olaDesde
Freud, os psicanalistas têm feito esforços de interlocução com outros campos de
saber. Em relação à educação, a psicanálise tem sido convocada a explicar e
tratar os problemas que surgem no ambiente escolar. Muitos psicanalistas têm
enfrentado esse desafio e suas incursões têm produzido resultados. A
psicanálise foi incorporada por outro campo de saber ligado à educação, a
psicopedagogia, e tem sido utilizada pelos profissionais dessa área como
referência, às vezes central, para o reconhecimento dos sintomas e manifestações na aprendizagem.
Maria Teixeira
Psicopedagoga e, especialista em linguagem pela PUC/SP
m.teixeira@uol.com.br
Cabe aqui informar que diferentemente do que muitos pensam a
Psicopedagogia não é uma área nova. Os primeiros centros voltados para
atendimentos psicopedagógicos propriamente ditos surgem na França em
1946. A psicopedagogia recebe as influências desses primeiros movimentos
franceses que estavam já marcados por uma diversidade na compreensão dos
sintomas e dos tratamentos. Esses conhecimentos são levados à Argentina e, no
Brasil em 1954, organiza-se o primeiro curso de orientação psicopedagógica,
patrocinado pelo Centro de Pesquisas e Orientação Educacional, da
Secretaria de Educação de Porto Alegre. Há variedades de práticas, conceitos e
linhas de pesquisa de tratamento. No entanto, há um consenso quanto ao fato de
que a psicopedagogia deve-se ocupar-se em estudar a aprendizagem humana e,
todas as manifestações no processo de aprendizagem da criança através da
cooperação da Psicologia, Fonoaudiologia, Psicanálise e da Pedagogia. Ocupar-se
significa entender como funciona e intervir quando algo atrapalha o processo de
aprendizagem. Através dessa cooperação, espera-se adquirir um conhecimento
total da criança, do seu meio, do seu desejo o que se torna possível a
compreensão de cada caso para início das intervenções e, encaminhamentos,
quando necessários.
É muito comum psicólogo, médicos, neurologistas, psiquiatras e
psicanalistas receberem pacientes porque a escola lhes endereça um
encaminhamento, - "um pedido de tratamento". Nessas situações é possível observar a
seguinte afirmação: "[...] uma alta porcentagem de consultas é motivada,
ao que parece, por “distúrbios escolares”" (MANNONI, 2004, p. 39). Se isso
era verdade na França, anos atrás, também no Brasil encontramos afirmações
semelhantes: "diariamente, centenas de crianças e adolescentes são
encaminhados às clínicas psicológicas por apresentarem os chamados “problemas
de aprendizagem' ou “problemas de comportamento", com a hipótese de Hiperativdiade ou TDAH (SOUZA, 2005, p. 82). Os
trabalhos de Lopez, (1983), Silvares (2002), Romero e Capitão (2003),
Campezatto e Nunes (2007), Louzada (2003), Boarini e Borges (1998) apresentam
essa mesma realidade em diversos contextos no Brasil. É percebido as dificuldades comuns a alguns alunos como "um problema", e, a escola não sabe exatamente o que fazer e esses profissionais são convidados a
dizer e fazer algo.
Os chamados "Problemas, Distúrbios, transtornos de aprendizagem, têm sido os
nomes encontrados por profissionais da área médica para tentar falar do
que não corresponde ao esperado no desenvolvimento da criança (levando muitas
vezes em consideração, a sua idade cronológica). Neste sentido cada campo de
saber define a dificuldade de aprendizagem de um modo particular. Assim,
encontramos definições do DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das
Perturbações Mentais) e CID 10 (Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) de transtorno de
aprendizagem que indicam distúrbios na criança (e família) que manifesta os
sintomas. Também encontramos as criticas a esse tipo de diagnóstico,
explicitando o caráter socialmente construído do que é chamado de "distúrbio""
ou "transtorno de aprendizagem" por profissionais da área de saúde mental. A conseqüência
desse tipo de prática é a perpetuação de rótulos ou marcas que podem
inviabilizar a aprendizagem, por desistência dos envolvidos – criança, família,
escola e sociedade.
As manifestações na linguagem devem ser diagnosticadas por profissionais
da área de linguagem – pedagoga(o), psicopedagoga(o), fonoaudióloga(o) ou
psicanalistas. As descobertas dos profissionais da área médica são,
“desajustamento”, “distúrbio emocional”, “hiperatividade”, “dislexia”,
“apatia”, “disfunção cerebral mínima”, “agressividade”, “deficiência mental
leve”, tantos outros rótulos que não resolvem as questões, e ainda, produzem na criança comportamentos
egocêntricos, onipotentes, indisciplinas, tristeza profunda e, a permanência no
lugar de um sujeito que “não sabe” e “não pode aprender”. Essa diretriz pode ser
responsável também pelo alto nível de evasão escolar na passgem do 5o. para o 6o. ano . O engano no diagnóstico
pode ser um atestado de “incompetência” e irresponsabilidade. O mais danoso é
que há uma grande demanda de crianças em tratamento medicamentoso em muitas
Instituições, inclusive pública, quando as manifestações de hiperativide são respostas ao não estar inserido no grupo, ou seja, a criança diferente das outras, não está acompanhando o que está sendo transmitido.
No Brasil, as Escolas Públicas estão carentes desse profissional -, o(a) psicopedagoga(o), que seria uma “solução nova” dos velhos e chamados de "Problemas de aprendizagem" ou Fracasso Escolar.
No Brasil, as Escolas Públicas estão carentes desse profissional -, o(a) psicopedagoga(o), que seria uma “solução nova” dos velhos e chamados de "Problemas de aprendizagem" ou Fracasso Escolar.
Sobre os
problemas de aprendizagem, compartilho uma compreensão a partir da psicanálise.
Nos meus atendimentos os chamados "problemas de aprendizagem" têm o
mesmo estatuto de um sintoma analítico. Aponto três formas de apresentação da
manifestação individual do "sintoma" apresentado pela criança ou
jovem-, inibição cognitiva ou falta de conteúdo, dificuldades de linguagem e,
na maioria dos casos não há desejo do próprio aluno por questões sociais, familiares, e, às vezes, inconscientes.
Acredito que
o “sintoma” toma forma no sujeito, afetando a dinâmica de articulação entre os
níveis de sua inteligência, do seu desejo, do seu organismo e do corpo como um todo,
levando-o a um "aprisionamento da inteligência"(termo de Alícia
Fernandes) e, da corporeidade por parte da estrutura simbólica inconsciente.
Recorro a Lacan e ao próprio Freud para sustentar que a constituição do “sujeito”, - sua história de vida têm implicações na forma como ele aprende e, que não temos o domínio sobre o desejo do outro, mesmo que esse outro seja nosso filho, aluno.
Recorro a Lacan e ao próprio Freud para sustentar que a constituição do “sujeito”, - sua história de vida têm implicações na forma como ele aprende e, que não temos o domínio sobre o desejo do outro, mesmo que esse outro seja nosso filho, aluno.
Os chamados "problemas de aprendizagem" apresentados pelas crianças são tudo
aquilo que perturba a normalidade do processo educativo, seriam as condições
que não permitem ao sujeito o uso de suas potencialidades como desejado no meio
escolar. Os chamados "problemas escolares" estão ligados às questões sociais
que permeiam a escolarização, tais como, desconhecimento dos professores sobre o
que há de efetivo sobre as questões que envolvem o ensino e a aprendizagem;
precariedade das escolas; currículos engessados; falta de atrativos
e, a condição ambiental.
Algumas manifestações são causadas por fatores orgânicos (dislalia - trocas de letras) e psicógenos (problemas subjetivos). Outros fatores, e talvez os mais importantes sejam: a dificuldade de entendimento da população leiga sobre o que os meios de comunicação veiculam; o uso exagerado de rótulos infundados; o uso exagerado da tecnologia por crianças; a falta de informação e orientação no meio privativo da criança; falta de organização e disciplina da família; falta de tempo da família para cuidar, observar os filhos, e, na maioria, as condições precárias em que alguns vivem. Muitas vezes, o aluno não se sente parte do contexto escolar -, a linguagem, o discurso escolar, as regras, a ordem e tudo que o cerca não lhes são familiares e, isso dificulta o acesso à cultura.
Algumas manifestações são causadas por fatores orgânicos (dislalia - trocas de letras) e psicógenos (problemas subjetivos). Outros fatores, e talvez os mais importantes sejam: a dificuldade de entendimento da população leiga sobre o que os meios de comunicação veiculam; o uso exagerado de rótulos infundados; o uso exagerado da tecnologia por crianças; a falta de informação e orientação no meio privativo da criança; falta de organização e disciplina da família; falta de tempo da família para cuidar, observar os filhos, e, na maioria, as condições precárias em que alguns vivem. Muitas vezes, o aluno não se sente parte do contexto escolar -, a linguagem, o discurso escolar, as regras, a ordem e tudo que o cerca não lhes são familiares e, isso dificulta o acesso à cultura.
Maria Teixeira
Psicopedagoga e, especialista em linguagem pela PUC/SP
m.teixeira@uol.com.br
www.psicopedagogamariateixeira.com.br
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