O Objetivo do Blog

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A afetividade e o desejo no processo de aprendizagem

      A afetividade e o desejo pouco têm sido considerados e relacionados com o processo de ensino e aprendizagem. Isto porque a pedagogia tradicional, bem como algumas teorias psicológicas baseadas em uma visão dualista do homem tem considerado a aprendizagem como um processo exclusivamente consciente e que ocorre como um processo regular, como: andar, falar. Lêr e escrever é evocado pelo outro. A linguagem é um produto social adquirido na interação com quem quer ensinar-lhe algo. Ensinar é provocar o desejo do outro que elicia uma resposta a um determinado estímulo.
A importância dos fatores relacional e afetivo implicados no ato de ensinar e aprender muitas vezes é desconsiderada no processo de ensino e aprendizagem, bem como, a influência dos processos inconscientes na aquisição e elaboração dos novos conhecimentos. Outro fator  que não é considerado,  é que os processos são adquiridos pelo próprio aluno, e estão relacionados com o seu desejo.
  Contrariando esta corrente de pensamento, a psicanálise vem propor analisarmos e  discutirmos o processo de ensino e aprendizagem a partir de uma visão integral do  sujeito-aluno.
    O aprender implica o envolvimento com o ambiente, a empatia com o outro, condições essas, em que torna possível a evolução dos dois processos: ensino e aprendizagem.
 Nesta perspectiva, é considerar que a afetividade que se expressa na relação vincular entre aquele que ensina e aquele que aprende, que se  constitui elemento inseparável e irredutível das estruturas da inteligência. Ainda, que a apropriação do conhecimento que ocorre numa relação com o outro intervêm de processos conscientes e inconscientes entre quem ensina e quem aprende.
   Henri Wallon inovou esse pensamento ao colocar a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento humano. “Não há ato de ensinar-aprender sem a mediação concreta de sujeitos humanos, não havendo, portanto, relação ensino-aprendizagem sem que haja atuação indissociável entre inteligência, afetividade e desejo”.  E ainda, “Toda pessoa é afetada tanto por elementos externos - o olhar do outro, um objeto que chama a atenção, uma informação que recebe do meio - quanto por sensações internas - medo, alegria, fome - e, cada sujeito responde de uma forma, no seu tempo. Logo, não é inato. Essa condição humana recebe o nome de afetividade e é crucial para o desenvolvimento”.
O conceito por Wallon desenvolvido não é sinônimo de carinho e amor e, sim da forma como "afetamos" de forma positiva ou negativamente outra pessoa e como ela reage e é mobilizada aos nossos  estímulos. Na seqüência evolutiva do desenvolvimento psíquico da criança, alguns momentos se destacam de acordo com a linha estruturalista pela importância de suas conseqüências nessa forma de "afetar" o outro.
    A capacidade de representação adquirida com a aquisição da linguagem e do pensamento é um desses momentos principais da constituição do sujeito, pois, assim, como a psicanálise prevê, a criança é marcada desde muito cedo pela linguagem, pelo discurso da mãe, e é afetada pelo outro.  Mais tarde, é marcada e afetada na escola pelo discurso daquele que quer lhe ensinar algo. E esse processo não ocorre de forma linear. Cada criança é uma criança. Antes da criança aprender algo novo longe do seu lugar privativo, precisa vencer a alienação com a mãe, com seus objetos e atividades do dia a dia  para adquirir a independência para as atividades escolares e, também precisa ser "afetada" pelo novo contexto, sentir-se acolhida.  A superação da dependência dos pais é a primeira e grande desconexão do seu mundo particular para social. Nessa transição muitas confusões, medos e dúvidas são criadas na mente da criança e ela sofre com a separação, com o novo, com o desconhecido, por isso, necessita ser interpretada e traduzida novamente por outra pessoa.
No seu mundo particular da criança, a mãe surge como alguém que dá significados aos comportamentos, movimentos, sons e desejos. É nessa perspectiva que ela é humanizada. O mundo lhe é apresentado na escola, e a professora ocupa um lugar de descobridor de desejos, tradutor de sentimentos e emoções. Se afetada, a criança inicia o seu processo de desenvolvimento e gosto pelo aprendizado.
Muitas vezes, o desejo da criança ainda presa ao seu mundo privativo esbarra na demanda da mãe. O processo não ocorre de forma regular para todas as crianças. Logo, na escola a relação de significação da criança  com aquele que quer ensinar-lhe algo, vai depender do tipo de vínculo emocional existente,  de como essa professora vai "afetar" essa criança, pois é uma relação vincular entre os dois sujeitos que ocorre de forma simultânea, - o processo de ensino e aprendizagem.
Considerando que os pais representam as primeiras figuras que ensinam e que exercem grande influência sobre a criança, é importante que a criança perceba que há esforços desses em direção à sua autonomia para que tenha liberdade de pensar, agir  e se expressar sobre esse ingressar à escola. A escola ao receber essa criança, ainda insegura, precisa entender antes de tudo que ela precisa ser mobilizada e, essa relação precisa ser investida de amor para que a criança seja "afetada" por esse novo discurso e, assim, desenvolva o desejo de aprender, pois o aprender é desejo do próprio aluno e não temos o domínio sobre o desejo do outro.
                                     Maria Teixeira
                                    Psicopedagoga e especialista em Linguagem
                                    m.teixeira@uol.com.br

Publicações da autora: https://clubedeautores.com.br/books/search?utf8=%E2%9C%93&where=books&what=Maria+Teixeira&sort=&topic_id=
                                                                                       
                                  www.psicopedagogamariateixeira.com.br

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