no momento de raiva. Sabe aquele momento em que se precisa de uns dois minutos para voltar a si? A criança não é diferente do adulto, às vezes, também precisa disso e, algumas, lidam com sua raiva ou frustração fazendo birra. Essa estratégia ajuda a criança a aprender a se expressar de uma forma não destrutiva e começar a ter ideia do que é autocontrole.

2. Pense em alguma forma de tirá-la do foco

     No caso da criança muito pequena, enquanto ela estiver tendo aquele acesso de birra, pense em alguma distração que a tire do foco daquele momento. Pode ser um brinquedo que esteja ao alcance.  Já a criança maior, chame-a a atenção para algo ao redor ou sugestão de um novo passeio. Se estiver no supermercado, por exemplo, peça para ela escolher o sabor do sorvete para a sobremesa. As crianças se concentram em um só assunto por pouco tempo, por isso, normalmente são fáceis de distrair. Isso ajuda a tirar a atenção da birra. Se não resolver, volte à estratégia 1.

3. Escute o que ela tem a dizer 

       Dialogar é diferente de conversar apenas para ajustar coisas do dia-a-dia. Após aquele momento de privacidade, tente ouvir o que está frustrando seu filho (a), ele (a) pode ter muito a dizer sobre aquele momento de raiva. Lembre-se que as crianças menores têm um vocabulário limitado para expressar seus sentimentos e podem usar a birra para dizer o que as palavras ainda não podem traduzir.  Antes, você precisa daquele momento de recuperação do seu controle; tome uma água e respire fundo. Use um tom de voz calmo, mas que passe confiança; não ameace. Seu filho vai perceber que a birra não está lhe atingindo e isso vai também ajudar você a manter a calma. Se a sua voz estiver alterada, o efeito vai ser o inverso: todos vão ficar alterados e, um clima de descontrole será instalado. Gritar, nem pensar. Muitos pais ficam envergonhados e com raiva da criança quando a birra ocorre em público, mas, a forma como você vai agir diante da birra é o que importa. Se os pais agem com calma e autocontrole todos vão ver que são bons pais e, que estão cuidando para educar seu filho.  O diálogo vai mostrar à criança que tanto a criança como o adulto, algumas vezes, se sente frustrados com alguma situação, mas, que é preciso saber lidar com elas.
4. Acolha o seu filho; dê carinho
       Fazer uma carinho, geralmente é a última coisa que um pai ou uma mãe pensar em fazer após ter passado por um momento de estresse com um filho. Todos estão irritados, alterados, mas, após aquele momento em que a criança extravasou a sua frustração em sua privacidade, esse é um gesto que pode ajudar muito a criança a se sentir segura e acolhida após um acesso de raiva. O abraço tem de ser firme, e o melhor é que o adulto não fale nada enquanto abraça. Depois, ofereça alguma coisa para a criança beber ou comer. Faça um lanche gostoso e saudável com ela. É muito comum na criança pequena a causa da birra ou choro ser: fome, frio, calor ou sono (algum desconforto) e, não o interesse por isso ou aquilo.  No caso da compra, as vezes, os pais compram e, depois, a criança nem liga para o objeto.  O acolhimento pode funcionar tanto para a criança menor como a maior. Outra boa ideia, no caso da criança pequena  é levá-la para o quarto e coloca-la para tirar uma soneca após o estresse. Ela vai acordar mais calma e disposta e, muitas, nem vai lembrar-se do ocorrido. 
5.  Não valorize demais o ocorrido.
     Ficar lembrando a criança ou o adolescente o mal feito não vai ajudar em nada, pelo contrário, vai fortalecer isso nela e, sempre que quiser chamar a sua atenção terá esse trunfo guardado.                                                                                                                                          Maria Teixeira, psicopedagoga, especialista em linguagem
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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Pais e mães desnecessários

   “A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo”. Escutei várias vezes essa afirmação de um professor que era psicanalista, e, na ocasião essa frase sempre me soava estranho...Achava a colocação tão fria...pois, eu era mãe e queria os meus pequenos colados em mim...Mais tarde entendi que o que ele queria dizer era que a mãe desnecessária percebe quando está chegando a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha árdua, confesso, mas, com o passar das fases, senti  necessária...
   Sempre quando eu começava a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembrava logo dessa frase, hoje absolutamente clara pra mim...
  Mas, para a mãe e o pai se sentirem desnecessários, precisam ter a certeza de que fizeram um bom trabalho na educação dos filhos. Para se sentirem seguros disso, a Educação deve ser alicerçada na confiança e nos bons valores que formam o cidadão integro... Dessa forma, os pais podem e vão sentir aos poucos quando estão se tornando  desnecessários...
    Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, posso traduzir isso: Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, estrague os filhos, que provoque vícios e dependência da mãe, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Os filhos precisam estar prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também...
   Aprendi como mãe, que a cada fase da vida vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda, que é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. E, vamos preparando os filhos para sentir que estamos nos tornando  desnecessários. Tudo isso sem egoísmo, com muito amor e segurança, porque o amor é um processo de libertação permanente e, esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida se foi criado um vínculo consistente entre pais e filhos. 
  Os filhos crescem se tornam adultos, e, precisam constituir a própria família, e, recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
   Aprendi que pai e mãe solidários criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão de ser pai e mãe.
   Entendi que ao aceitar a condição de pais “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar...
     Compartilho do pensamento de que - Ser desnecessário é “dar asas para voar, raízes para voltar e, motivos para ficar  – de: Dalai Lama, filósofo chinês.
                                            Maria Teixeira
                                          www.psicopedagogamariateixeira.com.br

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terça-feira, 28 de abril de 2015

Angústia na Psicanálise

....alinhavando os meus estudos em Psicanálise...

   Na perspectiva psicanalista, o homem é insatisfeito por natureza. E, é essa insatisfação que o  faz buscar mais e sempre mais...A angústia não é algo transparente para o sujeito, mas, é responsável por essa insatisfação.
Neste sentido, a angústia faz parte da estrutura humana. Está lá latente. Onde se faz enigmático algo que diz respeito ao desejo do sujeito. Para Freud, a angústia está relacionada ao desamparo inicial em que o homem nasce.   
  A angústia se apresenta para os neuróticos (os tidos como normais...) dessa forma. Está lá latente. Mas, há também as estruturas doentias como a paranóica, melancólica, psicótica, esquizofrênica.  Dentro dessa linha, há a histeria, comum em muitas mulheres e, homens, neuróticos obsessivos –  Nas estruturas histérica e  neurótica obcessiva a insastifação e a angustia é muito maior, e causa mais sofrimento tanto na pessoa como nas pessoas próximas.
   Para os neuróticos faltará sempre algo... o que chamamos na psicanálise de “falta ou perda do objeto” - a angústia.  Isso ocorre desde muito cedo. A mãe falta em alguns momentos (foge do olhar da criança), como é o caso da ida à escola. A  angústia já vai se instalando desde muito cedo. A perda do objeto não está relacionada a uma ausência, mas, a uma presença portadora de um enigma que muitas vezes não é decifrado . 
    Em 1895, Freud articula algo sobre essa angustia, o desamparo primordial do sujeito humano, que o inscreve na dialética da relação com o outro. Este complexo Freud o divide em duas partes: uma que pode ser reconhecida como significante e outra que se apresenta como estranha e mesmo hostil, na medida em que não se deixa ser apresentado com transparência pelo sujeito.
     Lacan, nesta mesma linha de pensamento, articula, diferentemente de Freud, que a angústia não está relacionada ao desamparo inicial, mas sim ao amparo que o sujeito recebe, a forma como se aliena a mãe, o que se faz enigmático diz respeito a algo do desejo do Outro sobre aquele ser que acabou de chegar; diz respeito aos primeiros discursos, com a forma como cada um é falado. Neste sentido a perda do objeto não está relacionada a uma ausência, mas, a uma presença portadora de um enigma...  
     Na neurose o que ocorre é uma falsa demanda. O neurótico faz de sua demanda o seu objeto de desejo. A angústia surge quando se dá a esta “falsa” demanda uma resposta obscura que não preserva esse vazio e causa do desejo, -  uma resposta que não tem nada a ver com o conteúdo da demanda, com a falta que o sujeito sente e não sabe o que é. Se positivo ou negativo, é aí que surge esta perturbação onde se manifesta a angústia.
    Mas a angústia de que tratam não se refere, certamente, apenas ao neurótico, estando ligada à própria estrutura do sujeito. O significante engendra um mundo, o mundo do sujeito que fala e desenvolve a linguagem. Há o sujeito epistêmico e o desejante, cujo "inconsciente é estruturado como linguagem" para Lacan. 
    Uma característica essencial humana é a capacidade de enganar-se.  A angústia é como um corte mesmo, sem o qual a presença do significante, seu funcionamento, sua entrada no real é impensável. É este corte que se abre e que deixa aparecer o inesperado, a visita, a novidade - pressentimento, pré-sentimento – algo que vem antes do nascimento de um sentimento. Nesse sentido, a verdadeira substância da angústia é aquilo que não engana, o que não resta dúvida..
     Para Lacan, portanto, a angústia não é sem objeto, o que não significa dizer que ela tem um objeto algo a ser desvendado.... O objeto de que ele trata na angústia é esse que é apenas um lugar que tem um estatuto especial de causa de um  desejo...que nem o próprio sujeito sabe o que é.
    A angústia introduz a função da falta. Falta algo e, há um enigma a ser desvendado é essa a sensação de incompleto mesmo.  A angústia, é a falta para a psicanálise, a falta radical. Ela é radical para a própria constituição da subjetividade do sujeito,por isso o faz sofrer.
     A angústia é introduzida como manifestação específica nesse nível do desejo do Outro, onde ganha importância no sinal que se produz no eu, no lugar do eu, mas que diz respeito ao sujeito. Se isto aparece no eu é porque o sujeito foi advertido de algo – e este algo é um desejo que ele próprio desconhece...mas, está na sua estrutura...no seu  inconsciente...por isso sofre, busca e as vezes se desespera...
    Por isso, que ouvimos dizer que algumas pessoas são insatisfeitas por natureza... A insatisfação está na natureza humana ali latente ...ela vem, se instala, incomoda...dói...
     A dor da angústia é um grito surdo no peito, vontade de dizer algo que o sujeito não sabe o que é, mas algo que simplesmente dói. É uma dor sentida na alma, é a dor do emocional que não dá para explicar.
     A angústia de que tratamos não pode ser compreendida pela dor do dia a dia, pelas insatisfações comuns. Sempre temos coisas a resolver e por vezes nos frustramos. O outro pode também nos causar essa angústia na medida em que deixa de fazer algo ou quando nos fere. Isso é fácil de suportar, tudo dependerá da estrutura psíquica de cada sujeito. Porém, a angústia, aquela dor da alma é a dor do infortúnio que incomoda e faz o sujeito sofrer. Pode ser comparada a dor que sentimos quando somos rejeitados ou desrespeitados por alguém. Isso é decepção ou tristeza mesmo. 
    A dor da alma pode ser definida por alguns psiquiatras como a dor do ser mortal, é  uma dor que todos sentem, porém, devemos saber lidar com essa dor, o importante é saber sobrepujá-la, mas, somente alguns conseguem. 
     A angústia que sabemos de onde vem é diferente daquela angústia latente, daquela sensação constante de que sempre falta algo, daquela  insatisfação que dói e machuca e, não se sabe de onde emana. É diferente de aprender a controlar as emoções e, simplesmente  procurar viver de maneira próspera, harmoniosa  consigo mesmo e com o outro.  
       É  certo  que alguns convivem melhor com essa insatisfação, comum aos mortais. Conseguem encontrar sozinhos e, achar uma forma de viver bem e aprende a sobrepujá-la. Outros, aqueles que sofrem da dor que não sabe de onde emana, precisam de análise para identificar de onde vem essa dor que incomoda, que os sufoca e os impedem de ser feliz.

                                              Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem
                                               (Leituras em Freud e Lacan)
m.teixeira@uol.com.br

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quarta-feira, 18 de março de 2015

O tempo para se reencontrar após a maternidade...

   Quando nasce um filho, em especial o primeiro. Toda mulher precisa de um tempo para se encontrar de novo. Isso porque, gerar um bebê por nove meses, e pari-lo é uma experiência tão avassaladora, em tantos aspectos (físico, emocional, psicológico, hormonal…) que durante um tempo a mulher  esquece de si mesma e vive em função do outro.  Os seus prazeres e necessidades ficam em segundo plano e em meio a tanto apego, tanta dependência e tanto sentimento, tudo muda e o que era importante nem sempre é mais. Nasce uma nova mulher, com novos desejos, medos e prioridades, se conhecer e encontrar o equilíbrio entre a mãe de hoje e a mulher de antes leva tempo, para umas mais do que para outras, é o que alguns estudiosos chamam de “tempo de cura”.
  Tudo isso porque a maternidade é algo muito intenso. O início, a descoberta da gravidez, tão marcante que dispensa comentários.... Se você é mãe já me entendeu… Você mal sabe o que é tomar banho direito, fazer as unhas;  cortar os cabelos, fazer uma escova é um luxo que você guarda para um momento especial ou quando a situação chega ao limite, e faz tudo com o celular na mão e o relógio na outra contando o tempo da próxima mamada! Mas passa isso…
   Mas, quando passar essa fase, já está na hora de voltar a trabalhar (ou não, e nesse caso acho que é mais difícil ainda!), mas não mudou muita coisa, até porque seu tempo diminuiu ainda mais. Eu lembro que levei meses para perder o senso de urgência em voltar para casa, eu simplesmente não conseguia ao voltar do trabalho, entrar numa farmácia ou num supermercado e comprar o que quer que fosse com calma, escolher um iogurte ou ler os rótulos de um creme de cabelo me tomavam tempo demais... O meu filho me aguardava!
    Há um dia em que ele cresce, o apego vai diminuindo, as noites melhorando.  Mas é tanto a fazer, tanta coisa nova na sua rotina que alguma coisa, muita coisa, ou quase tudo do que você fazia pra você fica sacrificado, ler um livro antes de dormir, assistir sua novela, ou série favorita, hidratar o cabelo....nada disso tem vez.  Ao invés disso você arruma mochilas para o berçário ou creche, brinca com seu filho, lava mamadeiras, pensa na papinha, prepara as roupas e, tudo mais que deve ser levado ou deixado para o dia seguinte.
    Você amava ir a praia, mas, passa ter vergonha do corpo, preguiça de levar a tralha toda, e tem o horário do sol, o problema do lugar (Agora não pode ser qualquer lugar). Pronto desiste!  Sair com os amigos? Nem pensar!  Os horários são restritos...mas, ótimo se  conseguir!  Receber amigos em casa? Ah! Você quer  mais é se jogar no sofá e, aproveitar o tempinho que lhe resta. A verdade é que a rotina é tão diferente que não temos forças, parece que passamos por um tsunami. Parece que é melhor ficar do que sincronizar tudo para conseguir fazer algo diferente ou mudar a rotina que já estamos nos acostumando com ela.
  Na verdade, parece que cruzamos outra fronteira e, é só a maternidade que faz tudo isso conosco. Mas, aos poucos, vamos redescobrindo prazeres que eram só nossos...Se exercitar, caminhar, ainda que com pressa; fazer as compras de supermercado; ir ao shopping Center, ainda que as primeiras aquisições sejam sempre para ele (o seu bebê). Você passa a sentir a ausência dos choros, gritos, de suas gargalhadas. Vem à angústia de tê-lo deixado sob outros cuidados. E, quando chega em casa e vê que ele dorme tranquilo, ainda assim, vem a culpa: não quero fazer isso de novo. 
   Haverá dias em que você vai ter uma vontade enorme de ter um dia só pra você, mas tenha total certeza de que não conseguirá, muito mais por saudade do que por culpa, mas com o tempo, vem à segurança, a certeza de que ele sobrevive sem você e, já conseguirá cuidar dele e de você, incluí-lo nos seus planos de lazer.

   E ainda, vale lembrar que todo esse caminho em busca do meio termo entre as necessidades pessoais e maternas, tem que ser percorrido também como casal. O casal também precisa se reencontrar, redefinir, achar tempo, espaço e privacidade, relembrar velhos prazeres e descobrir uma nova forma de ser marido e mulher, sendo pai e mãe. Para no fim descobrir que ser mãe e pai é maravilhoso, mas não deixem de matar saudades de vocês mesmos também...  Não deixe que esse tempo de reencontro com vocês mesmos demore tanto...a criança é apenas um convidado ilustre que chegou para tornar a vida de você ainda mais feliz  e interessante...
                                                                                            Um abraço, 
                                                                Maria Teixeira
                                                               www.psicopedagogamariateixeira.com.br