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terça-feira, 28 de abril de 2015

Angústia na Psicanálise

....alinhavando os meus estudos em Psicanálise...

   Na perspectiva psicanalista, o homem é insatisfeito por natureza. E, é essa insatisfação que o  faz buscar mais e sempre mais...A angústia não é algo transparente para o sujeito, mas, é responsável por essa insatisfação.
Neste sentido, a angústia faz parte da estrutura humana. Está lá latente. Onde se faz enigmático algo que diz respeito ao desejo do sujeito. Para Freud, a angústia está relacionada ao desamparo inicial em que o homem nasce.   
  A angústia se apresenta para os neuróticos (os tidos como normais...) dessa forma. Está lá latente. Mas, há também as estruturas doentias como a paranóica, melancólica, psicótica, esquizofrênica.  Dentro dessa linha, há a histeria, comum em muitas mulheres e, homens, neuróticos obsessivos –  Nas estruturas histérica e  neurótica obcessiva a insastifação e a angustia é muito maior, e causa mais sofrimento tanto na pessoa como nas pessoas próximas.
   Para os neuróticos faltará sempre algo... o que chamamos na psicanálise de “falta ou perda do objeto” - a angústia.  Isso ocorre desde muito cedo. A mãe falta em alguns momentos (foge do olhar da criança), como é o caso da ida à escola. A  angústia já vai se instalando desde muito cedo. A perda do objeto não está relacionada a uma ausência, mas, a uma presença portadora de um enigma que muitas vezes não é decifrado . 
    Em 1895, Freud articula algo sobre essa angustia, o desamparo primordial do sujeito humano, que o inscreve na dialética da relação com o outro. Este complexo Freud o divide em duas partes: uma que pode ser reconhecida como significante e outra que se apresenta como estranha e mesmo hostil, na medida em que não se deixa ser apresentado com transparência pelo sujeito.
     Lacan, nesta mesma linha de pensamento, articula, diferentemente de Freud, que a angústia não está relacionada ao desamparo inicial, mas sim ao amparo que o sujeito recebe, a forma como se aliena a mãe, o que se faz enigmático diz respeito a algo do desejo do Outro sobre aquele ser que acabou de chegar; diz respeito aos primeiros discursos, com a forma como cada um é falado. Neste sentido a perda do objeto não está relacionada a uma ausência, mas, a uma presença portadora de um enigma...  
     Na neurose o que ocorre é uma falsa demanda. O neurótico faz de sua demanda o seu objeto de desejo. A angústia surge quando se dá a esta “falsa” demanda uma resposta obscura que não preserva esse vazio e causa do desejo, -  uma resposta que não tem nada a ver com o conteúdo da demanda, com a falta que o sujeito sente e não sabe o que é. Se positivo ou negativo, é aí que surge esta perturbação onde se manifesta a angústia.
    Mas a angústia de que tratam não se refere, certamente, apenas ao neurótico, estando ligada à própria estrutura do sujeito. O significante engendra um mundo, o mundo do sujeito que fala e desenvolve a linguagem. Há o sujeito epistêmico e o desejante, cujo "inconsciente é estruturado como linguagem" para Lacan. 
    Uma característica essencial humana é a capacidade de enganar-se.  A angústia é como um corte mesmo, sem o qual a presença do significante, seu funcionamento, sua entrada no real é impensável. É este corte que se abre e que deixa aparecer o inesperado, a visita, a novidade - pressentimento, pré-sentimento – algo que vem antes do nascimento de um sentimento. Nesse sentido, a verdadeira substância da angústia é aquilo que não engana, o que não resta dúvida..
     Para Lacan, portanto, a angústia não é sem objeto, o que não significa dizer que ela tem um objeto algo a ser desvendado.... O objeto de que ele trata na angústia é esse que é apenas um lugar que tem um estatuto especial de causa de um  desejo...que nem o próprio sujeito sabe o que é.
    A angústia introduz a função da falta. Falta algo e, há um enigma a ser desvendado é essa a sensação de incompleto mesmo.  A angústia, é a falta para a psicanálise, a falta radical. Ela é radical para a própria constituição da subjetividade do sujeito,por isso o faz sofrer.
     A angústia é introduzida como manifestação específica nesse nível do desejo do Outro, onde ganha importância no sinal que se produz no eu, no lugar do eu, mas que diz respeito ao sujeito. Se isto aparece no eu é porque o sujeito foi advertido de algo – e este algo é um desejo que ele próprio desconhece...mas, está na sua estrutura...no seu  inconsciente...por isso sofre, busca e as vezes se desespera...
    Por isso, que ouvimos dizer que algumas pessoas são insatisfeitas por natureza... A insatisfação está na natureza humana ali latente ...ela vem, se instala, incomoda...dói...
     A dor da angústia é um grito surdo no peito, vontade de dizer algo que o sujeito não sabe o que é, mas algo que simplesmente dói. É uma dor sentida na alma, é a dor do emocional que não dá para explicar.
     A angústia de que tratamos não pode ser compreendida pela dor do dia a dia, pelas insatisfações comuns. Sempre temos coisas a resolver e por vezes nos frustramos. O outro pode também nos causar essa angústia na medida em que deixa de fazer algo ou quando nos fere. Isso é fácil de suportar, tudo dependerá da estrutura psíquica de cada sujeito. Porém, a angústia, aquela dor da alma é a dor do infortúnio que incomoda e faz o sujeito sofrer. Pode ser comparada a dor que sentimos quando somos rejeitados ou desrespeitados por alguém. Isso é decepção ou tristeza mesmo. 
    A dor da alma pode ser definida por alguns psiquiatras como a dor do ser mortal, é  uma dor que todos sentem, porém, devemos saber lidar com essa dor, o importante é saber sobrepujá-la, mas, somente alguns conseguem. 
     A angústia que sabemos de onde vem é diferente daquela angústia latente, daquela sensação constante de que sempre falta algo, daquela  insatisfação que dói e machuca e, não se sabe de onde emana. É diferente de aprender a controlar as emoções e, simplesmente  procurar viver de maneira próspera, harmoniosa  consigo mesmo e com o outro.  
       É  certo  que alguns convivem melhor com essa insatisfação, comum aos mortais. Conseguem encontrar sozinhos e, achar uma forma de viver bem e aprende a sobrepujá-la. Outros, aqueles que sofrem da dor que não sabe de onde emana, precisam de análise para identificar de onde vem essa dor que incomoda, que os sufoca e os impedem de ser feliz.

                                              Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem
                                               (Leituras em Freud e Lacan)
m.teixeira@uol.com.br

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