O Objetivo do Blog

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Atendimento Psicopedagógico e o seu Papel no Processo de Inclusão Escolar

       A inclusão escolar da criança com necessidades especiais ainda é uma barreira a ser vencida na escola. Inúmeros são os desafios e especulações a respeito da inclusão escolar de crianças com deficiências, por existirem complexas barreiras na organização educacional em nosso país e, por seguirem procedimentos equivocados e ineficientes.   
Podemos entender como inclusão o acesso, ingresso e permanência de crianças com necessidades especiais em escolas regulares independente de serem públicas ou privadas. Além disso, têm incluído nessa condição crianças que não respondem às aprendizagens ou aos conteúdos programáticos. Dificuldade de aprendizagem  requer avaliação especializada, geralmente há necessidade do diagnóstico  de uma psicopedagoga e fonoaudióloga para buscarem intervenções adequadas. Porém, na maioria das vezes essa criança recebe uma educação diferenciada por parte da família e da escola, o que pode  desencadear problemas emocionais em diversos níveis por permanecerem por longo período no lugar de quem "não pode". A condição de desacreditado pode gerar sérios comprometimentos cognitivos e emocionais desencadeando limitações motoras e dificuldade de socialização.
   Parece que não há ainda um lugar na escola regular nem para a criança com necessidades especiais, nem mesmo para a que se apresenta com dificuldades no seu processo de aprendizagem.  Nesse caso, a escola pode pensar na inclusão do psicopedagogo no seu time para intermediar as questões que fogem do pedagógico. Nesse caso, o papel da psicopedagoga na escola seria facilitar o processo de inclusão do aluno com necessidades especiais e, acompanhar aqueles cujas questões são apenas da ordem da linguagem. A dificuldade está em querer colocar todas as crianças no mesmo “pacote”. Esse procedimento é ineficaz na medida em que engessa o trabalho da escola e encharca o sistema de saúde com crianças sendo tratadas como “especiais” quando muitas vezes a questão é somente da ordem da linguagem.  
   O atendimento psicopedagógico entra como suporte transitório e circunstancial, por meio de interações com jogos, mobilização com atividades corporais, gráficas e, lúdicas são ferramentas que podem ajudar a vencer os desafios de forma lenta e gradual. Isso porque o trabalho de sensibilização e criatividade estimulam a autoestima, o autoconhecimento, a superação de desafios, em busca do saber próprio tanto da criança que se apresenta com boa cognição como aquelas que necessitam de mais estímulos para desenvolver determinadas habilidades. Esse deve ser um processo lento, individual e gradativo. E é dessa forma que a criança vai entrar no grupo, - de forma lenta e gradual. Aos poucos ela sentirá parte do grupo e o grupo a acolherá como parte dele. Uma criança que se destaca  seja por apresentar necessidades especiais ou dificuldades de aprendizagem não pode cair simplesmente de “paraquedas”  dentro de  uma sala de aula.  Há necessidade de uma intervenção psicopedagógica e, na maioria das vezes,  também fonoaudiológica. 
   A intervenção psicopedagógica deve ser voltada às possibilidades do sujeito tornar-se conhecedor de si e de suas possibilidades e, ao mesmo tempo para a psicopedagoga conhecer a relação que este estabelece com o conhecimento, com o “outro”, bem como, a forma que articula o seu corpo, organismo, desejo  e, sua inteligência, buscando assim, a confiança em si e  espaço para as novas aprendizagens.  As estratégias psicopedagógicas podem ser organizadas previamente a partir da necessidade real de cada criança, tais como: adaptações motoras, atividades adequadas à modalidade de aprendizagem correspondente, vivências sensório-motoras, construções referentes ao campo conceitual e, orientações à família e a escola. Esta mediação viabiliza a interação e vínculo entre a psicopedagoga e a criança,   a professora e a criança, a criança e a família  e,  visará  reorganizar e refazer o saber da criança rumo à sua autonomia, socialização e realização pessoal dentro de suas reais necessidades.
  
                                                                             Maria Teixeira
                                                                             www.psicopedagogamariateixeira.com.br
* Segue anexo os links das minhas publicações mais recentes
https://plus.google.com/+MariaTeixeirapsicopedagogaSPaulo/posts/VAQUu8K2cPg

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Psicopedagogia e a Psicanálise na Compreensão do Sintoma na Aprendizagem

    olaDesde Freud, os psicanalistas têm feito esforços de interlocução com outros campos de saber. Em relação à educação, a psicanálise tem sido convocada a explicar e tratar os problemas que surgem no ambiente escolar. Muitos psicanalistas têm enfrentado esse desafio e suas incursões têm produzido resultados. A psicanálise foi incorporada por outro campo de saber ligado à educação, a psicopedagogia, e tem sido utilizada pelos profissionais dessa área como referência, às vezes central, para o reconhecimento dos sintomas e manifestações na aprendizagem.

    Cabe aqui informar que diferentemente do que muitos pensam a Psicopedagogia não é uma área nova. Os primeiros centros voltados para atendimentos psicopedagógicos propriamente ditos surgem na França em 1946.  A psicopedagogia recebe as influências desses primeiros movimentos franceses que estavam já marcados por uma diversidade na compreensão dos sintomas e dos tratamentos. Esses conhecimentos são levados à Argentina e, no Brasil em 1954, organiza-se o primeiro curso de orientação psicopedagógica, patrocinado pelo Centro de Pesquisas e Orientação  Educacional, da Secretaria de Educação de Porto Alegre. Há variedades de práticas, conceitos e linhas de pesquisa de tratamento. No entanto, há um consenso quanto ao fato de que a psicopedagogia deve-se ocupar-se em estudar a aprendizagem humana e, todas as manifestações no processo de aprendizagem da criança através da cooperação da Psicologia, Fonoaudiologia, Psicanálise e da Pedagogia. Ocupar-se significa entender como funciona e intervir quando algo atrapalha o processo de aprendizagem. Através dessa cooperação, espera-se adquirir um conhecimento total da criança, do seu meio, do seu desejo o que se torna possível a compreensão de cada caso para início das intervenções e, encaminhamentos, quando necessários. 

   É muito comum psicólogo, médicos, neurologistas, psiquiatras e psicanalistas receberem pacientes porque a escola lhes endereça um encaminhamento, - "um pedido de tratamento". Nessas situações é possível observar a seguinte afirmação: "[...] uma alta porcentagem de consultas é motivada, ao que parece, por “distúrbios escolares”" (MANNONI, 2004, p. 39). Se isso era verdade na França, anos atrás, também no Brasil encontramos afirmações semelhantes: "diariamente, centenas de crianças e adolescentes são encaminhados às clínicas psicológicas por apresentarem os chamados “problemas de aprendizagem' ou “problemas de comportamento", com a hipótese de Hiperativdiade ou TDAH (SOUZA, 2005, p. 82). Os trabalhos de Lopez, (1983), Silvares (2002), Romero e Capitão (2003), Campezatto e Nunes (2007), Louzada (2003), Boarini e Borges (1998) apresentam essa mesma realidade em diversos contextos no Brasil. É percebido as dificuldades comuns a alguns alunos como "um problema", e, a escola não sabe exatamente o que fazer e esses profissionais são convidados a dizer e fazer algo.

  Os chamados  "Problemas, Distúrbios, transtornos de aprendizagem, têm sido os nomes encontrados por profissionais da área  médica para tentar falar do que não corresponde ao esperado no desenvolvimento da criança (levando muitas vezes em consideração, a sua idade cronológica). Neste sentido cada campo de saber define a dificuldade de aprendizagem de um modo particular. Assim, encontramos definições do DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais) e CID 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) de transtorno de aprendizagem que indicam distúrbios na criança (e família) que manifesta os sintomas. Também encontramos as criticas a esse tipo de diagnóstico, explicitando o caráter socialmente construído do que é chamado de "distúrbio"" ou "transtorno de aprendizagem" por profissionais da área de saúde mental. A conseqüência desse tipo de prática é a perpetuação de rótulos ou marcas que podem inviabilizar a aprendizagem, por desistência dos envolvidos – criança, família, escola e sociedade.

   As manifestações na linguagem devem ser diagnosticadas por profissionais da área de linguagem – pedagoga(o), psicopedagoga(o), fonoaudióloga(o) ou psicanalistas. As descobertas dos profissionais da área médica são, “desajustamento”, “distúrbio emocional”, “hiperatividade”, “dislexia”, “apatia”, “disfunção cerebral mínima”, “agressividade”, “deficiência mental leve”, tantos outros rótulos que não resolvem as questões, e ainda,  produzem na criança comportamentos egocêntricos, onipotentes, indisciplinas, tristeza profunda e, a permanência no lugar de um sujeito que “não sabe” e “não pode aprender”. Essa diretriz pode ser responsável também pelo alto nível de evasão escolar na passgem do 5o. para o 6o. ano . O engano no diagnóstico pode ser um atestado de “incompetência” e irresponsabilidade. O mais danoso é que há uma grande demanda de crianças em tratamento medicamentoso em muitas Instituições, inclusive pública, quando as manifestações de hiperativide são respostas ao não estar inserido no grupo, ou seja, a criança diferente das outras, não está acompanhando o que está sendo transmitido. 
    No Brasil, as Escolas Públicas estão carentes desse profissional -, o(a) psicopedagoga(o),  que seria uma “solução nova” dos velhos  e chamados de "Problemas de aprendizagem" ou Fracasso Escolar.

    Sobre os problemas de aprendizagem, compartilho uma compreensão a partir da psicanálise. Nos meus atendimentos os chamados "problemas de aprendizagem" têm o mesmo estatuto de um sintoma analítico. Aponto três formas de apresentação da manifestação individual do "sintoma" apresentado pela criança ou jovem-, inibição cognitiva ou falta de conteúdo, dificuldades de linguagem e, na maioria dos casos não há desejo do próprio aluno por questões sociais, familiares, e,  às vezes, inconscientes. 
    Acredito que o “sintoma” toma forma no sujeito, afetando a dinâmica de articulação entre os níveis de sua inteligência, do seu desejo, do seu organismo e do corpo como um todo, levando-o a um "aprisionamento da inteligência"(termo de Alícia Fernandes) e, da corporeidade por parte da estrutura simbólica inconsciente. 
    Recorro a Lacan e ao próprio Freud para sustentar que a constituição do “sujeito”, - sua história de vida têm implicações na forma como ele aprende e, que não temos o domínio sobre o desejo do outro, mesmo que esse outro seja nosso filho, aluno. 
   Os chamados "problemas de aprendizagem" apresentados pelas crianças são tudo aquilo que perturba a normalidade do processo educativo, seriam as condições que não permitem ao sujeito o uso de suas potencialidades como desejado no meio escolar.  Os chamados "problemas escolares" estão ligados às questões sociais que permeiam a escolarização, tais como, desconhecimento dos professores sobre o que há de efetivo sobre as questões que envolvem o ensino e a aprendizagem; precariedade das escolas; currículos engessados; falta de atrativos e, a condição ambiental.
  Algumas manifestações são causadas por fatores orgânicos (dislalia - trocas de letras) e psicógenos  (problemas subjetivos). Outros fatores, e talvez os mais importantes sejam: a dificuldade de entendimento da população leiga sobre o que os meios de comunicação veiculam; o uso exagerado de rótulos infundados; o uso exagerado da tecnologia por crianças; a falta de informação e orientação no  meio privativo da criança; falta de organização e disciplina da família; falta de tempo da família para cuidar, observar os filhos,  e, na maioria, as condições precárias em que alguns vivem.  Muitas vezes, o aluno não se sente parte do contexto escolar -, a linguagem, o discurso escolar, as regras, a ordem e tudo que o cerca não lhes são familiares e, isso dificulta o acesso à cultura. 

                                   
Maria Teixeira
Psicopedagoga e, especialista em linguagem pela PUC/SP

m.teixeira@uol.com.br
www.psicopedagogamariateixeira.com.br

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