O Objetivo do Blog

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O subjetivismo do sujeito egocêntrico

     Há uma fase do desenvolvimento infantil que as crianças ainda egocêntricas têm dificuldade de compartilhar brinquedos e outros objetos. Pode parecer, mas não se trata de uma atitude egoísta. Isso ocorre porque elas ainda não sabem coordenar seu ponto de vista com o do outro e estão construindo a idéia de propriedade, ou seja, precisam aprender a diferenciar o que é dela, o que é do outro e o que é de todos. Essa fase é chamada de egocentrismo e, se refere a um pensamento realista centrado no ponto de vista da criança. Ela não conhece outras perspectivas diferentes das suas e acredita que todos ao seu redor percebem, sentem e pensam da mesma maneira, ou seja, o mundo gira em torno dela. Além disso, não vê necessidade de explicar aquilo que diz ou faz, porque acredita que será sempre compreendida.  
     A criança pode ter dificuldade para lidar com frustrações porque percebe nada além do seu próprio desejo e sentimento. Para demonstrar sua insatisfação e ter suas vontades atendidas essas crianças podem  até fazer birras para chamar a atenção dos pais e professores; apresentar-se agressiva, melancólica, se fazer de vítima diante das situações de conflito. Nesse processo é importante os educadores (pais e professores) serem pacientes, mostrar-se firmes nos seus argumentos e, não entrar no drama da criança. O objetivo é envolver a criança na resolução de seu conflito e, não criar clima e confundir ainda mais seus sentimentos. Nesses momentos é esperado a compreensão do adulto para que futuramente ela possa fazer isso com independência. Porém, compreendê-la e ajudá-la a identificar seus sentimentos é diferente de passar a mão na cabeça. É momento de levá-la para um lugar privativo, deixá-la estravazar e depois, conversar com ela com calma.   Ao promover essas intervenções com frequência permitiremos que a criança construa sua identidade, reconheça seu jeito de ser e suas contradições em relação ao outro e aos acontecimentos do dia a dia.  
  Hoje em dia, é muito comum encontrarmos crianças por volta de 7 anos ainda com uma lógica  egocêntrica.   Aquele egocentrismo que é próprio da criança de  2 a 4 anos.  São sujeitos que têm critérios particulares e individuais. No lugar social, na escola, por exemplo, tende a ter problemas, pois,  se depara com critérios e regras que devem ser compartilhadas. É a criança que ainda não aprendeu a dividir, a ser solidária e é pouco sociavel.  
 A criança egocêntrica é aquela que se centra no seu próprio ego: ego + centro, ou seja, centra-se em si mesmo. Os pais pais observadores devem ajudá-las a elaborar suas idéias e conceito das coisas, das pessoas e do mundo para que não permaneçam nesse lugar negativo e de dificil acesso.
  O egocêntrico considera que tudo "gira ao seu redor"; que  é o centro do universo.  A pessoa que se desenvolve e cresce com uma estrutura egocêntrica está sempre preocupada com sua causa exclusiva ou principalmente com os seus próprios interesses e bem-estar, geralmente, tem pouca consideração e apreço pelo outro.  O egocêntrico é conhecido como uma pessoa egoísta e, atrai a atenção das pessoas de forma negativa. É por isso que não existe nada nem ninguém além da pessoa egocêntrica, Os egocêntricos estão enamorados deles mesmos e de  símbolos de status, ou seja, objetos que fazem os outros olhar, admirar, invejar, sonhar, comparar ou se inspirar. O egocêntrico desfila suas possíveis qualidades, exibe-as, consome visivelmente sua prepotência e  se deslumbra com as futilidades da vida.
   O sujeito egocêntrico adora ser elogiado, mas, é incapz de elogiar. Gosta de chamar a atenção para si compulsivamente, gaba-se de seus feitos, de suas conquistas mesmo quando realizados em equipe, ou seja, lhe dá destaque incessantemente.  Dizer que um sujeito é egocêntrico, é o mesmo que dizer que é egoísta, prepotente e, muitas vezes debochado.  Ele não se importa com os demais. Existem dois tipos de egocentrismo, - um é aquele que se acha o centro de tudo, que é o autor de todos os feitos e ninguém tem importância a não ser ele próprio. O outro perfil é voltado à realidade, é o centro do universo, todos têm importância para ele como se fosse ele próprio, porque toda dor ou alegria que sente é egocêntrica; sente-se confuso mediante ao fato de ser o único ser em todo espaço ilimitado a ser o centro e, conhecedor de tudo,  centralizado em si, por achar-se uma sumidade ou um ser soberano. 
     Na hora de educar, todo cuidado é pouco com os elogios.  Somos movidos a elogios, e com a criança isso não é diferente mas, os exageros na educação da criança pode contribuir para a formação de um sujeito com o egocêntrico exagerado. Rotulá-los como “príncipes” e “princesas” é envaidecer demais o seu ego. 
    Elogiar o próprio filho, celebrar seus talentos, ficar feliz com seus feitos e acertos, se orgulhar de suas qualidades é uma das delícias de ser pai e mãe. Impossível não se envaidecer ao ver sua criança  crescendo, se impondo, decidindo e realizando seus feitos, construindo coisas, adquirindo independência. No entanto, muitos pais têm perdido a medida dessa alegria. 
     Realizar todas as vontades de uma criança  em fornmação é deixa-la livre demais para decider o que ainda não compete a ela. Deixar a criança fazer tudo o que quer e quando quer na ilusão de que está respeitando a sua liberdade, não está sendo invasivo(a), pode ser no mínimo um descuido. É diferente de mostrar que acredita nela, nas suas escolhas, mas, ir fazendo os ajustes nos momentos certos. Isso fortalecerá sua auto-estima, independência, fará dele um sujeito corajoso e confiante em si mesmo. O contrário pode ser um engano que poderá afetar inclusive o caráter de um ser em formação. Os elogios sem critérios criam adultos frágeis e egocêntricos. É formar um ser cheio de si  e vaidoso demais com ele próprio e, apesar de se ver como ser único e impecável, é na verdade um pessoa frágil, porque não foi preparada para enfrentar as dificuldades e as frustrações, logo, são sujeitos com dificuldade de relacionamento e, evitadas por muitos. Uma grande quantidade de filhos criados nessas condições passa agora pela adolescência e os resultados começam a ser vistos com mais clareza nos meios sociais, na sociedade como um todo.
Na maioria das vezes, essa caraterística pode ser percebida muito precocemente, na entrada para a escola e se não for pontuado, corrigido,  ou trabalhado nem na escola, nem na família isso se propaga no seu meio social e será sentido por todos.   
  Devemos considerar a subjetividade de cada sujeito, porém, o responsável pela formação de uma criança não pode ser omisso e deixar uma criança crescer com um subjetivismo exagerado. Um sujeito com o subjetivismo exagerado é logo notado pelo uso exagerado de verbos na primeira pessoa.  A opinião dele é sempre parcelada; baseia-se nas sensações do que captam e, na perspectiva de aparecer diante do grupo. Outra característica comum a ele, é a de que tudo sabe, mais fala do que ouve. Atitudes de superioridade, individualidade, centralidade, orgulho por si podem são observadas, porém se contradiz com muita freqüência na sua onipotência ingênua. Outra característica,  quando pequenos normalmente fazem birras, e escândalos chamando a atenção de todos em lugares públicos. A postura equivocada na educação dos pais de não intervir e deixar o filho(a) se desenvolver com essa caracteróstica entra em crise com os valores éticos, sociais, ausência do bom senso e o respeito pela verdade e pelo outro que são tão exigidos no meio social.
   A  nossa cultura está marcada pela supremacia do individualismo evidenciado em um grande número de pessoas, mas podemos melhorar esse quadro. O individualismo do sujeito egocêntrico se manifesta na arbitrariedade que é uma atitude de poder, de julgamento, de superioridade, de centralidade e, de dominação do outro ou de um grupo. Essa arbitrariedade na formação da estrutura dos pequenos significa desobediência, rebeldia, falta de respeito,  falta de limites, e, isso será praticado na vida adulta. Será aquele sujeito individualista, que desvaloriza o bem comum, a justiça social, desafia a lei, sem compaixão, não sabe diferenciar o que é legal e imoral.  Essa característica pode levá-lo a ser um sujeito  ambicioso, ganancioso, que visará apenas o lucro e o seu próprio bem. Medirá o valor das pessoas pelo o que ela tem. Para esses sujeitos, o valor material vai sempre prevalecer ao valor moral.  É aquela postura onde o “ter mais” vence o “ser mais”  e, cresce a indiferença por aqueles que têm menos e o preconceito é instalado.  Pode tornar-se insensível, cego, escravo de cálculos, do dinheiro e, viverá  perdido nas suas ambições e suas pretenções.  
   Os excessos de elogios, liberdade demais, a falta de hierarquia podem ser prejudiciais para a formação humana. Há muitas espécies de liberdade. O homem é livre por ter o poder de escolha. mas, podemos dizer que algumas pessoas têm o mundo de menos, outras têm o mundo de mais.  Há aquela liberdade indesejável,  aquela que permite diminuir a liberdade do outro, em favor do próprio desejo -, o  achar que tudo pode e, que não há ninguém mais importante  do que eu mesmo.
     A questão da liberdade, sempre me remete ao modo de vida dos animais. Os animais, por exemplo, podem dispensar o governo, a educação obrigatória, o código de trânsito, as regras sociais, pois, para eles não há complicações, agem  por intuição e, tudo se resolve com um bom cuidado, sem discussões, pois, não tem escolha. Está ali o animal e o seu dono que pensa, que decide tudo por ele. O animal é sempre um bebê. Os animais gozam de um alto grau de liberdade; contudo, acredito que poucos homens civilizados prefeririam viver como eles vivem a viver no seio de uma comunidade mais organizada que pensa, reflete, pode fazer a diferença e pode melhorar o mundo que o cerca. A criança precisa entender desde cedo que na vida organizada, o respeito a liberdade é requisito indispensável para a obtenção de muitos de seus desejos.  Ainda, que a liberdade não constitua o total das coisas que socialmente desejamos, ela é necessária para a obtenção da maioria delas. 
      Ao educar um novo ser, ao prepará-lo para a vida em sociedade não podemos correr o risco de exagerar na importância da liberdade; devemos saber a necessidade de sua ponderação, ou ainda, educar de forma democrática, sem exageros, em que a liberdade amadureça no confronto com outras liberdades, na defesa de seus próprios direitos e respeito aos direitos dos outros. 

                                                                                                      Maria Teixeira, 
                                                                     Psicopedagoga e especialista em linguagem 
                                                                      m.teixeira@uol.com.br 
Fonte: Livro: Maria, Teixeira. Limites: Como lidar com os pequenos?
Para adquirí-lo: segue o link
https://www.clubedeautores.com.br/book/170717--Limites#.VvZ9dtIrLIU


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Analfabetismo Funcional - Uma triste realidade de nosso país...

   A UNESCO define analfabeto funcional como toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, assim como lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém, é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocarem idéias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas.

   No Brasil, o índice de analfabetismo funcional é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram o Ensino Fundamental I (5º.Ano). O conceito, porém, varia de acordo com o país. Na Polônia e no Canadá, por exemplo, é considerado analfabeto funcional a pessoa que possui menos de 8 anos de escolaridade e, nesses países, há reprovação.

    Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de 1/3 dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso e às novas tecnologias que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a adaptar-se às mudanças sociais e culturais.

     O Brasil tem 33 milhões de analfabetos funcionais (cerca de 18% da população), ou seja, pessoas com menos de quatro anos de estudo, e 16 milhões de pessoas com mais de 15 anos que ainda não foram alfabetizadas. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    O analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados e em desenvolvimento. No Brasil, 75% das pessoas entre 15 e 64 anos não conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Esse número inclui os 68% considerados analfabetos funcionais e, os 7% considerados analfabetos absolutos, sem qualquer habilidade de leitura ou escrita. Apenas 1 entre 4 brasileiros consegue ler, escrever e utilizar essas habilidades para continuar aprendendo.

    Diante do quadro, a lei do sistema de “Progressão continuada” ampliação do tempo escolar foi sancionada em 2006. As escolas de Ensino Fundamental brasileiro não devem reprovem mais seus alunos.  A crença era de que o docente poderia mudar a configuração das escolas públicas do Brasil e que ele seria capaz de despertar o interesse dos alunos se o seu tempo fosse respeitado. Parece que acreditaram que tinham achado a solução para a qualidade da educação brasileira.
     A Lei Sancionada em 6 de fevereiro de 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei nº 11.274 – que tornou obrigatória a ampliação do ensino fundamental – ainda gera dúvidas entre dirigentes no que diz respeito à adaptação dos sistemas e ao que se espera de cada série. As orientações do CNE pretendem mostrar que ampliar essa etapa da educação básica não significa apenas oferecer mais um ano de atividades aos alunos.  A mais importante recomendação sobre a lei, segundo o presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, César Callegari, diz respeito à repetência escolar. Callegari, encarregado de elaborar o documento, garantia que o prejuízo causado por uma reprovação “aos seis anos de idade”, no primeiro ano de alfabetização, como ocorria naquele contexto, poderia ser irreversível. E, visava diminuir a estatística de 80 mil crianças com seis anos de idade reprovadas em 2009.

    Então, o artigo artigo 26 das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental afirma que, “...nos três primeiros anos do ensino fundamental, deve ser “assegurado” a todas as crianças “o princípio da continuidade da aprendizagem” nesse período”. Isso significa que as escolas municipais e estaduais responsáveis pelo ensino fundamental não devem reprovar os alunos do 1º e do 2º anos dessa etapa. Mesmo que o sistema seja seriado, as escolas devem encarar essa fase como um "bloco pedagógico". A avaliação do aproveitamento do aluno passou a ser acompanhada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB.

   Os alunos da rede pública realizam anualmente a “Prova Brasil/ANRESC” promovida pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, que determina o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB. É um indicador de qualidade educacional que sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática.

   ANRESC são exames padronizados aplicados aos estudantes ao final das etapas de ensino fundamental. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolares, e média de desempenho na Avaliação da Prova ANRESC. Lei Distrital N° 5.128, de 04 de julho de 2013, que dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação do IDEB nos estabelecimentos públicos e particulares de ensino do Distrito Federal.
    A preocupação do Brasil era baixar o índice de analfabetismo. Sem dúvida nenhuma algo precisava ser feito. Então, o objetivo era alfabetizar mais crianças com melhor qualidade de ensino. Essa era a questão: qualidade e não quantidade.

     Parece que a idéia foi mal entendida -, “progressão continuada” e “aprovação automática” são conceitos diferentes.  Progressão continuada é uma maneira de organizar o tempo escolar, que foi imediatamente confundido com “aprovação contínua” ou “aprovação automática”.  A “aprovação automática” quer dizer sem avaliação, sem orientação, sem cobrança, sem algum apoio. Sendo assim, sem nenhum critério, o aluno é empurrado adiante, correndo ele os riscos de não estar preparado para nada e podendo, mais tarde, atribuir à escola - com razão - o abandono a que foi submetido, sem ter nenhum tipo de orientação.

    Progressão continuada, ao contrário, é um alargamento do conceito de período escolar, pois prevê, em vez de anos, ciclos. A proposta de dividir o tempo escolar fugindo do calendário anual tem por objetivo aprofundar a concepção sobre o ensino e a aprendizagem. Sabe-se, comprovadamente, que as crianças têm diferentes habilidades e, por isso, diversas maneiras e ritmos para aprender. Mas todos podem chegar lá. E chegam. Às vezes, alguns meses ou um semestre a mais são suficientes para constatar mudanças no aluno. Em um curto período de tempo, ele pode amadurecer, superar um problema familiar ou adquirir mais segurança com a ajuda de um professor ou de uma psicopedagoga (o) - fatores que repercutem profundamente na sua capacidade de aprender.  
   É certo que reprovar a criança uma, duas ou três vezes e mandá-la ficar com colegas menores causa problemas de adaptação e provoca desinteresse por ela ser obrigada a ver e estudar tudo de novo. Constatou-se que o resultado da reprovação anual na rede pública uma, duas ou três vezes, era como expulsar milhares de jovens da escola, colocando-os no abandono e na marginalidade. 

    O direito á escola precisa ser assegurado, mas a criança precisa também ter o direito de aprendizagem assegurado, pois, serem aprovados automaticamente, sem que tenham aprendido é muita irresponsabilidade do Estado como tutor da educação. Mas, as diretrizes apontam também que, “os diretores e os professores terão de criar projetos para que os alunos em dificuldade recuperem o conteúdo ao longo do ano”. Mas, o que vemos são crianças sendo aprovadas na passagem do 5º. para o 6º. Ano sem saber ler e escrever.
   Infelizmente, hoje vemos que o Brasil optou pela quantidade a qualquer custo e, mostrar que vai tudo bem. E o resultado disso é a enorme quantidade de analfabetos funcionais com diploma. A proposta é de alfabetizar com qualidade, respeitando o tempo do aluno. Apenas aumentar para 9 anos o Ensino Fundamental não garante a qualidade do ensino. Também não é ampliando o horário escolar que teremos o problema resolvido. Se os alunos não forem incentivados à leitura, a atividades que trabalhem com inteligência, pensamento lógico e capacidade de relacionar temas diferentes, estaremos praticando apenas uma “aprovação automática”, sem orientação, sem cobrança, sem algum apoio, o aluno é passado de ano sem preparação nenhuma.

   A escola não pode continuar reproduzindo a sociedade como ela está para as próximas gerações. Ela deve ser um meio de efetivação do sentido de uma concepção de sociedade bem ajustada. Talvez, o caminho seja tentar corrigir os desvios, torná-la melhor, mais acolhedora e, mais próxima do modelo de perfeição social harmônica idealizada por todos que buscam uma melhoria na Educação.   A escola de hoje exige mais do que uma boa formação do professor. Há necessidade de professores reflexivos, capazes de despertar nos alunos a capacidade de reflexão; repensar atitudes; intermediar as discussões construtivas; saber liderar com o grupo em situação de conflito, atuando como líder e, sem autoridade obsessiva. 

   É claro que os estudantes precisam ter o direito de aprendizagem assegurado, mas, serem aprovados automaticamente, sem que tenham aprendido é muita irresponsabilidade do Estado como tutor da educação. Mas as diretrizes apontam também que os diretores e os professores terão de criar projetos para que os alunos em dificuldade recuperem o conteúdo ao longo do ano e, parece que não há empenho neste sentido.

    Parece que o único conceito que a escola pública entendeu foi de “aprovação automática”. Os alunos estão sendo aprovados analfabetos, ou seja, fazendo a passagem do 5º. para o 6º. Ano e, em sua maioria, analfabetos absolutos, pois, o aluno não lê, não escreve, não efetua cálculos básicos; não interpreta uma leitura e, não escreve nem mesmo frases simples por não conseguir extrair o sentido da palavra.
    Buscando entender o fundamento da lei de “progressão continuada”, descobri que o MEC teve como base para essa diretriz, leis do Japão, França onde a taxa de repetência é nula. No caso do Japão, os índices de analfabetismo são inferiores a 1% e um terço dos alunos que terminam o segundo grau ingressa no ensino superior público. Parece que nesses países a idéia foi bem entendida; trata-se de países desenvolvidos e, o Brasil, na qualidade de pais em desenvolvimento não pode ter como espelho países como França e Japão.

    Parece-me claro que, mais uma vez, nossos governantes encontraram uma forma de maquiar a imagem de uma educação brasileira de qualidade. O IDH (índice de desenvolvimento humano) demonstra que o índice de analfabetismo no Brasil é pequeno se comparado há outros períodos. Mas, temos de fato, muitos analfabetos absolutos, - aqueles que conseguem escrever seu próprio nome mesmo que seja decorado e, alguns, “copistas”, ou seja, copiam tudo, mas, não sabem o que escreveram.  

    Não podemos esquecer dos professores. A maior parte dos professores da rede pública segue apenas o Sistema de “avaliação automática”, ou, o pacote didático pronto.  Isso se equipara ao “Ensino tradicional” -, o professor ensina, logo, o aluno aprende, se não aprender, há um problema com ele. Deve-se considerar que as aprendizagens não acontecem de forma homogenia e, há de se respeitar o tempo do aluno, conforme previsto na lei de ampliação do ensino fundamental, que prevê uma educação continuada.

   Deve haver melhoria nos cursos de formação dos docentes, capacitação continuada e, avaliação permanente. Hoje cobra-se muito uma melhor  remuneração dos professores -, é a questão dos “direitos”, mas, percebo que estão se esquecendo dos “deveres de um bom professor”. Enquanto o professor da rede pública seguir apenas o sistema, sem a preocupação de adaptá-lo à realidade atual de nossas crianças, sem reivindicar melhores condições para o ensino, continuaremos assistindo essa atrocidade e, eles lutando apenas por uma melhor remuneração.  

     Como educadora defendo que o professor deve ser avaliado pelo aluno, só ele pode atestar se o ensino está se efetivando, se se sente respeitado e acolhido. Muitos professores seguem apenas o sistema e o “pacote didático pronto”; não há preocupação com a formação integral dos aluno (afetiva, intelectual e social) que é o que lhes garante os “Parâmetros brasileiro de Educação”. Muitos, estão preocupados apenas, em ganhar mais e, assim, buscam acumular a maior quantidade de hora/aula para engordar a sua aposentadoria. 
   O sistema atual, principalmente, da Escola pública privilegia a quantidade de informação, misturando e fragmentando as propostas, com conteúdos com pouco significado para as crianças e jovens. A Escola não é um espaço agradável. O sistema de avaliação serve apenas para medir a assimilação destes conteúdos pelo aluno. Os conteúdos, parecem que não são significativos para a formação integral do aluno. O sistema de avaliação continua avaliando apenas o aluno. As atividades deveriam deixar de lado o sistema repetitivo para dar lugar á criatividade, pesquisa e produção de conhecimentos. É mais trabalhoso, mas, ensinar exige competência, mobilização, não apenas formação. Somente o investimento na qualidade do ensino básico (Ensino Fundamental) pode reverter esse quadro educacional brasileiro tão triste!

     Mas, o Sistema Nacional de  Educação atual é claro -, “a aquisição do conhecimento deve ser  uma atividade dirigida, e não tem um fim em si mesmo, mas deve estar voltada para a experiência e prática”. Ainda, “as crianças devem ser estimuladas a experimentar e pensar por si mesmas, desenvolver a criatividade e o construir o seu processo de aprendizagem”.

    Conforme previsto na lei, “a escola é responsável pela intensidade do ensino e aprendizagem, pode auxiliar não apenas na formação cognitiva e intelectual, mas, na formação moral na criança e, no seu desejo de aprender”. A aprendizagem pode ser significativa se o desejo de aprender e o prazer de ensinar estiverem na mesma sintonia.  A verdadeira proposta de “Educação continuada” é compreendida como um processo permanente de desenvolvimento do aluno e do professor.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda a avaliação por ciclos também nas escolas privadas, com foco na “progressão continuada”, principalmente nos anos iniciais da alfabetização, porém, de acordo com informações do Ministério da Educação (MEC), cada instituição tem autonomia para criar seu projeto pedagógico e decidir como avaliar o desempenho dos alunos. As informações sobre pontuação média para aprovação, bem como freqüência de aplicação das atividades de avaliação devem constar no Projeto Político Pedagógico da Escola, a ser discutido com toda a comunidade escolar.

   Os sistemas de progressão continuada podem ser formas eficazes e justas de estabelecer os prazos de reprovação para mudança de fase escolar (5º Ano – 9º. Ano). Mas, esse tipo de sistema deve vir acompanhado de um mecanismo que permita a correção dos rumos antes do fim do ano e envolva os professores em planos de orientação dos alunos que apresentarem dificuldades no seu processo de aprendizagem e, essa é a função de um psicopedagogo (a).  
   As manifestações na linguagem devem ser diagnosticadas por profissionais da área de linguagem – pedagogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e, não pela área médica, psicólogos, psiquiatras. As descobertas dos profissionais da área médica são geralmente, “desajustamento”, “distúrbio emocional”, “hiperatividade”, “dislexia”, “apatia”, “disfunção cerebral mínima”, “agressividade”, “deficiência mental leve” e tantos outros rótulos que não trata e, produz na criança comportamentos egocêntricos, onipotente, indisciplina e, a permanência no lugar de quem “não sabe” e “não pode aprender” e, pode ser responsável também pelo alto nível de evasão escolar. O engano no diagnóstico pode ser um atestado de “incompetência”. O mais danoso é que há uma grande demanda de crianças em tratamento medicamentoso quando as manifestações são apenas da ordem da linguagem. Outra conseqüência desse tipo de prática é a perpetuação de preconceitos e marcas que podem inviabilizar a aprendizagem, por desistência dos envolvidos – criança, família, escola e sociedade. Na verdade, as dificuldades, geralmente, não são dos alunos, mas da escola, devido ao seu currículo engessado, repetição de exercícios, rigor obsessivo na disciplina, ênfase apenas na quantidade e, desrespeito a forma de aprender do aluno e, ao tempo da criança.  
   A única certeza que tenho é que a idéia de “Progressão continuada” foi mal interpretada pelas escolas da rede pública e, a prática ultrapassada tem mantido muitas crianças fora da escola. A falta de entendimento da lei gerou “o fim da repetência” e, o benefício foi apenas para tirar o Brasil dos índices negativos na educação. Não temos mais o título mundial de maior taxa de reprovação. E, ainda acredito que os dados reais de analfabetos funcionais e, analfabetos absolutos são mais alarmantes do que os dados apresentados nas pesquisas.

Referência: INAF – Indicador de Analfabetismo Funcional

                  MEC – Mistério da Educação

                  CNE – Conselho Nacional de Educação

                   

 www.psicopedagogamariateixeira.com.br